Moro coloca na coordenação da campanha advogado e braço-direito novato na política
Luis Felipe Cunha atuará com o time de comunicação de Moro, montará a equipe jurídica do candidato e, principalmente, fará a ponte com os empresários que possam virar doadores
Enquanto candidatos à Presidência costumam entregar a coordenação da campanha a políticos experientes, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro delegou a tarefa a um advogado de Curitiba, amigo de longa data e que não tem trajetória partidária.
No cargo de coordenador-executivo da campanha de Moro, Luis Felipe Cunha atuará com o time de comunicação do ex-juiz da Lava-Jato, montará a equipe jurídica do candidato e, principalmente, fará a ponte com os empresários que possam virar doadores.
Moro e Luis Felipe foram apresentados por colegas em comum no meio jurídico da capital paranaense e se tornaram amigos "há alguns anos”. O advogado defendeu Moro em ações cíveis, como um processo em que pedia à Justiça para retirar do ar um vídeo feito pelo canal Terça Livre, do blogueiro Allan dos Santos, investigado no inquérito das fake news que corre no Supremo Tribunal Federal (STF).
Nascido em São Paulo e palmeirense fanático, tido como "workaholic, metódico e organizado" por outros integrantes da campanha, o advogado tem acompanhado Moro em suas agendas públicas. Para pessoas próximas, o ex-juiz diz que "falar com o Felipe é a mesma coisa que falar comigo".
Apesar do cargo que ocupa na pré-campanha, o advogado ainda é pouco conhecido no meio político, mesmo por figuras importantes do partido, como o senador Álvaro Dias, a quem foi apresentado em dezembro, durante uma viagem a Porto Alegre. Há episódios em que sua figura passa despercebida em meio a nomes mais conhecidos da política nacional.
O advogado nega pretensões políticas no futuro. Durante a campanha, as negociações com outros partidos em busca de apoio ficam a cargo da presidente do Podemos, Renata Abreu. Por isso, para pessoas próximas à campanha, apesar do cargo de coordenador-executivo, Luis Felipe deve ter uma função mais próxima de um chefe de gabinete, cuidando de questões burocráticas e mais executivas do que políticas.
"Ele é muito idealista. Um grande técnico e, ele não sabia, mas um grande político também", diz Renata.
Cunha se especializou no contencioso de massa — uma espécie de “linha de produção” do direito, em que o escritório cobra um valor baixo para resolver um volume grande de casos. Há cerca de cinco anos, sua banca defende a Petrobras, estatal que esteve no centro das investigações da Operação Lava-Jato, comandada por Moro. A banca atua em processos trabalhistas e que envolvem danos ambientais da petrolífera.
Braço direito do ex-ministro de Bolsonaro, Cunha afirma que nunca atuou em processos da estatal na área criminal, onde correram os processos da Lava-Jato, e que todos os contratos que ganhou foram vencidos por apresentar o menor preço via licitação pública, da qual participaram outras bancas de advocacia. Segundo ele, isso afasta qualquer conflito de interesses entre sua atuação como advogado e como coordenador da candidatura do ex-juiz.
"Evidentemente, não há qualquer vínculo ou conflito com minha a minha atuação profissional neste momento ", disse o advogado, acrescentando que seu escritório é qualificado para atuar nessas ações.Sobre a possibilidade de que o seu trabalho para a Petrobras seja usado por adversários de Moro na campanha ao Planalto, Luís Felipe afirma que é possível haver crítica “infundada, equivocada ou dolosamente distorcida", mas que não tem receio algum.
"Como a verdade está ao meu lado, e não devo nada a ninguém, não tenho qualquer receio acerca do fato de ser um prestador de serviços para a Petrobras."
Ao longo da atuação como juiz, Moro julgou processos em que entendeu haver mau uso do financiamento de campanhas. Luís Felipe, no entanto, acredita ser possível ter uma relação correta com os empresários.
"Vamos tomar medidas básicas e eficientes para evitar desvios. Utilizaremos auditoria externa independente e controles contábeis rígidos envolvendo o uso do dinheiro público", disse o advogado.
O coordenador declara nunca ter se filiado a partido político. Apesar de não gostar de “autodeterminações ideológicas”, afirma se identificar com o liberalismo econômico e ideais conservadores da centro-direita. O posicionamento vai ao encontro com os mais recentes posicionamentos do ex-ministro, que, em aceno ao eleitorado conservador, tem reafirmado compromissos como o combate à ideologia de gênero e políticas pró-aborto.Luís Felipe avalia que um dos principais desafios na campanha será combater informações falsas “geradas e difundidas pelos adversários e seus apoiadores”. — Por outro lado, temos que andar para frente e nos concentrar na elaboração de nossas propostas para o país.
O deputado Arthur do Val (Podemos), pré-candidato ao governo de São Paulo, diz que o coordenador-executivo é "bem parecido" com o Movimento Brasil Livre (MBL), cujos principais integrantes se filiaram ao Podemos na semana passada:
"É um cara bem dinâmico, aceita uma campanha mais arrojada", afirma o pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes. "E gosta bastante do nosso estilo. Foi convergência total."