Internacional

Boris Johnson acusado de atacar o líder da oposição ao estilo Trump

Em meio a escândalos, Johnson corre risco de perder o cargo de primeiro-ministro

Primeiro-ministro britânico Boris Johnson - Eduardo Munoz / AFP/ Pool

Acusado por seus críticos de copiar o estilo do ex-presidente americano Donald Trump, Boris Johnson está sob crescente pressão para pedir desculpas por um comentário polêmico sobre o líder da oposição britânica, depois que este foi atacado por manifestantes.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, teve que ser retirado em um veículo da polícia na segunda-feira (7) à noite quando, perto do Parlamento de Westminster, foi cercado por uma multidão revoltada que o acusou de "proteger pedófilos".

A acusação, que é repetida há muito tempo nos círculos de teorias da conspiração da extrema-direita britânica, foi usada contra o político da oposição pelo próprio Johnson na semana passada, quando o primeiro-ministro se defendeu diante dos deputados após a publicação de um relatório prejudicial para o governo sobre as festas celebradas em Downing Street durante os confinamentos.

O controverso primeiro-ministro, que corre o risco de perder o cargo pelo acúmulo de escândalos e o descontentamento dentro do próprio Partido Conservador, chamou o ataque de segunda-feira contra Starmer de "absolutamente vergonhoso". 

"Todas as formas de assédio a nossos representantes eleitos são completamente inaceitáveis", tuitou, antes de agradecer à "polícia por sua rápida resposta".

Nesta terça-feira (8), no entanto, sua equipe se esforçava para tentar desvincular o ataque dos comentários feitos pelo líder conservador na semana passada na Câmara dos Comuns.

"Não acredito se possa apontar o que o primeiro-ministro disse como a causa disso, certamente não se pode culpá-lo pelo fato de a multidão se comportar claramente de uma maneira totalmente inaceitável", disse o secretário de Estado para Tecnologia, Chris Philp, ao canal Sky News.

"Vou sobreviver" 
Em uma defesa de sua sobrevivência política, ameaçada pela possibilidade de uma moção de censura interna em seu partido, Johnson atacou Starmer em uma sessão parlamentar agitada em 31 de janeiro, ao acusar o trabalhista - quando era chefe do Ministério Público de 2008 a 2013 - de ter "passado todo o tempo processando jornalistas", em vez do pedófilo Jimmy Savile, falecido astro da televisão.

Starmer não teve nenhum papel na decisão de não processar Savile, apesar de posteriormente ter apresentado um pedido de desculpas em nome do MP pelos erros cometidos no caso.

Os pedidos são cada vez mais fortes para que Johnson apresente uma retratação. Uma de suas colaboradoras mais próximas, Munira Mirza, diretora de políticas em Downing Street, pediu demissão e o criticou por ter feito uma acusação "enganosa" e não pedir desculpas de maneira aberta como ela recomendou.

Mas o primeiro-ministro não dá o braço a torcer.

Fez essas declarações "falando de assumir responsabilidades por uma organização em seu conjunto" como ele fez sobre as festas em Downing Street, voltou a defender sua porta-voz à imprensa nesta terça-feira.

"Nossas palavras têm consequências", lembrou aos deputados o presidente da Câmara dos Comuns, o trabalhista Lindsay Hoyle.

"Vamos impedir que a guinada para um estilo político trumpiano se torne a norma", tuitou o deputado conservador Tobias Ellwood, que fez um apelo: "Primeiro-ministro, por favor, peça desculpas".

Esta não é a primeira vez que Johnson é comparado a Donald Trump, com quem se gabava de manter boas relações quando o americano estava na Casa Branca e que, segundo o jornal Daily Mail, considera que seu amigo britânico "é o melhor primeiro-ministro desde Winston Churchill" no Reino Unido.

Eleito de maneira triunfal em 2019, com a maioria conservadora mais importante desde os anos 1980 graças à promessa de concretizar o Brexit, Johnson viu nos últimos meses uma queda expressiva de sua popularidade.

Após prometer "consertar" a situação descontrolada em Downing Street pelas festas, nesta terça-feira anunciou algumas mudanças menores em seu governo, como a nomeação do eurocético Jacob Rees-Mogg como ministro de Oportundidades do Brexit.

Na semana passada já nomeou um novo diretor de comunicação, Guto Harris, o qual afirmou na segunda-feira que o primeiro-ministro "não é um completo palhaço, e sim alguém muito simpático" e que cantou a famosa canção de Gloria Gaynor "I will survive" ("Eu vou sobreviver").