Chuva em Petrópolis: três corpos da mesma família identificados, sendo duas crianças
Temporal deixou dezenas de mortos na Cidade Imperial
Horas depois da tragédia que deixou dezenas de mortos na cidade de Petrópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro, os dramas vão ganhando rostos. Nesta quarta-feira (16), três pessoas de uma mesma família foram identificadas no Instituto Médico Legal (IML) da cidade, sendo duas crianças. Ao todo, cerca de 30 corpos já foram reconhecidos, segundo a Polícia Civil. O estofador Diego Lichstenger Moreira, de 26 anos, perdeu a irmã e dois sobrinhos. Débora Lichstenger Moreira, de 22, e os filhos Gustavo Lichstenger Rodrigues, de 5, e Heloise Lichstenger Rodrigues, de 2 anos, morreram no bairro Duarte da Silveira.
O secretário da Defesa Civil e comandante geral do Corpo de Bombeiros, coronel Leandro Monteiro, afirmou que só no Morro da Oficina entre 30 e 50 casas foram atingidas pela lama. Ele destacou que "há inúmeros desaparecidos", sem precisar o número exato. As vítimas se abrigavam da chuva quando a tragédia aconteceu, na noite desta terça-feira. Duas das paredes da casa onde moravam caiu sobre eles. Abalado, ele conta que vizinhos ajudaram no resgate.
— Eles estavam em casa, e a parte dela desabou. Duas paredes caíram em cima deles. Isso aconteceu por volta das 18h e foram os vizinhos que resgataram os três — conta o estofador, emocionado.
Para acelerar o processo de liberação dos corpos, a Polícia Civil pede que os parentes das vítimas levem fotos até o IML. Até as 13h, ao menos dez corpos já haviam sido liberados para velórios e enterros. Os magistrados de Petrópolis irão trabalhar para agilizar e organizar os documentos necessários para a identificação e liberação.
A servidora pública Camilia Lima Fioresi, de 37 anos, soube que a irmã, a administradora Cecília Lima Fioresi, de 40, havia morrido soterrada na Rua Teresa. Mãe de um menino de 6 anos, ela havia perdido a avó Cecília Lima, que originou o seu nome, na década de 1970, da mesma forma em Petrópolis. Camilla foi reconhecer o corpo.
— Eu só queria tirar a minha família de Petrópolis. Isso não é mais vida. Quero tirar a minha mãe daqui — destaca Camilla aos prontos.
O comerciante Alexandro de Araújo Dutra, 47 anos, era ex-marido de Cecília. Há menos de um mês a ex-companheira havia conseguido um emprego. Ela disse que estava muito feliz com a volta ao trabalho.
— Era uma mulher maravilhosa, super mãe, excelente dona de casa, uma excelente mulher. Ela estava há 23 dias nesse emprego. Saiu para trabalhar às 7h e quando foi por volta das 20h recebemos uma ligação. Fui lá e ela já estava morta — diz Alessandro, consolado pela cunhada. — Eu perdi o amor da minha vida. Eu fui a primeira pessoa a chegar. Ele foi soterrada. Eu tive um suspiro de esperança porque um colega disse que quando chamaram ela, o meu amor disse que estava presa pela perna. Foram buscar ajuda, mas não deu tempo.
O Ministério Público estadual montou um mutirão para agilizar a identificação dos corpos com promotores da área da família. Outros, da mesma área, vão ajudar as pessoas que perderam documentos. Eles visitarão os 16 pontos de apoio e locais de recebimento de doações. O procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, determinou a mobilização de todas as estruturas do MP para ajudar a cidade. Os promotores do Meio Ambiente estão atuando junto ao Inea para monitorar a questão climática e de abastecimento em Petrópolis.
A caixa Daniela da Silva Viana, 30, voltava do trabalho quando o ônibus em que ela estava foi atingido pela chuva. A mulher chegou a fazer imagens do coletivo. Ela sumiu em seguida. Desde então, familiares procuraram por ela nos hospitais e estão no IML de Petrópolis.
— Ela mora no Valparaíso e trabalhava no Armazém do Grão do Biguem. Quando começou a encher, ela ligou e falou com a minha mãe que estava no ônibus e daí em diante perdemos o contato. Estamos aqui no IML atrás dela — diz Matheus de Almeida Santos, primo da jovem.
Às 17h42 de ontem, Daniela postou um vídeo da chuva entrando dentro do ônibus. "O ônibus está estalando, entrando água. Jesus me proteja", escreveu. Onze minutos depois ela escreveu "Gente, pelo amor de Deus, orem por todos nós dentro do ônibus. Todo mundo está em pânico! Estamos ilhados! O ônibus quase sendo arrastado". O último registro, logo em seguida, é da água entrando no coletivo.
No hospital, famílias buscam informações sobre vítimas
Na porta do Hospital Alcides Carneiro, em Corrêas, dezenas de pessoas peregrinam em busca de informações sobre as pessoas desaparecidas. Enquanto isso, psicólogos conversam com familiares que estão reconhecendo os corpos no IML. O desespero e a falta de informação tem deixado algumas pessoas irritadas. Um caminhão frigorífico está armazenando os corpos que chegam a todo momento.
O marceneiro Alexandre Reis de Souza, de 50 anos, está à procura da cunhada. Aparecida Desiderio, de 46, mora na Serra das Estrelas.
— Ela está sumida desde ontem depois da chuva. Meu sobrinho ligou e disse que ela está desaparecida e estamos aqui para reconhecer.
Roberto Rodrigues da Costa, está em busca dos dois filhos: de 5 e 2 anos. Eles estavam na casa da mãe, no bairro do Morem.
— Eles estavam em casa e achamos que eles morreram. Estamos aqui para ver se eles estão aqui — disse uma amiga da família.
O coronel Leandro Monteiro não soube especificar a quantidade de pessoas que estão sumidas após o temporal que atingiu a Cidade Imperial na terça-feira e que deixou dezenas de mortos e destruição.
— São muitos desaparecidos, não existe esse número preciso. Estamos concentrando vários esforços para achar essas vítimas. A partir de agora, contamos com 400 militares. São vários pontos da cidade que chamaram os bombeiros. O foco principal de solicitação foi no Morro da Oficina. Só conseguimos chegar lá a meia-noite e meia. Tem várias informações desencontradas. Uns moradores falam em 50 casas atingidas, outros, em 30. Desde quando chegamos, resgatamos uma pessoa com vida que estava soterrada havia tres horas.
O Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid), do MP do Rio, está concentrando as informações e solicitações das pessoas por desaparecidos nas suas redes. O Plid foi usado na tragédia da Serra, em 2011. Os dados devem ser enviados para:
E-mail: atendimento.plid@mprj.mp.br
Telefone: (21) 2262-1049 ou (21) 2220-5810
Instagram: sinalid_oficial
Twitter: @OficialSinalid
Facebook: Sinalid - Ministério Público
Site: www.mprj.mp.br/todos-projetos/plid