Em guerra com Jefferson, direção do PTB pede anulação de atos atribuídos ao ex-presidente do partido
Mas nega que tenha pedido a volta dele da prisão, 'farsa' que estaria circulando com o objetivo de inviabilizar a administração da atual presidente, Graciela Nienov
A briga pelo comando do PTB, opondo de um lado o ex-deputado e ex-presidente da legenda Roberto Jefferson, e do outro a atual presidente, Graciela Nienov, ganhou um mais um capítulo. Ela apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de anulação de medidas que estariam sendo articuladas por Jefferson e pelos aliados dele, como a convocação de novas eleições partidárias e a dissolução da direção do partido no Ceará. S
egundo o grupo ligado a Graciela, o ex-presidente do PTB estaria descumprindo decisões anteriores do STF, como a que o afastou do comando da legenda e a que o proibiu de qualquer comunicação exterior durante a prisão domiciliar.
O documento foi encaminhado na noite de sexta-feira ao ministro Alexandre de Moraes, que foi quem determinou tais medidas no passado. Neste sábado, um aliado de Graciela com cargo de comando no partido soltou nota dizendo que está cirulando a informação falsa de que, no pedido ao STF, teria sido solicitada a volta de Jefferson à prisão. Segundo o texto, "é uma farsa que tem por objetivo tensionar o ambiente interno e inviabilizar a administração de Graciela Nienov".
Em agosto do ano passado, Moraes determinou a prisão preventiva de Jefferson, que havia se aliado ao presidente Jair Bolsonaro, por suposta participação em uma organização criminosa digital montada para ataques à democracia. No mês passado, Moraes converteu a prisão preventiva em domiciliar.
"O pedido é apenas para que o STF restabeleça a ordem e garanta aos novos dirigentes do PTB o direito de exercer livremente as funções administrativas do partido. Graciela Nienov foi eleita democraticamente na Convenção Nacional do PTB há dois meses e nesta condição tem o direito e o dever de exercer plenamente as funções inerentes ao cargo", diz trecho da nota, assinada pelo deputado estadual Rodrigo Valadares (PTB-SE), que é o secretário de Finanças do partido e aliado de Graciela, acrescentando: "A produção de mentiras, a disseminação de ameaças e a violência não devem ser usadas como método de ação politica."
No documento enviado ao STF, o partido informou que, a partir de 29 de janeiro, começou a circular na imprensa e em grupos de Whatsapp ligados ao partido a informação de que Jefferson teria sido "traído" e "receberia a demissão" de Graciela, que tinha sido sua aliada. Segundo o texto, o que ocorreu na verdade é que, após a decisão de Moraes afastando Jefferson, ele foi substituído definitivamente em eleição realizada na convenção nacional do PTB. Na ocasião, Graciela tomou posse para comandar o partido até novembro de 2025.
Também de acordo com esse documento, Jefferson e os aliados dele teriam desrespeitado a decisão de Moraes que o proibiu de qualquer comunicação exterior durante a prisão domiciliar. Isso teria ocorrido, por exemplo, por meio de mensagens em grupos de Whatsapp e pela entrega de uma carta a seu advogado, na qual Jefferson disse ter sido traído por Graciela.
"Percebe-se, Excelência, que, seja pela carta assinada por Roberto Jefferson, seja pela dissolução sumária de comissões provisórias instituídas em conformidade com o Estatuto do PTB, seja pelas mensagens em aplicativo de conversas contendo, por interpostas pessoas, direcionamentos a correligionários, o ex-presidente do PTB vem, reiteradamente, descumprindo as decisões de Vossa Excelência, nas quais objetivava fazer cessar os atos antidemocráticos do ex-presidente do PTB, que se utilizava da estrutura partidária para atingir seus objetivos", diz trecho do documento enviado ao STF pelo grupo de Graciela.
E faz outra acusação contra o ex-presidente do partido: "Se não bastasse, o grupo de Roberto Jefferson está divulgando fake news em blogs e na grande mídia, a exemplo de roubo de computadores pela presidente do PTB e a informação absurda de que Graciela teria recebido R$ 30 (trinta milhões de reais) para vender a legenda a outro dirigente partidário."
Na última quarta-feira, Graciela Nienov já tinha vindo a público para dizer que nem ela nem os seus aliados "roubaram" equipamentos da sede nacional do partido, na Asa Norte, em Brasília. As acusações foram feitas por adversários petebistas, entre eles a filha de Jefferson Cristiane Brasil, que se revoltaram com o fato de Nienov ter ido ao prédio para pegar o seu notebook pessoal e algumas pastas, na terça-feira. Nas redes sociais, eles escreveram que a presidente do partido "invadiu" a sede com o objetivo de "ocultar provas" contra ela.
Graciela e seus aliados aproveitaram o pedido feito à Corte para dizer que "não compactuam com ataques desmedidos ao judiciário e aos seus integrantes, frisando o decoro e lisura que representantes eleitos devem manter numa república".