Futebol

Hélio dos Anjos não é mais técnico do Náutico

Treinador deixou o Timbu após reunião nesta sexta (11), com a diretoria, no Centro de Treinamento Wilson Campos

Hélio dos Anjos, técnico do Náutico - Tiago Caldas/CNC

Chegou ao fim mais uma passagem do técnico Hélio dos Anjos pelo Náutico. Após a derrota por 2x1 para o Retrô, nesta última quarta (9), nos Aflitos, pelo Campeonato Pernambucano, ele e o auxiliar, Guilherme dos Anjos (demitido por justa causa), encerraram o trabalho no clube.

O profissional esteve nesta sexta (11), no Centro de Treinamento Wilson Campos, selando a despedida de um projeto iniciado em novembro de 2020, com um intervalo de um mês após pedido de saída do próprio profissional. Um desfecho pesado nos bastidores, principalmente após a confusão recente envolvendo atletas e torcedores, além das declarações do auxiliar do comandante nas redes sociais.

"A minha saída está definida, mas a situação envolvendo isso ainda passará pela minha advogada (Manoella Molon) e o jurídico do clube. Tive uma reunião hoje com Ari Barros (executivo de futebol) e Roberto Selva (vice de futebol) e agora estou esperando o Náutico se posicionar oficialmente para seguirmos para os próximos passos", informou o técnico, indicando que, se dependesse dele, o desfecho seria outro.

"De maneira alguma (queria sair). Ontem mesmo, eu recebi uma ligação de um clube da Série B, com uma proposta, mas neguei. E não me arrependo. Achei que não era o ideal. Daqui a pouco tem outra equipe (para trabalhar). Vida que segue", frisou.

Após o tropeço pelo Estadual, um torcedor do Náutico foi até o vestiário cobrar o grupo pelo mau desempenho. O ato causou revolta por parte dos jogadores, que foram tirar satisfação. No tumulto, integrantes de uma organizada do clube, atletas e membros da comissão técnica trocaram insultos. O atacante Kieza era um dos mais nervosos. A Polícia Militar precisou ser acionada para acalmar os ânimos.

No dia seguinte ao fato, o Náutico fechou a entrada da Imprensa no Centro de Treinamento Wilson Campos. Horas antes, o auxiliar do clube e filho do treinador Hélio dos Anjos, Guilherme dos Anjos, postou um desabafo em uma rede social, com críticas à diretoria do clube.

“Algumas coisas do futebol cansam. Trabalhamos em média 12 horas por dia, sem final de semana, abdicamos de muitas coisas, atrasos salariais recorrentes, quatro ou cinco meses sem receber, sem décimo terceiro, férias, FGTS e sem satisfação nenhuma das pessoas responsáveis. Muitas vezes sem um mínimo de estrutura, sem segurança, sem respeito. Nunca vou aceitar nada disso com tranquilidade, nunca serei conivente. Isso precisa acabar, vou lutar sempre por essa mudança”. Como em qualquer meio, o futebol é resultado. Lutamos pelo melhor assim como adversário. É inadmissível o que ocorreu ontem e todos sabemos que poderia ser evitado, pois não foi a primeira vez. Vou seguir trabalhando forte, mas nunca compactuando com o errado”, completou.

Antes de encerrar o vínculo com Hélio, o Náutico se pronunciou nas redes sociais afirmando que é contra qualquer tipo de violência, seja ela de quem for, além de que "a segurança de atletas, funcionários e torcedores sempre será uma das prioridades do clube". A diretoria prometeu isolar o local de acesso aos vestiários e reforçar a segurança. 

Essa foi a quarta passagem do técnico Hélio dos Anjos no Náutico. A primeira foi em 1993, com apenas 14 jogos no comando do clube, no Brasileirão da época. Depois, retornou na reta final da Série B de 2007, ajudando o Timbu a conquistar o acesso à Série A. 

A terceira aparição foi em 2020, também na Segundona, desta vez com a missão de evitar o rebaixamento. Ao conseguir o objetivo, permaneceu no cargo e comandou o Náutico na campanha do título do Campeonato Pernambucano de 2021. Na Série B, fez o Timbu engatar a maior sequência invicta (contando desde o início da competição), mas terminou deixando a equipe após uma sequência de cinco derrotas.

Um mês depois da saída, Hélio retornou ao Náutico, mas não conseguiu fazer o clube ascender de divisão. Na passagem mais recente, foram 17 jogos, com oito vitórias, quatro empates e cinco derrotas (não citando o duelo ante o Brasil/RS, na Segundona, quando estava suspenso), entre compromissos pela Série B, Copa do Nordeste e Campeonato Pernambucano. Somando os duelos de 2020, foram  30 vitórias, 18 empates e 16 derrotas.

Mais cedo, o auxiliar-técnico do clube, Guilherme dos Anjos, publicou uma carta explicando que não direcionou as críticas ao clube. Confira abaixo:

Na data de ontem fui surpreendido com o recebimento de uma carta de demissão por justa causa completamente infundada aplicada pelo clube. Não iria me posicionar publicamente sobre a questão da justa causa, pois esse sim é um tema que deve ser discutido por outros meios e não por meio dos veículos de comunicação. Contudo, como o clube deu publicidade à situação me vejo obrigado a me posicionar sobre o ocorrido.

Fui dispensado por justa causa sob a alegação de que teria supostamente ofendido a honra do clube ao realizar uma postagem na minha rede social, bem como por ter me “envolvido em evento lamentável no pós jogo de 09/02/2022 de confronto com torcida.”

No que se refere a postagem feita esclareço que em nenhum momento me referi diretamente ao Náutico, mas sim a uma realidade recorrente no futebol brasileiro (a qual é de conhecimento público e notório) com atrasos nos pagamentos e falta de segurança. E isso precisa acabar, o futebol não é diferente de nenhum outro ambiente de trabalho, as normas e leis trabalhistas valem ali, e precisam ser respeitadas. Sempre defenderei essa melhora. Nunca ofendi ou denegri a imagem do clube, pelo contrário, sempre desejei mudanças para possibilitar melhores resultados e condições de trabalho no futebol.

Sempre me dediquei ao máximo ao clube com um trabalho incansável pelos melhores resultados ao Náutico. Minha consideração e respeito pelo Timbu não podem ser questionados. Tanto que retornei ao clube justamente para desenvolver um trabalho sério e duradouro (até, no mínimo, dezembro/2022, fim do contrato) com um único objetivo: levar o clube o mais longe possível. 

No que tange ao episódio ocorrido no dia 09/02/2022 eu, assim como os demais companheiros de equipe, fomos vítimas de agressões (na entrada do vestiário) que não podem ser admitidas no futebol e nem em qualquer outro ambiente de trabalho. 

Lamento profundamente a decisão (equivocada) escolhida pelo clube para encerrar este ciclo de trabalho, pois sempre acreditei muito no grupo e no projeto que vinha sendo desenvolvido.

Guilherme dos Anjos.