No Distrito Federal, coronavírus contamina 50 profissionais de saúde por dia e já pressiona SUS
Os dados foram compilados pelo Globo com base em informes diários da Secretaria de Saúde do DF
Impulsionada pela variante ômicron, a nova onda da Covid-19 estourou com força no Distrito Federal. De 1º de janeiro a 2 de fevereiro, foram 1.666 registros de trabalhadores da área contaminados — uma média de 50 por dia. Os dados foram compilados pelo Globo com base em informes diários da Secretaria de Saúde do DF.
A pressão no SUS hoje ocorre tanto nos estabelecimentos chamados de porta de entrada do sistema, como as Unidades de Pronto Atendimento (UPA), e também nas UTIs, que já registraram em Brasília 100% de ocupação neste ano.
O reflexo é a piora do atendimento, inclusive para pacientes com outras doenças além da Covid-19. Antonio Donato da Silva, pedreiro de 52 anos, chegou no dia 14 de dezembro no Hospital Regional do Gama, a 35 km de Brasília, com o coração disparando, queimação no corpo e mal-estar. Desde então internado, conta que já fez dois exames fora da unidade, pagando do próprio bolso, e chegou a comprar remédio. Ao falar com a reportagem, no último dia 25, estava há nove dias sem qualquer visita médica.
"Sempre dizem que talvez o médico vem hoje. A gente espera, espera, espera, e nada. Tem hora que passo muito mal, aí alguém vem, mede minha pressão, e eu tomo remédio para controlar", conta Silva.
Secretário-geral do Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal, Jorge Henrique Filho relata sobrecarga em unidades públicas de saúde da cidade visitadas recentemente pela entidade e relatos de horas de espera também na rede privada.
"A fila para atendimento está enorme porque há muitos profissionais com atestado médico por Covid, influenza. Em UPA, há pacientes internados, muitas vezes em cadeiras, em espaços onde não deveria ter ninguém, como as salas de medicação", conta.
Para o presidente da Federação Nacional do Médicos e do sindicato da categoria no DF, Gutemberg Fialho, o governo local não contrata profissionais em número adequado para prestar a assistência necessária e ainda tem deixado de fornecer equipamentos de proteção individual diante do aumento de casos da Covid-19: "O quadro é de caos. Não tem capote, álcool gel, faltam leitos de UTI, os profissionais estão adoecendo."
A Secretaria de Saúde do DF informou que nomeou 362 técnicos de enfermagem para atuarem na linha de frente da pandemia na última terça-feira, além de ter admitido médicos e enfermeiros em janeiro de 2022.