Política

Bancada evangélica fará frente a STF e oposição 'intensa' a legalização dos jogos

Entre as primeiras medidas estão marcar uma audiência com o ministro Alexandre de Moraes para discutir 'arbitrariedades' e garantir votos contra projeto encabeçado por Lira

Jogos de azar - Freepik

Aliado de primeira hora do pastor Silas Malafaia, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) assumiu a presidência da Frente Parlamentar Evangélica — formalizada nesta quarta-feira em sessão-culto na Câmara dos Deputados — com um elaborado plano de ações para este ano.

Segundo ele, o foco da nova gestão será impedir o que considera como "arbitrariedades" do Supremo Tribunal Federal (STF), "fidelizar" ainda mais o eleitorado evangélico com projetos sociais e culturais do governo federal e fazer oposição "intensa" contra o projeto de legalização dos jogos

— Nós vamos fazer campanha intensa. Já pedi para fazer o levantamento de quais deputados evangélicos votaram a favor do regime de urgência da matéria. Vamos atrás desses 25 votos. Virando, a gente já derrota essa matéria— disse ele, que já pediu audiências com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
 

Além dos encontros com a chefia  do Congresso, o novo líder dos evangélicos quer marcar o quanto antes uma audiência como o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. O assunto é o bloqueio das redes sociais do deputado evangélico Otoni de Paula (PSC-RJ), que foi determinado por Moraes no inquérito que investiga o parlamentar por incitar a violência contra as instituições democráticas em 7 de setembro.

— Eu entendo que é uma arbitrariedade do ministro, que está fazendo isso contra um deputado no exercício do mandato. É um ato antidemocrático do ministro Alexandre de Moraes. Como presidente da Frente, vou pedir um diálogo com ele — declarou Sóstenes, que é conhecido na Câmara por empunhar bandeiras contra o que considera intromissão do Supremo Tribunal Federal em assuntos legislativos. Ele, por exemplo, é autor de um projeto de lei que imputa crime de responsabilidade a ministros do STF que "usurparem" da competência do Poder Legislativo.

O parlamentar ainda anunciou que pretende fazer uma ofensiva para aumentar a influência evangélica em todas as instâncias da Justiça, não só no Supremo, que teve recentemente a nomeação do pastor André Mendonça:

 — O judiciário é o poder que tem menor representação evangélica. E é o poder que tem desequilibrado a nossa democracia — disse.

A estratégia envolve colocar evangélicos para disputar cargos nas seções da OAB em nível municipal e estadual e buscar indicações para vagas no Conselho Nacional de Justiça, tribunais estaduais e Superior Tribunal de Justiça (STJ). 

Além da investida no mundo jurídico, Sóstenes pretende consolidar junto aos colegas o apoio oficial da bancada à candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro — o que é inédito na história da bancada, que é constituída por deputados de diversos partidos e ideologias diferentes.

— Realmente, nunca teve antes. Mas também nunca tivemos um presidente tão afinado com a bancada evangélica como o presidente. Preciso ainda ouvir os meus colegas. Pelo meu sentimento, há uma tendência hoje de ser 90% pró-Bolsonaro — declarou o deputado, que repetiu o mantra de que quem "vota hoje na esquerda está ferindo os princípios da sua fé".

Para viabilizar o plano, ele convidou o filho 03 de presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), e o amigo de longa data Helio Lopes (PSL-RJ) para integrarem a diretoria do colegiado — eles são evangélicos da Igreja Batista, mas nunca foram atuantes na bancada. Helio já aceitou o convite e compareceu à posse de Sóstenes. Eduardo ainda não deu uma resposta.

— Vai ser interessante para o Palácio do Planalto e bom para a Frente. Eles estando na diretoria vão nos ajudar com uma melhor interlocução com o governo — disse ele.

Aliado de Bolsonaro desde o início do governo, Sóstenes também pontuou que a gestão federal deixou a desejar na "questão política" devido à pandemia de Covid-19 e à "inexperiência". Ele cita como exemplos a falta de investimento federal em comunidades religiosas para a recuperação de usuários de drogas e na prestação de serviços culturais.

 — O forte do segmento evangélico não foi aproveitado pelo atual governo. É preciso aprimorar essas políticas públicas para que a sintonia com o Bolsonaro possa chegar na ponta do segmento — frisou.

Diferente do seu antecessor, Cezinha de Madureira (PSD-SP), que prezava pela discrição e preferia atuar nos bastidores, Sóstenes tem um perfil mais expansivo e midiático. A começar pelo seu tutor religioso, o pastor Silas Malafaia, que não costuma poupar de críticas parlamentares e lideranças evangélicas com quem discorda em vídeos nas redes sociais.

O jeito incisivo de Malafaia preocupa os outros parlamentares da bancada, sobretudo em um ano eleitoral em que as divergências costumam vir à tona.

Sóstenes, no entanto, destaca que a sua gestão terá autonomia e não terá interferências do polêmico pastor:

— É lógico que algumas posturas dele me trouxeram dificuldades, até para eu não me tornar presidente antes. Mas ele não vai mudar o seu estilo de ser porque eu estou presidindo a Frente — disse ele.

Como uma das principais mudanças de sua gestão, o deputado, que é formado em teologia e foi missionário na Argentina e multi-instrumentista na Assembleia de Deus, planeja ainda instituir um culto na Câmara dos Deputados voltado apenas a "evangelizar" deputados e assessores "incrédutos", ou seja, que não professam a fé cristã.

— O parlamentar está aqui por causa de uma missão política, mas não anulamos a nossa missão espiritual como igreja —concluiu.