Música

Erasmo Carlos revisita a Jovem Guarda em álbum compilado por memórias

"Tremendão", aos 80 anos, segue ávido pelas paradas musicais e esboça o roqueiro bom moço dos idos tempos do "iê iê iê"

Erasmo Carlos, cantor e compositor - Guto Costa

Se foi para celebrar suas oito décadas de vida – completadas em junho de 2021 - e evocar memórias afetivas dos (bons) tempos das tais ‘tardes de domingo’, o cantor e compositor Erasmo Carlos acertou em trazer à tona o passado, em um presente que segue clamando por um futuro tão revolucionário na música como os idos anos do Rock’n’Roll brasileiro introduzido pela Jovem Guarda.

O álbum “O Futuro Pertence à... Jovem Guarda (Som Livre), recentemente lançado nas plataformas digitais, e o repertório pautado por clássicos da época retomados pelo “Tremendão”, foi assertivo, portanto. Um resgate que traz de volta a alma de roqueiro do artista carioca e, ao mesmo tempo, o viés romantizado e terno que sempre coube a uma das vozes de peso do “iê-iê-iê”.

Com assinatura de Pupillo na direção musical e de Marcus Preto na direção artística, o disco começou a ser apresentado em dezembro, a partir do lançamento do single “A Volta” – disponibilizado digitalmente junto a um ">lyric vídeo no YouTube.
 


 



Do cancioneiro conhecido de Roberto Carlos, parceiro de anos de Erasmo, a música é uma das prediletas do grande público e a ‘filha única’ produzida por eles. A versão marcou a estreia das releituras que viriam a seguir, com faixas do movimento da Jovem Guarda, e algumas inéditas em sua voz.
 

 



Além dela, outras sete compõem o trabalho, entre elas “Esqueça” (Roberto Corte Real), “Devolva-me” (Lilian Knapp/Renato Barros) – mais recentemente cantada por Adriana Calcanhotto – e “O Bom” (Eduardo Araújo/Carlos Imperial”) – em versão que ganha potência ‘rock’n’roll’ com as guitarras de Pedro Dias e a bateria de Rick Frainer, além de mixagem e masterização assinada por Carlos Trilha.

E em se tratando do espírito roqueiro do Tremendão –  integrante que foi da conhecida Turma da Tijuca da década de 1950, reduto que abrigava, por exemplo, um até então desconhecido Jorge Ben Jor – é resgatado na versão dada por ele a “Nasci Para Chorar” (Born to Cry, de Dion DiMucci, 1962), faixa que abre o álbum.

“Tijolinho” (Wagner Benatti) também passeia pelos mesmos ares. Já a música de Demetrius, “O Ritmo da Chuva”, versão abrasileirada de “Rhythm of the Rain” (John Claude Gummoe) que estourou na época, esboça um Erasmo romântico, terno e cativante, que sempre carregou a fama de bom moço da sonoridade música popular brasileira da década de 1960, a Jovem Guarda.

 

Crédito: Guto Costa


E em “Alguém na Multidão”, de Rossini Pinto, sucesso com os Golden Boys, que juntos aos VIPS e a Renato e seus Blues Caps paira entre os grandes do movimento, o oitentão da Jovem Guarda assina com maestria interpretação que ressoa como se a canção tivesse sido escrita pelo próprio, apesar do contraponto à versão original da música, uma das clássicas que levavam as multidões ao delírio.

A plenitude de Erasmo como intérprete, em um disco que soa como “revival” de uma época que viria anteceder o rock no País, faz-se presente em todas as oito faixas.



“O Futuro Pertence à... Jovem Guarda" é, de fato, uma compilação de (boas) memórias, e para quem o consome especialmente, já que traz o “combo” Jovem Guarda + Erasmo Carlos de volta ‘às paradas musicais’.

Aconchegante na medida certa e com o chamariz necessário para um Tremendão roqueiro dos velhos tempos, o álbum reflete o quão embalado pela música Erasmo Carlos segue, embora desnecessário provar sua efervescência atemporal e entranhada em suas mais de cinco décadas de trajetória como artista, compositor de centenas de músicas que acompanham e atravessam gerações.