Vaticano

Cardeal condena 'comportamentos criminosos encobertos por tanto tempo' na Igreja

O anúncio foi feito durante a abertura de um simpósio de três dias sobre o sacerdócio realizado no Vaticano e inaugurado pelo papa Francisco

Papa Francisco conversa com o cardeal Marc Ouellet do Canadá (D) durante um simpósio sobre o sacerdócio na sala Paulo VI no Vaticano em 17 de fevereiro de 2022 - Tiziana Fabi / AFP

O influente cardeal canadense Marc Ouellet lamentou nesta quinta-feira (17) que "o comportamento criminoso tenha sido encoberto por tanto tempo para proteger a instituição", se referindo à crise enfrentada pela Igreja Católica devido aos abusos sexuais cometidos por padres em todo o mundo. 

“Estamos todos dilacerados e humilhados por essas questões cruciais que nos afetam todos os dias como membros da Igreja”, reconheceu o cardeal Ouellet, durante a abertura de um simpósio de três dias sobre o sacerdócio realizado no Vaticano e inaugurado pelo papa Francisco

O cardeal se referiu ao "drama de abuso sexual cometido por clérigos" em seu discurso aos cardeais, padres, leigos e religiosos presentes, além do público conectado à transmissão. 

"Deveríamos evitar falar sobre o sacerdócio quando os pecados e crimes cometidos por ministros indignos ocupam a primeira página da imprensa internacional (...)?", perguntou Oullet, prefeito da Congregação para os Bispos, entre os organizadores dos três dias dedicados a uma reflexão teológica sobre o papel do sacerdote.

"Esta é uma oportunidade favorável para expressar nosso mais profundo pesar e pedir desculpas mais uma vez às vítimas que viram suas vidas destruídas por um comportamento criminoso, que foi encoberto por tanto tempo e tratado com leviandade para proteger a instituição e os culpados em vez das vítimas", acrescentou Ouellet. 

“Este simpósio toma nota do clamor e da ira do povo de Deus, por isso estamos aqui para unir nossas vozes com aqueles que clamam por verdade e justiça”, disse ele. 

O papa Francisco não mencionou esta questão em seu discurso, que se concentrou nos "quatro pilares constitutivos da vida sacerdotal". 

Francisco insistiu no “dom” que constitui o “celibato” para os sacerdotes, que deve ser vivido como “santificação” e que “requer relacionamentos saudáveis”. 

“Sem amigos e sem oração, o celibato pode se tornar um fardo insuportável e um contra-testemunho da própria beleza do sacerdócio”, alertou.

Cerca de 500 pessoas participam do encontro internacional, o evento mais importante organizado no Vaticano desde o início da crise sanitária, realizado em um momento delicado para a figura do padre, manchada por denúncias de abuso sexual de menores em muitos países. 

Na terça-feira, associações de vítimas na Itália lançaram uma campanha sem precedentes para exigir uma investigação independente como as recentemente realizadas na Alemanha e na França, que revelaram a magnitude do fenômeno.