PF divulga nota oficial para rebater declarações de Moro e dizer que ex-ministro 'mente'
Ex-ministro da Justiça criticou a corporação por diminuir o ritmo nas prisões por crimes de corrupção. Corporação rebateu dizendo que efetuou mais de mil detenções nos últimos três anos
A direção da Polícia Federal emitiu nesta terça-feira (16) uma nota oficial para rebater acusações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos. Em entrevista à Rádio Jovem Pan, Moro criticou a atual gestão da corporação, dizendo que "hoje não tem ninguém no Brasil sendo investigado e preso por grande corrupção". Em nota assinada como "a Polícia Federal", o órgão acusou Moro de "mentir" e se defendeu, afirmando que efetuou "mais de mil prisões apenas por crimes de corrupção nos últimos três anos".
A tom da nota é pouco usual, uma vez que órgãos públicos não costumam se envolver no ringue da política eleitoral e responder a pré-candidatos, especialmente a Polícia Federal, que atualmente está investigando a suspeita de interferência política na corporação por parte do presidente Jair Bolsonaro.
Em abril de 2020, Moro deixou o comando do ministério da Justiça, ao qual está vinculada a Polícia Federal, alegando que Bolsonaro pressionava pela substituição do delegado-geral da corporação e exigia acesso a relatórios sigilosos. A PF instaurou um inquérito para apurar as denúncias.
No texto, a PF ainda afirmou que o ex-juiz da Operação Lava-Jato "faz ilações" ao citar trocas feitas nas superintendências pelo atual delegado-geral, Paulo Maiurino, como exemplo de supostas retaliações pelo governo. Maiurino foi nomeado ao cargo pelo atual ministro da Justiça, Anderson Torres, que entrou no lugar de André Mendonça, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, que, por sua vez, substituiu Sergio Moro.
"O ex-ministro não aponta qual fato ou crime tenha conhecimento e que a PF estaria se omitindo a investigar. Tampouco qual inquérito policial em andamento tenha sido alvo de ingerência política ou da administração", diz a nota da corporação, que ressaltou que as operações tocadas pelo órgão "vão muito além da repressão aos crimes de corrupção".
Em seu perfil no Twitter, Moro reagiu ao texto da direção da corporação com a seguinte publicação: "Eu respeito muito a PF, os delegados, agentes, escrivães, peritos, papiloscopistas e servidores. Este momento vai passar. Vocês vão voltar a ser valorizados".
No ano passado, a direção da PF fez pelo menos oito trocas em postos chaves da corporação, uma média de uma por mês desde a posse do diretor-geral da PF, em abril. Internamente, alguns delegados substituídos se disseram surpresos com a exonerações e classificaram as movimentações como "estranhas". Na ocasião, a PF negou todas as suspeitas de demissão por motivações políticas e disse tratar-se de "medidas naturais" quando há substituição do comando da instituição.
Em entrevista ao Globo no início do mês, o diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF, Luís Flávio Zampronha, afirmou que as críticas vinham de "colegas insatisfeitos com a perda do cargo de chefia", que "utilizam investigações sensíveis para tentar se manter no posto".
Um levantamento feito pela agência de dados "Fiquem Sabendo", com base em informações da Lei de Acesso à Informação (LAI), revelou que houve uma queda de 44% no número de prisões por corrupção feitas pela PF em 2021 em comparação com 2020. As informações são da Coordenação de Repressão à Corrupção, setor da PF cuida da maior parte das investigações sobre esse tipo de crime.
A direção da Polícia Federal, por outro lado, passou a divulgar que manteve o mesmo número de operações contra esquemas de corrupção nos últimos anos, entre 500 a 600 por ano. Segundo a corporação, a redução na quantidade de prisões seria consequência de uma mudança no entendimento dos tribunais de Justiça, a quem cabe decretar ou não as detenções, e não ao órgão de investigação.