'Farsa caricata' e 'circo de horrores', diz advogada de Jairinho sobre depoimento de Monique
Durante cerca de dez horas, a professora disse estar sendo ameaçada pelo médico e ex-vereador, narrou episódios de violência por parte dele
A advogada Flávia Fróes, que defende Jairo Souza Santos Júnior, o Jairinho, classificou o depoimento prestado por Monique Medeiros da Costa e Silva no plenário do II Tribunal do Júri como uma “farsa burlesca mais caricata que comédia”, com elementos de “circo de horrores” e “de filmes trash”.
Durante cerca de dez horas, a professora disse estar sendo ameaçada pelo médico e ex-vereador, narrou episódios de violência por parte dele, contou estar dormindo na madrugada de 8 de março de 2021 e supôs que o filho, Henry Borel Medeiros, pode ter tomado alguma medicação dada por ele que tenha lhe causado a laceração hepática e, consequentemente, a sua morte.
“Queremos deixar claro de plano, de forma inequívoca, que acreditamos na inocência de Monique quanto à morte de Henry. E esta convicção de inocência decorre de um trabalho sério de investigação defensiva, onde participam peritos legistas e peritos forenses de competência internacionalmente reconhecida. Esta convicção de inocência foi manifestada diversas vezes antes de qualquer divulgação de alegadas, e de modo algum provadas, ameaças”, disse Flávia Fróes, em nota.
No interrogatório, Monique afirmou ter recebido uma visita da advogada, no parlatório do Instituto Penal Oscar Stevenson, em janeiro, sendo ameaçada de morte por ela:
"Ela entrou e se apresentou como advogada, dizendo que se sensibilizou com a minha causa e poderia contratar peritos internacionais, pessoas de Harvard, da ONU e de outros lugares, comprovando que os laudos eram falsos e um desdizia o outro, e eu deveria ficar calma, que tudo ia acalmar. Ela me trouxe um recado do Jairinho, dizendo que ele me amava, que iríamos passar por tudo isso. Depois, ela disse que eu precisava confessar o crime e falou que a minha cabeça estava a prêmio".
Em uma petição, Flávia já havia alegado que esteve na unidade prisional para entrevistar a professora sobre o histórico médico anterior de Henry e conta-la sobre o que produzira acerca das provas periciais feitas a partir de pareceres elaborados por legistas e peritos contratados. “O ônus da prova está nas mãos de quem acusa, não havendo escusa de prova diabólica em direito penal em favor da acusação, pois eis que inexistente a responsabilidade penal objetiva, inversão do ônus da prova em desfavor do acusado, ao menos em sociedades civilizadas. Deveria ser isso do mais comezinho àqueles que exercem a advocacia de defesa criminal”, escreveu a advogado, na nota.
Também durante o depoimento, nesta quarta-feira, Monique disse sofrer ameaças e intimidações dentro do Instituto Penal Santo Expedito, no Complexo Penitenciário de Gericinó, onde está presa atualmente. Ela contou que o último episódio se deu por mais de 20 presas — uma dela com quem divide a cela, há três dias:
"Elas diziam que sou assassina de criança, o que eu jamais seria. Eu nunca mataria meu filho nem coadunaria com algum mal a ele. Eu tenho certeza que fui a melhor mãe que ele poderia ser, como ele foi o melhor filho que eu poderia ter. Mas elas diziam que iam me matar, que iam jogar água fervendo em mim, que iam me dar canetada no ouvido".
“Lamenta-se que uma pessoa ré em processo penal por homicídio esteja claramente indefesa em juízo, cooptada a uma farsa burlesca mais caricata que comédia dell’arte, onde se confundem papéis de Brighella, Dottore e Capitano em mesmos novos personagens, conseguindo colocar elementos de circo de horrores e elementos de filmes trash, tentando deformar realidades para tentar obter vantagens. A diferença entre o mundo dos adultos e o mundo das crianças é que na vida dos adultos tudo tem consequências, há responsabilidade pelos próprios atos”, escreveu Flávia Fróes.
A advogada continuou: “Lamento, muito sinceramente, de ver, olhando com visão técnica, uma farsa tão mal construída que só prejudica à própria ré, em tornada refém de uma situação a qual parece não compreender bem, mas nem por isso deixará de ter de suportar com as consequências. Infelizmente vê-se uma pessoa que, faz-se reprisar, temos como inocente em relação ao homicídio a essa imputado, desnecessariamente incorrendo em novos crimes, destes sobejando provas, pelos quais terá de responder, numa trama onde ao fim é levada a só se prejudicar na defesa contra as acusações daquilo em que realmente é inocente, pois pior que restar indefeso é o réu ser conduzido a fazer provas contra si daquilo que é realmente inocente.”