RIO DE JANEIRO

Caso Moïse: embaixador brasileiro no Congo que a morte 'está sendo usada para provocar reação'

O embaixador brasileiro na nação africana visitou o Ministério das Relações Exteriores congolês e se reuniu com autoridades do país

Moïse Mugenyi Kabagambe - Reprodução / Agência O Globo

A morte brutal de Moïse Mugenyi Kabagambe, linchado por pelo menos três homens — todos presos — em um quiosque na Barra da Tijuca, também repercute na República Democrática do Congo, país natal do jovem de 24 anos. Na última quinta-feira, André Luiz Azevedo Dos Santos, embaixador brasileiro na nação africana, visitou o Ministério das Relações Exteriores congolês e se reuniu com autoridades do país. Após o encontro, declarações de Azevedo dos Santos sobre o caso foram reproduzidas na imprensa local:

— Infelizmente, nós temos no Brasil uma situação de violência muito grave. Eu penso que essa tragédia é utilizada um pouco para provocar uma reação da sociedade brasileira, uma reação mais forte contra a violência — afirmou o embaixador, em francês, um dos idiomas oficiais do Congo.

A reportagem do portal "Politico.CD" — que anuncia a cobertura das "atualidades da República Democrática do Congo em tempo real" — sobre a visita de Azevedo dos Santos aos ministério destaca vários pontos do caso. "A família do jovem disse que o espancamento ocorreu depois que Moïse Kabagembe insistiu de seu empregador receber um pagamento atrasado, tendo trabalhado dois dias no bar, na cidade litorânea do Rio de Janeiro", explica o texto.

Mais à frente, a matéria frisa que o congolês foi morto no "bairro nobre da Barra da Tijuca" e que os agressores utilizaram até mesmo um taco de beisebol, além do fato de que ele teve pés e mãos amarrados. "Um deles sentou-se sobre a cabeça da vítima por vários minutos e, ao perceber que ela não estava mais lutando, moveu-se para tentar ressuscitá-lo em vão", avança o site de notícias.
 

Em uma reportagem anterior sobre o caso, mais detalhada, o portal havia citado a comoção no Brasil gerada pelo linchamento de Moïse. No texto, foi feita até uma menção a uma postagem de Caeteano Veloso no Twitter. "Perante à situação, nas redes sociais muitas personalidades condenaram o crime. Uma delas foi o cantor brasileiro Caetano Veloso, que declarou: 'Chorei hoje ao ler a história do assassinato de Moïse Mujenyi Kabagambe. O fato de o quiosque se chamar Tropicália só acentua minha dor'".

O jornalista Stéphie Mukinzi, redator-chefe do "Politico-CD", também divulgou informações sobre a morte de Moïse em suas redes sociais. Em uma das mensagens, ele compartilhou a postagem do GLOBO com o vídeo que flagrou o ataque. "Um jovem congolês foi morto friamente em uma praia brasileira. Amarrado, foi copiosamente espancado até a morte por reivindicar pagamentos atrasados. Seus carrascos já estão presos. As imagens podem chocar", escreveu Mukinzi.

A visita do embaixador brasileiro às autoridades congolesas também foi assunto nas principais emissoras do país. A RTNC, canal controlado pelo governo, dedicou cerca de um minuto e meio ao tema em seu principal telejornal noturno, o "Le Journal". A concorrente B-One Télévision, rede que inclui canal de TV e emissoras de rádio, exibiu programação semelhante, com duração próxima. Ambas, porém, exibiram apenas uma foto de Moïse ao fundo, sem maiores detalhes sobre o caso, dando foco maior no encontro diplomático.

Já o portal congolês Actualite, embora não tenha reproduzido a fala do embaixador brasileiro, também publicou uma ampla reportagem a respeito da morte de Moïse ao longo da última semana. Sob o título "Forte comoção após morte de congolês no Rio", o texto esmiuça o "assassinato brutal de um jovem da República Democrática do Congo" no Brasil. Após destrinchar o episódio, a matéria lembra que o crime "provocou indignação" e que "celebridades prestaram homenagens". O site citou, entre outros tributos, uma postagem de "Gabigol, atacante do Flamengo, o clube de futebol mais popular da cidade": "Não é o Rio que aprendi a amar e que me recebeu de braços abertos".

A morte de Moïse também vem sendo constantemente noticiada em outros veículos estrangeiros. A CNN, por exemplo, destacou: "A discriminação racial segue presente em muitas partes do Brasil, onde afrobrasileiros são frequentemente alvos de ataques por motivos raciais". Já o jornal americano Washington Post afirmou: "Mesmo em um país acostumado a episódios aleatórios de extrema violência, a selvageria do espancamento deixou muitos brasileiros chocados e sem respostas". Na Europa, o tabloide britânico Daily Mail frisou que "a Human Rights Watch disse que o assassinato violento de Kabagambe 'merece o mais absoluto repúdio da sociedade brasileira', pois ocorre em um contexto de aumento da violência contra os negros no Brasil". O caso também teve destaque em países como Portugal, Alemanha e França, entre vários outros.