Caso Moïse: advogados de empresário se contradizem sobre relação de congolês com quiosque
A família do congolês afirma que ele prestava serviços para o Tropicália pontualmente, servindo clientes nas areias da Praia da Barra
Dois dos advogados que representam o dono do Quiosque Tropicália, onde Moïse Mugenyi Kabagambe foi espancado até a morte no último dia 24, oferecem informações conflitantes sobre a relação do congolês com o estabelecimento.
Euclides de Barros e Darlan Almeida estiveram nesta quarta-feira na Delegacia de Homicídios da Capital (DH), que investiga o caso, e, ao deixar o local, descartaram qualquer envolvimento do empresário Carlos Fabio da Silva Muzi com o crime. A defesa do comerciante, contudo, não soube explicar com clareza quando nem por quanto tempo Moïse efetivamente trabalhou no local.
A família do congolês afirma que ele prestava serviços para o Tropicália pontualmente, servindo clientes nas areias da Praia da Barra, e que Moïse esteve no quiosque na noite em que foi morto para cobrar valores devidos pelo proprietário. Já os advogados negam a existência de qualquer pendência financeira.
"Ninguém sabe como começou essa história de dívida, mas isso não existe. Até porque a vítima não estava trabalhando lá", assegurou Darlan Almeida.
Em seguida, os dois defensores do empresário foram perguntados sobre quando, então, Moïse prestou serviços no local. Euclides de Barros, em um primeiro momento, assegurou que o congolês ja não trabalhava para o quiosque "há mais de um ano". O segundo advogado, porém, tomou novamente a palavra, modificando o discurso:
"Nos dias anteriores ao ocorrido ele não estava trabalhando no quiosque", frisou Darlan, que se recusou a esclarecer a que período se referia ao utilizar a expressão "dias anteriores": "Isso não é objeto do fato em si. Não vamos tratar desse assunto."
Ao prestar depoimento na condição de testemunha, Carlos Fabio da Silva Muzi contou que um dos três presos pelo crime chegou a ligar para ele, pouco depois da morte de Moïse, relatando o que havia acontecido e perguntando se as câmares do quiosque "estavam gravando". Fábio Pirineus da Silva ainda não sabia, mas ele havia sido flagrado nos vídeos, junto com Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca e Brendon Alexander Luz da Silva, agredindo a vítima com socos, chutes e até pedaços de pau. O comerciante disse aos investigadores que, desconfiado da pergunta, respondeu a Fabio Pirineus que os equipamentos não estavam funcionando, e o rapaz demonstrou estar "aliviado".
Ainda de acordo com o depoimento, ao qual O Globo teve acesso, Carlos Fabio afirmou que comprou o Quiosque Tropicália em janeiro de 2019 de seu antigo proprietário, mas só há seis meses transferiu a propriedade, a colocando em nome de seu sogro, Arnaldo Monteiro de Almeida. O empresário explicou que fez isso porque o sogro o ajudou financeiramente com os custos burocráticos da transferência, mas acrescentou que somente ele é o responsável pelo dia a dia do estabelecimento
O empresário contou ainda que, assim como na maior parte dos quiosques da praia, lá não há funcionários fixos, atuando todos de forma temporária e recebendo pelos serviços por comissão. Ele relatou conhecer Moïse desde 2019 e que ele costumava aparecer na região no período de alta temporada, para trabalhar como "freelance".
Advogados relatam ameaças
Os advogados do comerciante afirmaram que, ao visitar a DH nesta quarta-feira, comunicaram à polícia sobre ameaças que a família do dono do quiosque vem recebendo desde que o caso veio à tona. Segundo a defesa do empresário, a denúncia sobre esses ataques ainda não foi formalizada porque ainda há "algumas diligências" pendentes.
— Se todos aqui lutam por direitos humanos. Se todos aqui lutam pelos direitos das pessoas, seja lá quem for, estrangeiros ou não. Por gentileza, nos ajude. Porque a família é totalmente inocente. Ela foi arrolada em uma coisa sem ter nada a ver, e está sofrendo ameaças. Tem pessoas influentes no mundo digital pedindo para tacar fogo no patrimônio da família. Isso é inadmissível. Como vamos combater violência com mais violência? — questionou o advogado Euclides de Barros, que prosseguiu: — Essa família é tão ser humano quanto o Moïse e a família dele. Infelizmente, aconteceu isso e ele não vai poder voltar. Mas essa família também está sofrendo.