Rio de Janeiro

Maior livraria de Petrópolis tem estoque destruído por enchentes. 'Perdemos tudo', diz dono

Além dos exemplares, a água danificou computadores, arquivos e a área administrativa da livraria, que deve fechar as portas

Encharcados e amarelados, livros foram colocados sobre calçada em frente à livraria - Reprodução/Twitter

O dono da livraria Nobel de Petrópolis, Amauri Madeira, estava feliz por ter voltado a trabalhar com o que ama em 2022. Ano passado, o empreendedor não conseguiu atuar por conta de um câncer. Apaixonado por livros, no dia 28 de janeiro, recebeu a notícia de que tinha vencido o tumor e poderia retornar à ativa.

Há 20 anos, a família Madeira comanda o estabelecimento que, nesta última terça-feira, perdeu 100% do seu armazenamento por conta das fortes chuvas e agora tem o risco de fechar as portas.

Com a tragédia na região Serrana, todos os exemplares do estoque da livraria estão no chão da calçada, amarelados e completamente encharcados. A cena chocou milhares de usuários do Twitter, nesta sexta-feira, que lamentaram a perda de Madeira.

O gestor estima que o prejuízo tenha sido de R$ 500 mil, que terão de ser pagos às editoras parceiras da livraria.

No final do ano, por conta das datas festivas, as livrarias costumam trabalhar com grande parte do estoque consignado das editoras e, nos primeiros meses do ano seguinte, devolvem os exemplares. Os livros, que estavam separados no subsolo da loja, eram para fazer essa devolução.

Como foram perdidos, teoricamente, o empreendedor teria que pagar por eles. Madeira afirma não saber como a situação fica em questões de calamidade pública, decretada pela prefeitura.

"Aqueles livros ficaram embaixo d'água submersos e expostos à lama e poeira por mais de 36 horas, perdemos tudo. Vão ser destruídos, é lixo, não tem o que fazer. Os que puderem ser recuperados serão doados, mas são poucos", afirma o empreendedor ao GLOBO.

Amauri conta que a água subiu 3 metros. Além dos exemplares, a enchente danificou computadores, destruiu arquivos e a  área administrativa da livraria.

Nascido e criado em Petrópolis, Madeira, hoje com 56 anos e três filhos,  construiu sua vida no município destruído pelos deslizamentos. O representante do estabelecimento se emociona ao falar da cidade e agradece por ter conseguido se salvar da tragédia.

"A nossa perda foi material, eu sou petropolitano nascido aqui. Minha esposa e eu nos conhecemos aos 16 anos, na escola, é uma vida. Nós estamos mais consternados com as outras pessoas e agradecidos de estarmos vivos", diz Madeira.

A Nobel de Petrópolis tem um projeto que leva autores para conversar sobre literatura e cultura com alunos das escolas de Petrópolis. Amauri Madeira faz um apelo aos leitores, para que "comprem em livrarias do seu bairro para gerar fortalecimento da economia local".

O empreendedor afirma querer resistir e continuar com a livraria aberta na cidade, mas que precisará de apoio para tanto. Por conta da pandemia, ele já precisou pegar um empréstimo para manter o estabelecimento funcionando. Se precisar contrair outra dívida,  irá piorar a situação financeira da loja.

"A livraria é uma paixão, é um trabalho de missionário. Cada livro é uma história. Ver os livros perdidos nos dói muito. Nós somos trabalhadores apaixonados pela difusão da cultura.  Nesse lugar é onde está meu coração", resume Madeira.