Carnaval 2022

Carnaval de Pernambuco: mais um ano ritmado pela saudade

Festa mais popular do Estado, o Carnaval é cancelado pelo segundo ano consecutivo por causa da pandemia da Covid-19

Pelo segundo ano consecutivo, Pernambuco não terá Carnaval - Marconi Meireles /Folha de Pernambuco

Saudade... não do tipo que ecoa como lembrança assentada na máxima de que “ano que vem tem mais”. Trata-se da saudade doída, melancólica, triste, solitária, tais quais estão as ruas Pernambuco afora em mais um ano sem Carnaval, (ainda) silenciado por uma pandemia que segue ameaçadora.

Em meio ao vazio e ao silêncio, como reflexo de tempos que seguem difíceis, embora com lampejos de que o “vai passar” está mais próximo, o Sábado de Zé Pereira não chegou, o Galo da Madrugada não vai cantar, o Homem da Meia-Noite não vai sair, as ladeiras de Olinda não serão tomadas, tampouco o Bairro do Recife vai explodir em multidão, cores, ritmos e cultura.

Crédito: Alexandre Aroeira


Os papangus de Bezerros, no Agreste? Também não vão dar o ar da graça, e nem os caboclos de lança do Maracatu de Baque Solto de Nazaré da Mata, na Mata Norte pernambucana, vão seguir a tradição. Haja saudade... acumulada de dois anos consecutivos sem a maior festa popular do País, que pelas bandas de cá, faz-se a melhor do mundo.

Sem Galo nem Calunga
Dias incomuns, que outrora eram passageiros, já que havia esperança de que 2022 seria o ano para compensar, por exemplo, a não-saída no ano passado, pela primeira vez em mais de quatro décadas, do maior bloco do mundo, o Galo da Madrugada, e já estamos no segundo ano sem o mestre de cerimônia do Carnaval de Pernambuco, imponente, na Ponte Duarte Coelho - travessia que segue aberta para pedestres.

Se os dias normais estivessem, a passagem estaria permitida (apenas) para os foliões celebrarem o 44º desfile do bloco, cujo tema seria “Viva a Vida. Viva o Frevo”, e assim, oficialmente, a abertura da Folia de Momo estaria decretada.

Já o maior símbolo da folia em Olinda, o Homem da Meia-Noite, este ano celebraria nove décadas. Dá para imaginar como teria sido a saída do calunga de dente de ouro, fraque e gravata borboleta, testemunhada por milhares de súditos em meio às ruas estreitas do Largo do Bonsucesso? Sim, dá para imaginar e contorcer-se de vontade, do tipo que dá e não passa. 

Que seja em 2023
Mas ser do Recife, encantar-se por Olinda e esbaldar-se no interior do Estado, é ser Pernambuco com orgulho (e com saudade), e sem vontade de chorar - parafraseando o mestre Antônio Maria e a poesia do seu Frevo nº 3. Dias melhores e mais leves, tais quais são os dias de Carnaval, hão de voltar.

Que seja em 2023. Mas basta apenas que seja, que volte e que leve embora tudo que não combina com o “Carnaval melhor do meu Brasil”, como bradou envaidecido Getúlio Cavalcanti em toda verdade que lhe coube na composição de “Último Regresso”.

À espreita do tempo que contribui por não parar nunca, a contagem regressiva da ingrata Quarta-feira de Cinzas já pode ser antecipada, com a escuta sempre audível dos clarins de Momo que segue atenta aos sinais de que o próximo Carnaval há de ser o mais festejado e na vastidão, sem falsa modéstia, de que é “Só aqui que tem, só aqui que há”.