Bolsonaro diz que declaração de Fachin sobre Rússia foi 'lamentável' e criou constrangimento
Ministro do STF afirmou que país visitado pelo presidente atua em ataques virtuais
O presidente Jair Bolsonaro criticou nesta quarta-feira (16) as declarações do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre possíveis ataques virtuais da Rússia. Para Bolsonaro, a atitude de Fachin foi "lamentável" e criou constrangimento para ele durante sua viagem à Rússia.
— É triste e é constrangedor para mim receber acusação como se a Rússia se comportasse como um país terrorista digital — disse Bolsonaro, durante entrevista à rádio Jovem Pan. — Isso é lamentável, esse tipo de declaração. Confesso, se não visse as imagens, fosse uma matéria escrita apenas, ia falar que eram fake news.
Na segunda-feira (14), Fachin disse ao GLOBO que países como a Rússia "têm relutado em sancionar os cibercriminosos que buscam destruir a reputação da Justiça Eleitoral e aniquilar com a democracia". O ministro é atual vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e vai assumir o comando da Corte na semana que vem.
Depois, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada nesta quarta-feira (16), o ministro disse que a Justiça Eleitoral "já pode estar sob ataque de hackers" e que a maior parte das atividades criminosas teria origem na Rússia, país que não teria "legislação adequada de controle".
Na entrevista desta quarta, Bolsonaro afirmou acreditar que "não existe país que não exista hacker" e disse que "tem muito hacker que não se intitula desse ou daquele país".
O presidente ainda lamentou o fato das declarações ocorrem enquanto ele está em visita à Rússia, iniciada na terça-feira. Nesta quarta, ele se reuniu com o presidente Vladimir Putin.
— Não sei porque o desespero com esse ataque gratuito a um país ao qual o chefe de Estado brasileiro está presente, como se aqui fosse um país que viesse a participar de forma criminosa em umas eleições no Brasil — disse Bolsonaro, acrescentando depois: — Lamentamos muito essa fala do ministro Fachin enquanto o chefe de Estado brasileiro está em solo russo.
A declaração ocorre nove dias após Bolsonaro ter recebido, no Palácio do Planalto, Fachin e Alexandre de Moraes, também ministro do STF. Os dois entregaram convite para sua posse no no Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
O presidente disse que se surpreendeu com o pedido de audiência:
— Para mim foi uma surpresa quando recebemos por escrito um pedido de audiência do ministro Fachin, juntamente com o ministro Alexandre, que tem vários inquéritos contra mim.
Bolsonaro disse que dirigiu a palavra duas vezes a Moraes, mas que ele não respondeu. O ministro é relator de vários inquéritos que tem o presidente ou seus aliados como alvos.
— Nos cumprimentamos. Apenas o ministro Fachin falou naquele momento. Eu me dirigi a palavra duas vezes ao ministro Alexandre, ele não respondeu.
O presidente questionou a decisão de Moraes de quebrar o sigilo telemático de um dos seus ajudantes de ordens, o tenente-coronel Mauro Barbosa Cid. Para o presidente, a decisão fez que o ministro tivesse acesso a informações confidenciais que ele trocou com Cid.
A quebra de sigilo ocorreu no âmbito do inquérito que investigou Bolsonaro por supostamente vazar uma investigação sigilosa que apura um ataque hacker ao TSE. Cid foi indiciado no inquérito. A Polícia Federal (PF) concluiu que o presidente também cometeu crime, mas não o indiciou por ele ter foro privilegiado.
— Eu entendo que a quebra de sigilo do meu ajudante de ordens por parte do senhor Alexandre de Moraes foi para ter acesso às informações que eu tenho — disse, acrescentando depois: — Lamentável que isso esteja na mão dele, usando, no meu entender, um subterfúgio para chegar à minha pessoa.