Saúde

Cirurgia de catarata pode reduzir risco de Alzheimer entre idosos, diz estudo

Pesquisadores da Universidade de Washington apontam que procedimento ajuda a diminuir em até 30% risco de desenvolver formas de demência após os 60 anos

Dr. Bernardo Cavalcanti - Cortesia

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, apontou que a cirurgia de catarata pode reduzir em até 30% o risco de desenvolver Alzheimer e outras formas de demência na população idosa. Ao todo, 3.038 homens e mulheres com catarata que tinham 65 anos ou mais participaram da pesquisa. No Brasil, são mais de 19 milhões de idosos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
 
“Umas das possibilidades para esse achado é manter a qualidade da visão fazendo com o paciente apresente boa interação com outros indivíduos e manutenção de uma rotina diária ativa. Embora nenhuma relação direta possa associar as duas doenças, a cirurgia de catarata pode ser considerada um fator de proteção”, explica o médico oftalmologista do HOPE, Dr. Bernardo Cavalcanti.
 
O grupo de participantes não apresentava demência no momento do diagnóstico e foram acompanhados ao longo de anos através de um estudo de memória. Entre eles, 1.382 haviam feito cirurgia de catarata, e os outros, não. Os pesquisadores concluíram que o risco total de demência era 29% mais baixo entre quem havia realizado a cirurgia de catarata, comparados com os que não fizeram o procedimento.
 
A pesquisa foi publicada na revista Jama Internal Medicine e levou em conta a idade dos participantes no primeiro diagnóstico de catarata e também fatores de risco para demência, como poucos anos de estudo, tabagismo, hipertensão e índice de massa corporal (IMC) alto. O único fator que exerceu efeito maior que a cirurgia de catarata sobre o risco de demência foi a pessoa não ser portadora do gene APOE-e4, que é ligado a um risco aumentado de desenvolver Alzheimer.

O resultado reforça pesquisas anteriores que apontam que a perda de visão, assim como a perda auditiva, são fatores de risco de declínio cognitivo. Pessoas com dificuldade para enxergar ou ouvir podem se afastar de atividades como exercício físico, interações sociais, leitura ou atividades intelectuais, que reduzem o risco de desenvolver demência.

O Dr. Bernardo Cavalcanti acrescenta que outros procedimentos na visão podem ser benéficos ao paciente. “Qualquer procedimento que possa manter ou melhorar a visão, favorecendo ao paciente a conexão com pessoas e manutenção do seu estilo de vida, é capaz de contribuir para retardar o aparecimento de condições com Alzheimer. Nesse ponto vale ressaltar as duas doenças oculares mais prevalentes no idoso: catarata e degeneração macular relacionada à idade (DMRI). Então além da cirurgia de catarata, acompanhar e tratar corretamente a DMRI também é crucial”, afirma.
 
O estudo também sugere uma hipótese do ponto de vista fisiológico para explicar o efeito benéfico da cirurgia de catarata. Segundo os pesquisadores, o córtex visual sofre alterações com a perda de visão, e a visão prejudicada pode reduzir a chegada de informações ao cérebro, levando a um encolhimento do cérebro, outro fator de risco de demência.
 
Outro procedimento examinado na pesquisa foi a cirurgia de glaucoma. No entanto, os cientistas não identificaram efeitos no risco de desenvolver demência. 
 
O que é a catarata?
A catarata é o embaçamento do cristalino do olho, caracterizada por uma mancha clara, podendo ser vista a olho nu. A maioria das cataratas se desenvolvem lentamente ao longo do tempo, causando sintomas, como visão embaçada. Essa condição pode ser revertida cirurgicamente, por meio de um procedimento especializado que restaura a visão. Entre as doenças oculares mais comuns, a catarata afeta, na maioria dos casos, pessoas a partir dos 55 ou 60 anos. Entretanto, se prevenida corretamente, pode haver retardo ou, então, em casos de ocorrência, pode ter chances altas de cura. 
 
Como funciona a cirurgia de catarata
 
A catarata é totalmente removida e substituída por uma lente artificial, transparente, que devolve a nitidez da visão. O procedimento é rápido e seguro e utiliza-se da tecnologia avançada através do poder de ultrassom para remover o cristalino opacificado e permitir implante da lente nova. A cirurgia é realizada com o paciente consciente, podendo ver luz e movimento, mas sem conseguir ver o que o médico está fazendo com o olho.
 
É através de um microscópio especial que o cirurgião realiza o procedimento. Ele cria pequenas incisões perto da borda da córnea do indivíduo para alcançar a lente do olho. Com instrumentos muito pequenos, ele rompe o cristalino com a catarata e a remove. Em seguida, ele coloca a nova lente no lugar. Após o procedimento, o paciente deve utilizar os colírios prescritos pelo oftalmologista, evitar água diretamente nos olhos, usar óculos de sol para proteção contra poeira e outros fatores externos, com o objetivo de evitar infecções ou inflamações. Esforços físicos também devem ser evitados, recomendando-se repouso nas 12 primeiras horas após a cirurgia.