'Pária' para os ocidentais, Putin faz pouco caso de isolamento, advertem analistas
Reprovações internacionais se multiplicam desde que as tropas russas invadiram a Ucrânia nesta quinta-feira (24) de madrugada.
A invasão da Ucrânia poderia converter Vladimir Putin em um "pária" para a comunidade internacional, mas o presidente russo não teme o isolamento nem a possibilidade de minar a ordem internacional, afirmam especialistas.
As reprovações internacionais se multiplicam desde que as tropas russas invadiram a Ucrânia nesta quinta-feira (24) de madrugada.
"Putin é visto atualmente como a ameaça mais iminente para o nosso sistema de democracia liberal ocidental", destaca o analista Timothy Ash, da empresa de consultoria financeira Blue Bay Asset.
"É interessante ouvir os dirigentes ocidentais. Há um verdadeiro escândalo e muita emoção. Se sentem decepcionados e ameaçados por Putin", que se transformou "no pária número um para os ocidentais", resume o especialista em nota enviada à AFP.
Por conseguinte, "a Rússia poderia afundar em um ostracismo político e econômico sem precedentes e por muito tempo", submetida a sanções extraordinariamente severas por parte dos países europeus e dos Estados Unidos, escreveu em um tweet Comfort Ero, presidente-executiva do International Crisis Group (ICG), especializado na resolução de conflitos.
A Rússia - e, portanto, Putin - vem sofrendo com sanções desde que a Rússia anexou a Crimeia em março de 2014, e pelo envenenamento do opositor Alexei Navalny. Porém, reina a impressão de que nenhuma medida teve qualquer efeito sobre o presidente russo, exceto para aumentar sua intransigência.
"Há cerca de um ano e meio, o Kremlin tem se preparado velozmente para o caso de o Ocidente decidir impor as sanções mais severas possíveis", destaca à AFP a analista Tatiana Stanovaia, fundadora do R.Politik, um centro que se define como independente.
Putin "considera que as sanções não têm como objetivo impedir a agressão russa, mas frear o desenvolvimento da Rússia", acrescenta.
- 'Reservas abundantes' -
E a Rússia espera um "conflito de longa duração com o Ocidente", adverte Stanovaia.
Diante de tal eventualidade, faz tempo que Moscou começou a encher o cofre, em particular com reservas em divisas.
"As abundantes reservas em divisas estrangeiras da Rússia [cerca de 640 bilhões de dólares], o aumento dos preços do petróleo e a baixa relação entre dívida e PIB permitiriam à Rússia se contrapor ao impacto direto das sanções, inclusive se tiver que enfrentar uma recessão no longo prazo", tuitou o analista do fundo de investimento britânico ICG, Oleg Ignatov.
Contudo, essas medidas poderiam transformar a Rússia em um mercado "pária, inviável para os investidores", afirma Timothy Ash, mencionando a queda da bolsa russa nesta quinta-feira.
Um debacle que o Kremlin afirma ter "previsto". "Para que este período 'emocional' seja o mais breve possível, foram tomadas todas as medidas necessárias", assinalou o porta-voz Dmitry Peskov.
O Kremlin também minimizou as consequências diplomáticas da invasão russa. "Certamente, poderemos ter problemas com alguns Estados. Mas já tivemos problemas com esses Estados antes inclusive" desta operação, assinalou Peskov.
- Vínculos rompidos -
Segundo Comfort Ero, a invasão da Ucrânia "não é somente uma crise de segurança europeia". "As repercussões desta guerra para a segurança global serão graves e duradouras", adverte.
"Evidentemente, a Rússia se transformará em um pária durante algum tempo", prevê Alexander Baunov, analista do grupo americano Carnegie em Moscou. "Quanto mais durar esta operação, mais vínculos e compromissos econômicos entre a Rússia e outros países se romperão", avalia.
Isolado diplomática e economicamente do Ocidente, Putin poderia se aproximar de outros países, como China e Irã, que até agora se mostraram reticentes a condenar a Rússia. Inclusive, o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, se encontrava nesta quinta-feira em visita a Moscou.
Pequim, por sua vez, afirmou nesta quinta-feira que "entende as preocupações" de Moscou, enquanto Teerã denunciou as "provocações" da Otan como a raiz do conflito russo-ucraniano.
E o Kremlin poderia contar, em algum momento, com a China em um eventual papel de mediador, prevê Timothy Ash.