Quiosque cedido à família de Moïse provavelmente não será aquele onde congolês foi morto, diz Paes
Em entrevista ao programa 'Roda Viva', prefeito do Rio afirmou que estuda alternativa para homenagem a imigrante assassinado na Barra da Tijuca
Em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, nesta segunda-feira (14), o prefeito do Rio, Eduardo Paes, disse que o quiosque que a prefeitura concederá à família de Moïse Kabagambe provavelmente não será aquele em que o congolês foi morto, na Barra da Tijuca. A concessão daquele espaço foi inicialmente aceita pelos parentes de Moïse, mas recusada depois que o atual ocupante afirmou que não sairia dali, gerando medo de represálias nos familiares do congolês.
"A gente pensou numa alternativa, essa alternativa dada a família aceitou, mas você tem riscos ali, segurança… Nós estamos conversando com a família permanentemente. Vamos encontrar uma saída alternativa para essa família. Provavelmente não será ali. A ideia ali é de fazer alguma homenagem, algum registro, porque a gente precisa lembrar como sociedade o que aconteceu com esse rapaz", disse.
Ele acrescentou que a sociedade precisa refletir após o assassinato de Moïse e que "não podemos aceitar que a barbárie se torne algo comum".
"A notícia demorou uma semana para ganhar uma repercussão. Um crime daquela barbaridade ter essa repercussão toda só uma semana depois, chegar inclusive ao conhecimento das autoridades, já é uma demonstração de que estamos doentes com sociedade. Fiz questão de receber a família no dia que eu soube, manifestar meus sentimentos, a nossa solidariedade, e de alguma maneira ajudar", afirmou. "A gente não pode aceitar esse tipo de coisa, esse estado de anomia onde a barbárie se torna algo comum. A gente ficar imaginando que pessoas, a princípio de bem, foram ali, viram e não ligaram, tomaram uma cerveja e depois saíram. Não dá. Precisamos, como sociedade, refletir sobre isso".
Paes também disse não crer que o crime tenha participação da milícia. A hipótese foi discutida após a apresentadora Vera Magalhães pontuar que as partes envolvidas nas investigações, como a concessionária do quiosque e a polícia, aparentam ter reservas quanto à apuração de uma possível atuação de grupos paramilitares no assassinato de Moïse.
"Hoje estive com a Comissão de Direitos Humanos do Senado e da Câmara para discutir a questão do Moïse, ali do caso, aquele absurdo, aquele crime bárbaro acontecido ali na Barra. Na verdade o sujeito que ocupou o tal quiosque (o cabo da Polícia Militar Alauir de Mattos Faria) já estava sendo processado pela concessionária, que tem contrato com a prefeitura, e a Justiça ainda não tinha feito a reintegração de posse, porque ele ocupou irregularmente. O sujeito que tinha o contrato (o proprietário Celso Carnaval, de 81 anos) vendeu para esse policial sem que a concessionária topasse. Cabe à polícia investigar isso. Não tenho os instrumentos para essa investigação ou para dizer o que aconteceu de fato ali. Mas, a princípio, não me parece, nesse caso específico, que tenha uma relação com milícia" respondeu o prefeito.