Contra ofensivas de Lula e Moro, Bolsonaro vai reunir pastores e a bancada evangélica
Bolsonaro quer receber cerca de 80 bispos e pastores relevantes e mais de cem parlamentares
O presidente Jair Bolsonaro (PL) prepara um encontro em Brasília para demonstrar força entre os evangélicos, segmento que os pré-candidatos Lula (PT) e Sergio Moro (Podemos) tentam atrair. Desde segunda-feira, lideranças das principais igrejas brasileiras e deputados e senadores da Frente Parlamentar Evangélica começaram a ser informados sobre uma agenda no dia 8 de março, às 15h, no Palácio da Alvorada.
Bolsonaro quer receber cerca de 80 bispos e pastores relevantes e mais de cem parlamentares. O presidente está incomodado com a movimentação dos seus adversários de olho neste público e com os resultados de pesquisas eleitorais recentes.
Em dezembro, levantamento do Ipec apontou Lula com 34% de intenção de votos no segmento, em empate técnico com Bolsonaro, que registrou 33%. No mesmo mês, o Datafolha aferiu que 43% dos evangélicos consideram o petista como o melhor presidente da história do Brasil, enquanto 19% avaliam que o atual mandatário está no topo da lista.
Com o evento, Bolsonaro deseja visualizar quem no mundo evangélico está ou não disposto a aparecer em uma foto ao seu lado faltando oito meses para a eleição presidencial. É possível ter certeza sobre determinados nomes relevantes que estarão na lista de presentes. O deputado federal Marco Feliciano (PL-SP) e o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, os dois maiores interlocutores do presidente no segmento, irão ao encontro.
Além deles, são esperados o bispo Robson Rodovalho, da Sara Nossa Terra; os apóstolos Estevam Hernandes, da Renascer em Cristo, Renê Terra Nova, do Ministério da Restauração de Manaus, e Cesar Augusto, da Igreja Apostólica Fonte da Vida; e o pastor Cláudio Duarte, da Igreja Projeto Recomeçar.
Há curiosidade em Brasília com relação à postura de três líderes tradicionais: Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus; Manoel Ferreira, líder do Ministério Madureira da Assembleia de Deus; e o missionário R.R. Soares, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus. Os três estiveram ao lado de Bolsonaro desde 2018, mas nas últimas semanas fizeram gestos que deixaram o Planalto em dúvida sobre a postura no mês que vem.
Recentemente, Soares recebeu Moro para um encontro, e lideranças de esquerda articulam para que o missionário encontre Lula em breve. O GLOBO apurou que não há consenso entre os cinco filhos do fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus (dois deputados federais, dois estaduais e um vereador) de que o melhor rumo a ser tomado é o apoio à reeleição. Chama a atenção do Planalto a dúvida na família.
Foi no governo Bolsonaro que o missionário conseguiu emplacar a sua principal agenda em Brasília — o Congresso aprovou uma anistia bilionária para dívidas tributárias de igrejas. R.R. Soares já chegou a dever mais de R$ 100 milhões para os cofres públicos.
No caso de Manoel Ferreira, geram dúvidas os encontros recentes dele e de Abner Ferreira, seu filho, com líderes de esquerda. Manoel esteve com Lula, em conversa intermediada pelo presidente da Assembleia Legislativa do Rio, André Ceciliano (PT). Já Abner abriu canal com o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), pré-candidato ao governo do Rio. Ainda que não feche apoio a candidatos de esquerda, está em curso uma tentativa de acordo para que o Ministério Madureira não ataque petistas e socialistas nas eleições.
Já a Universal vem dando seguidos sinais de insatisfações com o Planalto. Conforme O GLOBO revelou, Marcos Pereira, presidente do Republicanos, partido ligado à igreja, deixou de ir às reuniões do comitê de reeleição de Bolsonaro. A sigla está se sentindo preterida no preenchimento de espaços no governo federal, na comparação com o PP, do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e do PL, de Valdemar Costa Neto.
Em paralelo, a coordenação política da campanha de Moro já recebeu a informação de que Edir Macedo quer conhecê-lo, enquanto abrir diálogo com o PT nessa eleição parece mais difícil. Embora tenha apoiado os governos Lula e Dilma, a Universal lançou um manifesto no fim de janeiro dizendo ser incompatível classificar como cristão alguém que vota em candidatos de esquerda.