Perícia contratada pelo Fluminense vê suposto grito de macaco como inconclusivo
Laudo pericial conta com 29 páginas
O Fluminense protocolou, nesta terça-feira, no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJD-RJ), o laudo pericial relacionado ao suposto caso de racismo sofrido por Gabigol, do Flamengo, no clássico do último dia 6. Inicialmente, o tricolor contratou uma empresa para identificar quem seria o torcedor que teria chamado o atleta de macaco. Como resposta, recebeu que o grito era inconclusivo, de acordo com testes feitos em laboratório.
O GLOBO teve acesso ao documento enviado pelo instituto 'Forense Pro' ao Fluminense, que conta com 29 páginas elucidando o caso. A assinatura é feita pela perita Valéria Leal. O documento protocolado pelo Flamengo no TJD-RJ, de autoria do perito Ricardo Molina, tem apenas quatro.
No documento, a empresa Forense Pro confirma que solicitou ao Fluminense o envio de arquivos para pesquisa. No documento, são registrados cinco imagens distintas, cinco vídeos e o link da postagem que viralizou no Twitter quando o caso veio à tona. Na conclusão, a fala é considerada "fragmentada".
Uma das várias explicações dadas pela perícia para chegar a esta resposta tem a ver com a ausência de vibrações das cordas vocais, não registradas no vídeo. Há, inclusive, a explicação de que homens emitem sons entre 80hz e 150 hz, enquanto as mulheres variam entre 150hz e 250hz.
O vídeo em questão, feito por um iPhone segundo o documento, também esclarece que apesar do zoom dado na filmagem, o microfone permanece próximo ao autor. Ou seja, o grito teria vindo do setor Oeste Superior e não da ala inferior.
Neste ponto, a perícia foi ao Nilton Santos e concluiu que a distância do setor Oeste Superior para onde Gabigol estava localizado é de cerca de 40 metros. Em testes feitos com estádio vazio, a identificação da pronúncia é considerada difícil. Com ele lotado, o barulho dificultaria ainda mais a interpretação.
No espectro sonoro, a perita mostra um teste que realizou em laboratório sobre como seria a palavra macaco captada por um microfone. Na cena, ela é dita quatro vezes, sendo em duas com a última vogal 'o' dita de forma mais extensa para emular o que teria sido dito no estádio.
No vídeo em questão, devido ao ruído de fundo e mascaramento dos sons externos, nao é possível ter a certeza científica de que foi dito "macaco". O documento também cita que há uma explicação científica para o cérebro humano entender palavras inconclusivas. É citado o termo 'IN73lig3nc1!@', que é facilmente lido como inteligência. O mesmo serve para áudios.
Na conclusão, a perita informa que o Fluminense forneceu documentos, fotos, mapa de localização e vídeo panorâmico.
Neste momento, o inquérito se encontra em fase investigativa. Ou seja, ainda irá ouvir, buscar novos detalhes e denúncias para tentar identificar as pessoas envolvidas no caso. Rafael Fernandes Lira foi sorteado para ser o relator. A previsão é que o inquérito seja concluído em até 15 dias após a sua abertura.
De acordo com o Código Brasileiro de Justiça Desportiva, a pena para a ofensa racista comprovada é, no caso de um torcedor, de 120 a 360 dias de suspensão em jogos, além de multa de R$ 100 a R$ 100 mil. No caso de atleta ou membro de comissão técnica, suspensão de cinco a dez partidas mais a multa.
No último dia 14, o laudo solicitado pelo Flamengo alegou que houve, sim, gritos racistas contra Gabigol após análise feita por Ricardo Molina. Também houve a confirmação de que a gravação apresentada é autêntica, sem edição.
As peças foram deferidas pela presidente do TJD, Renata Mansur, que determinou que o conteúdo deve ser analisado pela Procuradoria e designado relator por sorteio para o caso. Trata-se do Dr. Rafael Fernandes Lira. A previsão é de concluir as investigações em 15 dias.
No último dia 18, Gabigol compareceu de forma remota ao Tribunal de Justiça Desportiva do Rio de Janeiro (TJD-RJ) e confirmou ter ouvido o grito de "macaco" no clássico, mas afirmou que não conseguiu identificar o torcedor na arquibancada.
O atacante Gabigol, do Flamengo, teria sido vítima de insultos racistas de ao menos um torcedor enquanto se dirigia ao vestiário do Estádio Nilton Santos durante clássico diante do Fluminense, no último dia 6.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, gritos dão a entender a palavra "macaco" direcionados ao jogador. Em nota, o Fluminense classificou qualquer atitude de racismo como "intolerável" e diz que irá ajudar na apuração do caso.
O Flamengo se manifestou por meio das suas redes sociais em solidariedade ao atleta. O clube classificou o episódio como "lamentável". O atacante compartilhou a publicação do clube em seguida e afirmou que é "inadmissível que passemos por isso".