COVID

Ômicron: com maior risco de infectar vacinados, subvariante BA.2 pode retardar declínio de casos

Especialistas acreditam que sua disseminação pode causar um pico mais alto de infecções em locais que ainda não atingiram o ápice da onda iniciada pela BA.1

A subvariante BA.2 da Ômicron é mais transmissível do que a mais comum, BA.1 - Pixabay

A BA.2, uma subvariante da Ômicron, acendeu o sinal de alerta na comunidade científica e nas autoridades de saúde. Isso porque ela parece ser mais transmissível que a BA.1, nome da versão original da Ômicron, e tem maior capacidade de infectar pessoas vacinadas, de acordo com um recente estudo dinamarquês.

Devido a essas características, especialistas acreditam que sua disseminação pode causar um pico mais alto de infecções em locais que ainda não atingiram o ápice da onda iniciada pela BA.1 e retardar o declínio de casos nos países que já atingiram o pico. 

 "A BA.2 se mostra ainda mais infectante e escapa das vacinas mais do que a Ômicron original. Seu avanço deve arrastar um pouco a onda que achávamos que iria cair tão rapidamente quanto subiu. Mas não vai haver um novo pico", diz o médico geneticista Salmo Raskin, diretor do Laboratório Genetika, de Curitiba. 

Na terça-feira, Boris Pavlin, da Equipe de Resposta à Covid-19 da Organização Mundial da Saúde, admitiu que a BA.2 está rapidamente substituindo a BA.1 e se tornando a cepa dominante, mas ressaltou que é improvável que ela cause um impacto "substancial". 

"Olhando para outros países onde o BA.2 está ultrapassando [a BA.1] agora, não estamos vendo nenhum aumento maior nas hospitalizações do que o esperado", explicou Pavlin em coletiva de imprensa.
 

Até o dia 30 de janeiro, a BA.2 representavam menos de 4% de todas as sequências de Ômicron disponíveis no principal banco de dados global de vírus. Mas ela foi identificada em 57 países e em alguns deles, como a Dinamarca, já é dominante. 

A BA.2 tem 32 das mesmas mutações da BA.1, mas também tem 28 que são diferentes. Alguns pesquisadores afirmam que as duas linhagens são tão diferentes que a BA.2 deveria receber um nome próprio e ser classificada como uma nova variante de preocupação e não como uma subvariante da Ômicron. 

"Ela é mais diferente da BA.1 do que a Alfa (primeira nova variante de preocupação) é diferente da sequência de Wuhan (cepa que deu origem à pandemia) . Isso significa que há uma chance de ela não ser mais considerada um subtipo da Ômicron e sim uma nova variante de preocupação, com uma denominação própria", explica Raskin. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS), responsável por essa classificação, ainda não deu indícios de que isso possa acontecer. 

Evidências mostram que a BA.2 não parece ser mais grave do que a versão original da Ômicron, chamada BA.1. Entretanto, um estudo feito na Dinamarca mostra que a subvariante é mais transmissível e tem maior capacidade de infectar pessoas vacinadas, do que a BA.1. A nova versão também tem o potencial de substituir a BA.1 globalmente.

"Concluímos que a Ômicron BA.2 é inerentemente substancialmente mais transmissível do que BA.1, e que também possui propriedades imunoevasivas que reduzem ainda mais o efeito protetor da vacinação contra infecções", escreveram os pesquisadores.

Embora seja considerada uma sublinhagem da Ômicron, a BA.2 tem inúmeras mutações diferentes da BA.1, incluindo na proteína Spike, utilizada pela SARS-CoV-2 para entrar nas células humanas e principal alvo das vacinas atuais. Outra característica interessante do subtipo é que ela não tem a mutação presente na versão original que possibilita identificar a Ômicron por meio do teste RT-PCR. Isso significa que só é possível saber se a infecção foi causada pela BA.2 por meio do sequenciamento genético do vírus.

Dados da Dinamarca, onde o sistema de rastreamento genômico é extraordinariamente robusto, indicam que a BA.2 pode ser 1,5 vezes mais transmissível do que BA.1. Em apenas seis semanas, a BA.2 se tornou a cepa dominante no país, superando a BA.1. Outro estudo, feito pela Agência de Segurança do Reino Unido (UKHSA), também encontrou maior transmissibilidade para BA.2 em comparação com BA.1.

As vacinas continuam a fornecer proteção contra as diferentes linhagens da Ômicron, em especial contra casos graves. No entanto, o estudo dinamarquês mostrou que a BA.2 foi relativamente melhor do que BA.1 em infectar pessoas vacinadas, incluindo aquelas que já receberam a dose de reforço, indicando maiores "propriedades imunoevasivas" da subvariante.

Por outro lado, o trabalho mostrou que pessoas vacinadas que foram infectadas pela BA.2 transmitem menos do que aquelas imunizadas que foram contaminadas pela BA.1. Além disso, de forma geral, indivíduos com duas ou três doses eram menos propensos a se infectar e transmitir qualquer subvariante, em comparação com aqueles não vacinados.

De acordo com o Ministério da Saúde, "até o momento, foram notificados dois casos da linhagem BA.2 da variante ômicron, no estado de São Paulo. As datas de coleta das amostras são de dezembro de 2021 e janeiro de 2022". Como o país sequencia pouco - apenas 0,5% dos casos positivos -, é provável que esse número seja maior.

Além do Brasil, a presença da sub-linhagem já foi confirmada em 57 países. Segundo Dados da OMS, a BA.2 já está se tornando dominante nas Filipinas, Nepal, Catar, Índia e Dinamarca. Em outros países como Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos, sua frequência está aumentando rapidamente.

Vírus estão em constante mutação, por isso, o surgimento de sub-linhagens são comuns na evolução viral. A variante delta, por exemplo, possui 200 subvariantes diferentes. O fato curioso sobre a Ômicron é que três linhagens distintas - além da BA.1 e da BA.2, há também a BA.3 - surgiram simultaneamente. Assim como a versão original, a origem da  BA.2 ainda é um mistério para a ciênciaa.

Uma das hipóteses para explicar o surgimento de três subtipos da Ômicron é que um único paciente, com uma infecção crônica, tenha permitido que o vírus sofresse mutações constantemente por muitos meses. Outras hipóteses apontam para Ômicron emergindo de infecções animais. Entretanto, o fato de existirem três linhagens distintas torna isso menos provável, já que precisaria haver três eventos separados de transmissão do vírus de animais para humanos, todos acontecendo na mesma época e no mesmo lugar

Os vírus estão em constante mutação e elas são aleatórias e imprevisíveis. Quanto maior a circulação, maior o risco de aparecerem novas variantes mais transmissíveis, mais resistentes às vacinas e potencialmente mais letais.

À medida que a Ômicron continua a se espalhar, autoridades de saúde acreditam que o surgimento de uma variante mais transmissível é apenas uma questão de tempo. do que o omicron.

"A próxima variante de preocupação será mais transmissível porque terá que ultrapassar a que está circulando atualmente", disse Maria Van Kerkhove, líder técnica da Covid-19 da OMS. "A grande questão é se as variantes futuras serão ou não mais ou menos severas", conclui.

Daí o apelo de médicos e pesquisadores para que as pessoas se vacinem e mantenham os cuidados de proteção individual, como uso de máscara, distanciamento e higienização das mãos.