'Kit Covid': 'Insensatez', diz presidente da Associação Médica Brasileira sobre protocolo da Saúde
Em documento endossado pela instituição, especialistas solicitam a revogação de portaria da pasta que inclui tratamento com cloroquina
Um grupo de médicos liderado pelo pneumologista Carlos Carvalho, professor da USP, protocolou nessa sexta (4), no Ministério da Saúde, um recurso em que solicitam a revogação da portaria que rejeitou o protocolo contra o uso do 'kit Covid'.
O documento, endossado pela Associação Médica Brasileira (AMB), também pede a publicação do protocolo redigido pelo mesmo grupo e aprovada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), que traz orientações sobre o tratamento da Covid-19, com base nas melhores evidências científicas disponíveis.
Em entrevista ao Globo, o médico César Eduardo Fernandes, presidente da AMB, disse que o documento enviado ao Ministério da Saúde pelos especialistas é robutos. Em mais de cem páginas, eles contestam com evidências científicas "ponto a ponto" das argumentações do secretário Angotti.
— O protocolo assinado por Angotti diz que o 'kit covid' tem evidência científica de eficácia e segurança e, de maneira irresponsável, inclui as vacinas como uma estratégia sem evidência de segurançaa e eficácia. É uma inversão completa do conhecimento científico e insensatez. Isso causou uma indignação na classe médica e das pessoas que foram convidadas pelo ministro Queiroga para ajudar a escrever esse documento — afirma Fernandes.
Para o presidente da AMB, a insistência no uso do 'kit Covid' em 2022 é absurda.
— Em março de 2020, esse documento poderia ser aceito e fazer sentido. Não havia nenhum tratamento disponível para Covid-19 e ainda não havia evidências se os medicamentos do 'kit Covid' funcionavam. Hoje o cenário é muito diferente. É absurdo insistir nisso. Essa discussão continua só no Brasil e é até motivo de chacota em outros países. — diz Fernandes.
Enquanto o governo insiste em tratamentos contra a Covid-19 sem eficácia comprovada, o número de casos explode no país, assim como o número de óbitos. Na sexta-feira, o Brasil voltou a registrar mais de 1 mil mortes por Covid-19 em um único dia. A última vez que isso aconteceu foi em 19 de agosto. Na mesma data, o país também registrou 219.298 casos da doença.
— Estamos praticamente no terceiro ano, com um número explosivo de caso. Esse alto número de infecções também significa muitos óbitos. A situação é gravíssma e o Ministério da Saúde segue à deriva. Até hoje o Brasil não tem nenhum protocolo oficial aprovado para tratamento ambulatorial e hospitalar, que é o que a versão original do documento [rejeitada por Angotti] propõe — critica Fernandes.
Em relação à autonomia médica, citada pelos defensores do 'kit Covid' como justificativa para permitir a prescrição desse tratamento com base na ideia de que o médico tem autonomia para decidir qual é a melhor terapia para seu paciente, Fernandes ressalta que "autonomia não é um chque em branco".
— O médico tem sim autonomia para decidir o tratamento do paciente, mas essa escolha deve ser feita entre as melhores opções de tratamento, não para praticar um procedimento sem eficácia e segurança comprovada — conclui o presidente da AMB.