SAÚDE

Mulheres são mais competentes do que homens no comando de cirurgias, revela estudo

Uma equipe internacional de cientistas concluiu que profissionais do sexo feminino tendem a ser mais bem-sucedidas em intervenções médicas, especialmente se o paciente também for mulher

Imagens de cirurgia - Elza Fiúza/Agência Brasil

Há muitas questões importantes que precisam ser consideradas antes de se submeter a uma cirurgia: sua saúde geral e a necessidade da operação, a complexidade da cirurgia, a experiência do cirurgião, a qualidade do hospital e sua reputação de bom acompanhamento.

Mas importa se o seu cirurgião é homem ou mulher? Pode ser que sim. Um novo estudo sugere que, em geral, as cirurgiãs obtêm resultados melhores e que a escolha de uma cirurgiã pode ser especialmente benéfica se você for mulher.

Para o estudo, uma equipe internacional de cientistas estudou registros de 559.903 homens e 760.205 mulheres que foram operados por 2.937 cirurgiões em Ontário, Canadá, durante um período de 12 anos. Entre os homens, cerca de 91% tiveram cirurgiões do sexo masculino e 9% do sexo feminino. Entre as mulheres, a proporção foi de 88% para 12%, respectivamente.

As cirurgiãs eram, em média, mais jovens, realizavam menos cirurgias e operavam pacientes geralmente mais saudáveis do que os tratados pelos homens. Os pesquisadores controlaram esses fatores e as características dos pacientes, como idade, renda e se viviam em uma área rural ou urbana. Eles também consideraram se a cirurgia foi feita em um hospital público ou em um grande centro médico acadêmico.
 

O estudo, publicado na revista JAMA Surgery, abrangeu 21 cirurgias eletivas e de emergência comuns, incluindo cirurgia cardíaca, ortopédica, urológica, de cabeça e pescoço, torácica, vascular, neurológica e plástica. As operações incluíram cirurgia de revascularização do miocárdio, apendicectomia, liberação do túnel do carpo, cirurgia bariátrica, da coluna vertebral, da tireoide e artroplastia de joelho e quadril.

No geral, cerca de 15% dos pacientes tiveram problemas pós-operatórios: 8,7% tiveram complicações significativas dentro de 30 dias após a operação; 6,7% foram readmitidos no hospital; e 1,7% morreram. Os pesquisadores descobriram que, quando o sexo do cirurgião e do paciente eram diferentes, a cirurgia era um pouco menos bem-sucedida: houve um aumento de aproximadamente 8% nas complicações ou morte, embora nenhuma diferença nas readmissões ao hospital. Essa tendência foi consistente em diferentes tipos de cirurgia e características do paciente.

Mas os pesquisadores também descobriram que, em geral, as cirurgiãs tendem a ser mais bem-sucedidas do que os cirurgiões do sexo masculino. E os piores resultados cirúrgicos ocorreram quando pacientes do sexo feminino foram tratadas por cirurgiões do sexo masculino. Em comparação com uma paciente do sexo feminino tratada por uma cirurgiã, uma mulher tratada por um cirurgião do sexo masculino tinha cerca de 15% mais chances de ter complicações, ser readmitida no hospital ou morrer dentro de 30 dias após a operação.

Os autores reconhecem, porém, que o estudo teve limitações. Foi observacional, e os pesquisadores não conseguiram controlar o papel dos enfermeiros e outros funcionários da sala de cirurgia. Além disso, os dados excluíram operações robóticas, que eram incomuns em Ontário na época.

Ainda assim, a Dra. Margaret Mueller, cirurgiã e professora associada de ginecologia da Northwestern University que não esteve envolvida na pesquisa, observou que o estudo tinha um “formato inteligente” e era bem controlado, com um grande banco de dados.

— Agora temos alguns dados objetivos mostrando que há resultados superiores com cirurgiões do sexo feminino — disse ela. — Só não sabemos os motivos.

O principal autor do estudo, Dr. Christopher Wallis, professor assistente de urologia da Universidade de Toronto, disse que não há razão para acreditar que haja alguma diferença nas habilidades técnicas entre cirurgiões homens e mulheres. Em vez disso, ele sugeriu, o problema pode estar em parte nos diferentes estilos de comunicação e nos diferentes modos como os médicos falam com pacientes do sexo masculino e feminino.

A segunda autora do estudo, Dra. Angela Jerath, professora associada de anestesiologia da Universidade de Toronto, disse que quando ela está trabalhando como anestesista com uma cirurgiã, o ambiente na sala de cirurgia tende a ser diferente, mais colegial, o que pode promover uma melhor comunicação e melhorar o trabalho em equipe.

— As cirurgiãs me fazem mais perguntas — disse ela. — Talvez as mulheres sejam mais colaborativas, mais detalhistas ou mais meticulosas. Não podemos responder a essas perguntas com nossos dados.

Segundo o Dr. Wallis, também após a cirurgia, os médicos podem tratar pacientes homens e mulheres de forma diferente.

— Sabemos que a dor das mulheres não recebe tanto crédito quanto a dor dos homens — disse ele. — Nos cuidados pós-operatórios, isso pode ser complexo. Até certo ponto, a dor é um resultado esperado da cirurgia, mas também pode sugerir um sinal precoce de uma complicação. Os médicos devem ser capazes de ler os sintomas e, ao mesmo tempo, ter um comportamento receptivo com os pacientes para apresentar informações de uma maneira que possamos evitar problemas antes que eles aconteçam.

Não é só na cirurgia que o sexo do médico e do paciente pode fazer a diferença. Existem muitos estudos, disse Wallis, demonstrando que em várias especialidades, taxas de mortalidade mais altas ocorrem quando médicos do sexo masculino tratam pacientes do sexo feminino. Como exemplo, ele mencionou um estudo de 2018 que encontrou maior mortalidade entre pacientes com ataque cardíaco do sexo feminino tratadas por médicos do sexo masculino.

— Eu gostaria que os cirurgiões pudessem dar um passo atrás — disse a Dra. Jerath. — Seja atencioso. Se algo está acontecendo, investigue o que é e esteja aberto a soluções.