Covid-19

Acabei de ter Covid. Preciso tomar a dose de reforço? Quando?

Entenda por que a terceira dose é importante e o melhor momento de recebê-la

Vacinação contra a Covid-19 - Leandro de Santana/PJG

Milhões de pessoas que tiverem Covid-19 recentemente podem ter novas perguntas sobre sua imunidade. Se ainda não receberam uma dose de reforço, precisam de uma? E qual é o momento ideal para buscá-la?

As autoridades de saúde continuam recomendando que todos sejam vacinados e reforçados, independentemente de terem tido Covid-19 no passado. Mas a cada 100 brasileiros, apenas 23,7 receberam a terceira dose. Aqui está o que sabemos. 

A maioria dos especialistas concorda que as vacinas podem oferecer um impulso imunológico mais confiável e eficaz do que uma infecção natural. 

Quando você é infectado pelo Coronavírus, seu sistema imunológico monta uma série de respostas que aumentam as defesas do corpo contra futuras infecções. Uma das melhores maneiras de os cientistas saberem como medir essa resposta é observar quantos anticorpos você produziu. Em geral, as pessoas que foram infectadas com o Coronavírus tendem a ter níveis mais baixos de anticorpos do que aquelas que foram vacinadas, disse Aubree Gordon, epidemiologista da Universidade de Michigan

Uma das razões para essa diferença é que as infecções desencadeiam muitas partes diferentes do sistema imunológico, e o tamanho da resposta do anticorpo dependerá de fatores como a quantidade de vírus que você inalou, se você tem condições médicas subjacentes e a gravidade de seus sintomas. "Você pode ter um nível alto se estiver doente ou doente por mais tempo", diz Gordon. “Mas ainda será menor do que vemos com a vacina”.

As vacinas fornecem um conjunto personalizado de instruções para o sistema imunológico usar na ausência de distrações, como uma infecção ativa, explica Paul Thomas, imunologista do St. Jude Children’s Research Hospital, em Memphis. E a maioria das pessoas que são vacinadas desenvolve uma resposta de anticorpos forte e previsível. Uma injeção de reforço lembra o corpo de aumentar suas defesas — ainda mais rápido do que a primeira ou a segunda dose — em questão de dias. 

Estudos também sugerem que os anticorpos produzidos após a vacinação tendem a permanecer em níveis protetores por mais tempo

“Acho que esse é o maior argumento para obter um reforço, francamente, mesmo que você tenha tido uma infecção recente”, disse Amy Sherman, médica de doenças infecciosas do Brigham and Women’s Hospital, em Boston. “É uma maneira infalível de dar mais proteção e garantir que seu sistema imunológico produza respostas de pico.” 

Não existe uma regra rígida e rápida sobre quando agendar uma dose de reforço depois de ter Covid-19 e as regras variam de acordo com o país. O momento ideal dependerá das circunstâncias individuais, incluindo a gravidade da sua doença, há quanto tempo os sintomas foram resolvidos e qual é o risco de reexposição.

No Brasil, nota técnica emitida pelo Ministério da Saúde recomenda que as pessoas que foram infectadas com o SARS-CoV-2 adiem a vacinação até a recuperação total. A orientação da pasta é aguardar pelo menos quatro semanas após o início dos sintomas ou quatro semanas a partir da primeira amostra de PCR positiva em pessoas assintomáticas. 

De acordo com o infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do departamento de Infectologia da Unesp, o principal é esperar a infecção se resolver, ou seja, passar pelo menos 14 dias. A decisão de estender esse período está relacionada ao fato de que nunca foi registrado um caso de reinfecção menor do que um mês. 

Nos EUA, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA recomendam esperar pelo menos até que você não tenha mais sintomas e atenda aos critérios para encerrar o isolamento. Significa que, se você teve uma infecção leve, já se passaram pelo menos sete dias desde que seus sintomas começaram, seus sintomas estão melhorando e você está sem febre há pelo menos 24 horas sem a ajuda de medicamentos. 

Mas os cientistas recomendam adiar seu reforço por mais tempo. Ali Ellebedy, imunologista da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, disse que pode fazer sentido esperar até que você esteja totalmente recuperado ou possa obter um PCR negativo

“Você simplesmente não quer sobrecarregar seu sistema”, disse Ellebedy. Deixe seu sistema imunológico descansar depois de combater o coronavírus e antes de pedir para aumentar novamente o trabalho com a vacina. Isso também permitirá uma resposta mais refinada e durável, afirma. 

E para alguns, acrescenta Ellebedy, pode haver um benefício em esperar ainda mais. Se o risco de reinfecção for baixo — por exemplo, se você trabalha remotamente, geralmente é saudável e pode aderir às diretrizes de saúde pública para usar máscara e fazer distanciamento social — pode fazer sentido esperar até que sua imunidade natural diminua, o que pode ocorrer até três meses após uma infecção, antes de receber o reforço, disse ele. Isso não apenas ajudará a produzir uma resposta de anticorpos mais robusta, mas quando você estiver pronto para ser reforçado, poderá até haver uma versão mais recente da vacina disponível que funcionará especificamente contra o Ômicron. Embora não haja previsão para a chegada de novas vacinas no Brasil.

Claro, adiar um reforço não é a opção certa para todos. Se você tem um alto risco de reinfecção ou doença grave – seja por causa de sua idade, condições médicas, um sistema imunológico enfraquecido ou porque você mora ou trabalha em um ambiente que aumenta sua probabilidade de exposição – então pode querer aumentar sua imunidade com uma dose extra de vacina mais cedo, acrescentou Ellebedy. Obter seu reforço mais cedo também pode estender a proteção a familiares vulneráveis e crianças que são muito jovens para receber a vacina. 

E, claro, a maioria dos especialistas concorda que, se já se passaram mais de cinco ou seis meses desde que você contraiu o Covid-19 e ainda não recebeu o reforço, deve fazê-lo assim que possível. 

“O booster fornece ajuda real para evitar que você contraia Ômicron”, disse o Thomas. “E há tanta Ômicron por aí agora que, se você ainda não teve a doença, esta é a chance de evitá-la.” 

Segundo o infectologista e pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, reforça que não há risco se a pessoa tomar a vacina estando doente.   

"É importante deixar claro que numa campanha de vacinação dessas acabamos vacinando um monte de gente que está com Covid e não sabe. Assintomáticos, adultos e crianças que são vacinados e no dia seguinte descobrem que estão com Covid. A vacina não piora nem melhora a evolução da doença. O cuidado é só para não ter reação da vacina, ficar na dúvida se é recaída, ou piora da doença. Até porque quem teve doença não corre risco de reinfecção em menos de um mês, então não tem pressa de ser vacinado".