'Fome', 'combustíveis' e 'corrupção': as palavras mais usadas pelos pré-candidatos nas redes sociais
Levantamento indica temas que Lula, Bolsonaro, Moro, Ciro e Doria devem explorar ao longo da campanha
As publicações feitas pelos pré-candidatos à Presidência no Twitter no primeiro mês do ano eleitoral já dão uma amostra de quais devem ser os principais temas das campanhas. Levantamento feito pelo Globo nas redes sociais dos cinco nomes mais bem colocados nas pesquisas mostra quais são os assuntos que aparecem com mais frequência nos discursos dos presidenciáveis.
Na plataforma do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a temática da fome foi predominante em janeiro. Em publicações sobre o aumento da insegurança alimentar no Brasil, situação que atinge 116 milhões de brasileiros, o ex-presidente aproveitou para lembrar um dos carros-chefes de seu governo: o programa Fome Zero. Outro ativo explorado foi a saída do país do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2014, durante o governo de Dilma Rousseff (PT).
Com 48% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha, divulgada em dezembro, Lula direcionou suas críticas no início do ano eleitoral a Bolsonaro, que tem 22% da preferência. Das 14 vezes em que escreveu “governo”, seis foram para condenar a política econômica de Bolsonaro, o aumento dos preços da gasolina e do gás de cozinha e o negacionismo na pandemia.
As demais mensagens, em sua maioria, falam sobre marcas das gestões petistas e acenam para temas como educação, emprego e saúde.
O Twitter do presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou os holofotes para as ações do governo nas áreas de Infraestrutura e Desenvolvimento Regional, em que ele destaca desestatizações, obras para levar água à região Nordeste e entregas como a ponte que liga o nordeste de Mato Grosso até Uruaçu (GO).
Ao todo, são doze menções para as pastas comandadas por Tarcísio Freitas, provável candidato do Planalto ao governo de São Paulo, e Rogério Marinho (PL), que deve disputar o governo ou o Senado pelo Rio Grande do Norte. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, aparece em postagens sobre operações policiais e combate à corrupção.
Também figuram com frequência expressões como “combustíveis”, “cozinha”, “gasolina” e “governadores”, que remetem à briga travada entre o Bolsonaro e os chefes do Executivo Estadual pela responsabilidade no aumento do preço da gasolina e do botijão de gás.
O ex-juiz Sergio Moro (Podemos) elegeu Lula o protagonista de seu Twitter: são 24 menções ao ex-presidente, que mandou prender em abril de 2018. As publicações rebatem o discurso petista de que Lula foi inocentado na Lava-Jato, ao ter suas condenações suspensas pelo Supremo, e atribuem as anulações ao "contorcionismo jurídico”.
Moro também usou as palestras do petista à Odebrecht para se defender das críticas por ter recebido mais de R$ 3,5 milhões da consultoria Alvarez & Marsal. A polêmica envolvendo os ganhos com a empresa justifica a repetição da palavra “conta”, que vem da campanha #AbreAsContasBolsolula, que visa pressionar os adversários a divulgarem seus ganhos.
Além de Lula, o ex-juiz concentra ataques a Bolsonaro, de quem foi ministro até abril de 2020. Em uma das publicações, diz que não traiu o presidente, mas deixou o governo por ser fiel aos seus “princípios morais e ao povo brasileiro”.
O ex-juiz aparece como a quarta palavra mais dita por Ciro Gomes (PDT), que usou a rede social para criticar os ganhos de Moro na iniciativa privada, incluindo um parecer feito contra a Vale no valor de R$ 200 mil, e a falta de experiência dele na gestão pública.
Com a hashtag #DebateCiroeMoro, também convidou o ex-ministro para um debate. Nas últimas pesquisas, os dois aparecem tecnicamente empatados, atrás de Lula e Bolsonaro.
Ciro ainda usou o Twitter para impulsionar a sua principal aposta para o segmento jovem: o CiroGames, programa em que discute temas nacionais. Há também uma investida para reverter, junto aos eleitores, a imagem de temperamental. Por isso o termo “rebeldia” se repete 16 vezes.
Também se destacam as palavras “projeto”, “nacional” e “desenvolvimento”, referências ao livro que o pré-candidato encreveu e que traz propostas para o país.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), aposta a maior parte de suas fichas na vacinação, em especial a das crianças, em que o Instituto Butantan conseguiu autorização para uso emergencial da CoronaVac.
Além da atuação na pandemia, Doria também usa de plataforma eleitoral os resultados econômicos de São Paulo, cujo Produto Interno Bruto (PIB) cresceu mais do que o do Brasil, a entrega de obras de infraestrutura e o investimento em programas, como a despoluição do Rio Pinheiros, que deve ser concluída até o fim do ano.
O governador ainda faz um aceno para os policiais, público mais identificado com o bolsonarismo, em mensagens que enfatizam entrega de viaturas, nomeação de novos profissionais, inauguração de centro de operação e compra de armas.