Política

Doria minimiza encontro de tucanos que resistem à sua pré-candidatura: 'Jantar de derrotados'

Governador do RS, Eduardo Leite nega desembarque da sigla, mas diz que pré-candidato precisa apresentar 'plano de ação para reverter quadro adverso'

O governo de São Paulo, João Doria - Divulgação/Governo de SP - Flickr

O governador de São Paulo, João Doria, reagiu nesta quarta-feira à pressão de uma ala do PSDB contrária à sua pré-candidatura à Presidência.

Os tucanos resistentes a Doria foram derrotados nas prévias e argumentam que o paulista ainda não conseguiu se mostrar um candidato competitivo para representar a terceira via a quebrar a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, negou que o encontro teve natureza de desembarque, mas disse que Doria precisa apresentar o seu plano de voo e entender que as prévias não deram o partido a ele.

O grupo, que se reuniu em um jantar na noite desta terça-feira, em Brasília, para discutir uma alternativa a Doria, apoiou Leite nas prévias do partido em novembro, quando Doria saiu vitorioso com 53,99% dos votos, segundo apuração do partido. Em entrevista à rádio Eldorado, o governador de São Paulo minimizou o encontro e alfinetou o grupo ao dizer que tratou-se de "um jantar de derrotados".
 

— Eles apoiaram o Eduardo Leite nas prévias e perderam no voto. Não me parece que cinco pessoas representadas num jantar possam representar o PSDB — disse Doria, que ainda acrescentou: — É preciso ter grandeza na vitória e na derrota. Lamentavelmente, alguns preferem não compreender isso. O correto é somar forças com o PSDB, que é maior que essas cinco pessoas.

Doria também comentou críticas dos adversários no partido em relação ao seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto — no levantamento mais recente do Ipec, de janeiro, o paulista aparece com 5%. Para o tucano, que sugeriu que o seu desempenho pode mudar, o eleitor brasileiro ainda está preocupado com a pandemia.

— A população não está preocupada com a eleição ainda do ponto de vista eleitoral porque ainda estamos passando por uma pandemia. As pessoas só estarão motivadas a tomar essa decisão eleitoral em agosto. Antes disso, o que temos são meros retratos que não retratam a realidade. Agora, as pessoas estão preocupadas com a sua saúde, com emprego e comida no prato — disse.

O governador Eduardo Leite afirmou que não há qualquer encaminhamento sobre desembarque de candidatura ou saída do partido, mas que preocupa a alta rejeição ao nome de Doria a 45 dias de deixar o seu mandato no governo do estado.

— Conversamos e ponderamos sobre o cenário e perspectivas e iremos fazer a discussão internamente no partido. Todos desejam entender qual o 'plano de voo', o plano de ação que o candidato e sua equipe apresentam para reverter o quadro adverso. E é isso que será demandado — afirmou o governador gaúcho.

— Porque as prévias não deram o partido ao candidato. Deram um candidato ao partido. O PSDB é um partido com tradição de protagonismo na proposição de caminhos para o Brasil e é legítimo que se demande, diante do cenário, a clareza na apresentação da estratégia em uma eleição que consideramos crítica para o PSDB e para o Brasil.

Aliados de Doria mobilizaram uma ofensiva nas redes sociais para criticar a reunião da ala do partido contrária à candidatura própria ao Palácio do Planalto.

O presidente da sigla, Bruno Araújo, que vinha sendo cobrado por uma posição mais enfática sobre o assunto, escreveu na manhã desta quarta que vale o reconhecimento ao resultado de um processo interno que escolheu Doria o pré-candidato.

Outros aliados do governador, no entanto, acusaram a ala tucana de tentativa "golpe". É o caso do deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), Carlão Pignatari:

"A conspiração do grupo de perdedores contra o vencedor das prévias e candidato à presidência do Brasil pelo PSDB, João Doria, demostra que a derrota lhes subiu à cabeça. É uma tentativa amadora de golpe, um ataque infantil ao processo democrático. É uma tentativa de tapetão", escreveu Pignatari em sua conta no Twitter.

Cauê Macris, secretário da Casa Civil do governo paulista, disse que ao invés de se reunirem para planejar o futuro do Brasil, os tucanos se juntaram em jantar para "tentar sabotar o próprio partido".

"Os rebeldes do PSDB, partido que têm a democracia em seu nome, precisam urgentemente entender que não há hipótese de segundo turno das prévias", afirmou.

Outro que expôs publicamente o racha dentro do partido e saiu em defesa do governador de São Paulo foi Marco Vinholi, secretario de Desenvolvimento Regional da gestão estadual. No Twitter, ele ressaltou que o PSDB escolheu Doria o seu candidato nas prévias.

"Não tenho nenhuma dúvida de que o compromisso com a democracia é o principal pilar do partido. Por isso, avançamos a cada dia como a melhor alternativa para o BR. Os cães ladram e a caravana passa."