MUNDO

'Não podemos voltar', dizem os primeiros refugiados ucranianos na Alemanha

Uma mulher ucraniana segura um bebê chorando na fronteira eslovaco-ucraniana em Vysne Nemecke em 25 de fevereiro de 2022, após a invasão da Ucrânia pela Rússia - Peter Lazar / AFP

Svetlana soube que era hora de deixar a Ucrânia quando o tráfego foi interrompido no aeroporto perto de sua casa em Kharkiv. De lá ela fugiu para o oeste, passou pela Polônia, e agora pede asilo na Alemanha.

"Foi intuição. Quando os aviões pararam de voar, sabíamos que algo sério havia começado", explicou à AFP, com o filho de dois anos e meio nos braços, enquanto esperava para ser registrada com seu marido em um centro de recepção em Berlim. 

Esta família faz parte do primeiro grupo de refugiados que chegou na Alemanha depois de fugir da guerra na Ucrânia. 

Embora a maior economia da Europa não esteja na linha de frente da recepção de deslocados em comparação com a Polônia ou Romênia, pode rapidamente se tornar um grande anfitrião de refugiados.

Neste sábado, o governo polonês anunciou que quase 100.000 ucranianos já tinham cruzado a fronteira desde o início da invasão russa. 

Berlim prometeu ajuda aos ucranianos que fogem das bombas e o país tem uma forte reputação de anfitrião generoso, após a chegada em 2015 de centenas de milhares de imigrantes das guerras no Oriente Médio, principalmente na Síria, além de outros conflitos.

No ano passado, recebeu milhares de pessoas após uma nova "crise migratória" em Belarus. 

Para o oeste 
Para Svetlana e sua família, a odisseia começou na terça-feira. Juntaram alguns pertences em um "carro velho" e começaram a rota para o oeste.

Menos de dois dias depois, o presidente russo anunciou a invasão de seu país.
"No oeste do país, em Lviv, não conseguimos encontrar nenhum lugar para dormir", contou Svetlana. Eles então continuaram seu caminho, primeiro para a Polônia e na sexta-feira chegaram a Berlim. 

Quando perguntada por que não ficaram na Polônia, um país mais próximo ao dela, a mulher caiu em prantos. "Não podemos voltar para casa".

"Hoje recebemos 75 ucranianos. Isso não é muito, mas esperamos muito mais nos próximos dias", explicou Sascha Langenbach, porta-voz do órgão de gestão de migrantes na capital alemã. 

"A consternação com o que está acontecendo é quase palpável", contou.

Nesse recinto localizado no norte de Berlim, os responsáveis prepararam 1.300 leitos e esse número deve dobrar nos próximos dias.

Também há planos para reforçar as equipes com pessoas que falam ucraniano ou russo. 

O procedimento consiste em registar os requerentes de asilo num primeiro centro de acolhimento e depois encontrar-lhes um lar permanente.

Flexibilizar a legislação 
Os responsáveis por este centro aconselham aqueles que podem esperar um pouco que o façam, pois acreditam que as autoridades vão flexibilizar a legislação para os ucranianos. Isso agilizará os procedimentos.

"Isso ajudaria muito a integração deles aqui", diz Sascha Langenbach. 

Dmitri Chevniev, um tatuador de 39 anos, é uma das pessoas que vai esperar antes de pedir asilo. Ele já estava em Berlim depois de uma viagem para visitar alguns amigos.

"Cheguei há duas semanas e agora não posso ir para casa", contou.

Sua esposa e filho de quatro anos estão atualmente na Rússia para visitar a família. A partir deste centro ele tenta descobrir como trazê-los para a Alemanha. 

Já Stanislav Shalamai, de 26 anos, está aliviado por ter encontrado um teto sobre a cabeça. Ele saiu de Kiev em 15 de fevereiro em meio aos crescentes temores de guerra.

"Eu estava nervoso, então peguei minhas coisas e fui embora", relatou.

Com uma mochila de lona e um saco de dormir, pegou um ônibus para Varsóvia e depois outro para Berlim. 

Atualmente é difícil para ele entender o que está acontecendo em seu país.

"Quarenta milhões de ucranianos vivem lá, ninguém lhes perguntou nada e de repente um exército veio e começou a atirar nas pessoas", lamenta.

"Não sei o que vai acontecer comigo aqui. Não sei o que vai acontecer com a Ucrânia, vou ter que esperar", suspira.