Putin lança 'operação militar' e invade cidades da Ucrânia
Presidente da Rússia anunciou operação em discurso televisonado durante a madrugada
O presidente russo, Vladimir Putin, anunciou, nesta quinta-feira (24), uma "operação militar" na Ucrânia e pouco depois começaram os bombardeios em grande parte do país, inclusive na capital, Kiev, em um ataque condenado com firmeza pela comunidade internacional e pelo governo ucraniano, que pediu ao mundo que force Moscou a respeitar a paz.
Os esforços diplomáticos das últimas semanas e a imposição de sanções ocidentais à Rússia não bastaram para dissuadir o presidente russo, que tinha mobilizado há semanas entre 150.000 e 200.000 militares ao longo das fronteiras com a Ucrânia.
"Tomei a decisão de uma operação militar", declarou Putin em um discurso televisionado na madrugada, que provocou a condenação imediata do presidente americano, Joe Biden, e de outros líderes ocidentais e afetou os mercados financeiros internacionais.
Pouco depois começaram a ser ouvidas explosões em várias cidades ucranianas, da capital, Kiev, a Kharkov, a segunda cidade do país na fronteira com a Rússia, mas também em Odessa e Mariupol, às margens do Mar Negro.
Na capital e em Lviv, no oeste, foram ativadas as sirenes de alerta para bombardeios, e horas depois guardas fronteiriços ucranianos afirmaram que tropas terrestres russas tinham entrado no país.
Ucrânia reage
O presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, anunciou o decreto da lei marcial em todo o país, mas pediu para a população não entrar em pânico e afirmou que a Rússia estava atacando sua "infraestrutura militar".
Posteriormente, pediu ao mundo para criar uma "coalizão anti-Putin" para forçar a Rússia a respeitar a paz.
Seu ministro de Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, alertou para uma "invasão em larga escala" com "cidades pacíficas ucranianas sob ataque". "A Ucrânia vai se defender e vencer. O mundo pode e deve frear Putin", urgiu.
O exército ucraniano afirmou ter derrubado cinco aviões e um helicóptero russos no leste do país, enquanto Moscou reivindicou ter destruído os sistemas de defesa antiaérea e ter deixado "fora de serviço" as bases aéreas da Ucrânia.
O ministério ucraniano de Assuntos Exteriores afirmou em um comunicado que a operação militar russa busca "destruir o Estado ucraniano, apoderar-se de seu território à força e estabelecer uma ocupação".
A pasta urge à comunidade internacional a "agir imediatamente". "Só as ações unidas e fortes podem deter a agressão da Ucrânia por Vladimir Putin", assegurou.
"O mundo responsabilizará a Rússia"
Em sua mensagem televisionada, Putin tinha instado os soldados ucranianos a depor as armas e justificou seu ataque por um suposto "genocídio" da população russófona no leste da Ucrânia. Mesmo assim, assegurou que não busca uma "ocupação", mas sim a "desmilitarização" do país vizinho.
Na véspera, os rebeldes separatistas pró-russos, cujos territórios tinham sido reconhecidos como independentes por Moscou na segunda-feira, tinham pedido a ajuda do Kremlin para "se contrapor" ao exército de Kiev.
"Consequências severas para a Rússia"
Depois de meses de escalada de tensão, os acontecimentos se precipitaram a partir do fim da semana passada, com um aumento das hostilidades no leste da Ucrânia, cenário de uma guerra desde 2014 entre Kiev e os separatistas pró-russos, que deixou mais de 14.000 mortos.
Na segunda-feira, Putin reconheceu a independência das "repúblicas" separatistas de Donetsk e Lugansk e questionou a própria legitimidade da existência da Ucrânia. Um dia depois, o Parlamento russo deu luz verde para o envio de forças russas para a Ucrânia.
Ao longo do dia, a Ucrânia mobilizou seus reservistas de 18 a 60 anos, que podem elevar de 200.000 a 250.000 o contingente de suas forças. A Rússia dispõe de um exército de até um milhão de tropas ativas e um arsenal mais desenvolvido e modernizado.
Desde o início da crise, os Estados Unidos e a União Europeia prometeram adotar duras sanções contra a Rússia caso o país atacasse a Ucrânia. Esta semana, após o reconhecimento da independência dos territórios rebeldes de Donetsk e Lugansk, Washington e Bruxelas aprovaram um primeiro pacote de medidas.
A União Europeia congelou bens e proibiu vistos para o ministro da Defesa e os comandantes militares russos, além de outras autoridades do governo.
Os Estados Unidos, por sua vez, adotaram medidas contra bancos e oligarcas russos e sanções contra a empresa encarregada da exploração do gasoduto Nord Stream II, que liga a Rússia à Alemanha, depois que Berlim anunciou sua suspensão.
Em nota conjunta, Von der Leyen e Michel anunciaram que durante a cúpula de quinta-feira serão abordadas "novas medidas" punitivas na forma de "enormes sanções que terão severas consequências para a Rússia".
Muitos temem que a crise entre Rússia e Ucrânia possa culminar no pior conflito na Europa desde 1945, quando terminou a Segunda Guerra Mundial.
A ofensiva russa pode desencadear uma "nova crise de refugiados" com até cinco milhões de pessoas deslocadas, alertou nesta quarta a embaixadora americana na ONU em Nova York.