Ciência

Brasil vê fuga de cérebros se intensificar e virar 'diáspora' com verba cada vez menor para pesquisa

De acordo com levantamento do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), há atualmente, pelo menos, de dois a três mil pesquisadores brasileiros no exterior

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) financia projetos de pesquisa em todo o País - Tânia Rêgo/Agência Brasil

Num cenário de restrições orçamentárias cada vez maiores para pesquisa, a fuga de cérebros já virou uma diáspora. É com essa expressão que o mundo acadêmico tem se referido ao aumento exponencial de mão de obra altamente qualificada de pesquisadores que têm deixado o Brasil em busca de melhores oportunidades, condições de trabalho e reconhecimento. Na bagagem, eles levam conhecimento de ponta e anos de investimento público. De acordo com levantamento do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos (CGEE), há atualmente de dois a três mil pesquisadores brasileiros no exterior.

O orçamento das duas principais agências federais de fomento à pesquisa indica como a capacidade de produção brasileira está mais restrita. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) informa que o orçamento para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) caiu de R$ 5,13 bilhões em 2012 para R$ 2,48 bilhões este ano. Além disso, o presidente Jair Bolsonaro bloqueou outros R$ 802 milhões. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) perdeu a metade da verba que teve dez anos atrás, passando de R$ 2,04 bilhões para R$ 1,02 bilhões.

— O Brasil, assim, está financiando os países ricos. Estamos entregando mão de obra altamente qualificada e nos privando do desenvolvimento que eles poderiam propiciar para o país — afirma Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC.

Greice Westphal, de 33 anos, pesquisa um modelo de tratamento multiprofissional da obesidade para que vire um serviço do SUS. Ela é doutoranda na Universidade Estadual de Maringá e, atualmente, está no Canadá, onde fez parte da sua pesquisa. Voltará ao Brasil apenas para defender a tese, mas o futuro como pesquisadora será em Ottawa.

— Aqui eles pagam até para os voluntários participarem da pesquisa. No Brasil, temos que implorar para os pacientes continuarem o tratamento para não perdemos os dados. Aliás, tive diversas vezes que tirar dinheiro do meu próprio bolso para comprar insumos ou consertar equipamentos. É tão parte da rotina que nem sei quanto já gastei — conta Westphal. — Trabalho com pesquisa científica há oito anos e nunca fui tão bem reconhecida como estou sendo aqui.

Coordenadora do Laboratório de Estudos de Educação Superior da Unicamp, Ana Maria Carneiro, que pesquisa a diáspora desde 2020, afirma que, apesar de não haver dados precisos, há fortes indícios de que esse movimento se intensificou por conta da queda brusca de financiamento nos últimos anos. No ano passado, o CNPq teve o menor orçamento deste século.

— Esse cenário é muito desanimador. Quem tem oportunidade de deixar o Brasil, vai — explica Carneiro.