Relação de Bolsonaro com Mourão, escolhido de véspera para vice, tem altos e baixos
Sem vaga na campanha do presidente para a reeleição, general da reserva acumula atritos com o titular do Planalto desde antes do início do governo
Na madrugada do dia 5 de agosto de 2018, um domingo, data-limite para o registro de chapas à Presidência, o general da reserva Hamilton Mourão foi escolhido como vice do então candidato Jair Bolsonaro.
O acordo de última hora foi motivado por um dossiê contra outros postulantes, conforme revelado por aliados do presidente em 2019, e deu origem a uma parceria com militares da reserva marcada desde a origem por altos e baixos. O Planalto tenta evitar a repetição desse cenário, ainda que a escolha do substituto de Mourão, descartado para o posto, já provoque um jogo interno de pressões.
Sem vaga na campanha para a reeleição, Mourão definiu como plano concorrer ao Senado pelo Rio Grande do Sul. Para isso, deixou o nanico PRTB e se filiou ao Republicanos. A nova sigla de Mourão, por sinal, também tem um histórico de entreveros com Bolsonaro, e hoje ameaça um desembarque da campanha do presidente.
Os atritos entre Mourão e o entorno de Bolsonaro começaram logo após a facada contra o então presidenciável, em Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018. Quatro dias depois do episódio, Mourão pediu para “acabar com a vitimização”, referindo-se à exposição de imagens de Bolsonaro na cama do hospital, e avaliou que aquela situação já tinha dado “o que tinha que dar”. Mourão também declarou que a campanha avaliava a possibilidade de ele participar de debates no lugar de Bolsonaro. Meses depois, já durante o governo, o vereador Carlos Bolsonaro relembrou as falas de Mourão e criticou o vice nas redes.
Na campanha, Mourão foi repreendido pelo próprio Bolsonaro ao referir-se ao 13º salário como “jabuticaba brasileira” e “uma mochila nas costas de todo empresário”, sugerindo ser contrário também ao abono de férias. À época, o então presidenciável disse que a crítica de Mourão era “uma ofensa a quem trabalha”.
Durante o primeiro ano de governo, Mourão voltaria a ser alvo de críticas de Carlos e da militância bolsonarista devido à sua postura, que aparentava buscar contrapontos ao presidente. Um dos episódios que incomodou o vereador carioca, por exemplo, foi a defesa de Mourão de que a população da Venezuela estivesse desarmada para evitar uma guerra civil no país. Bolsonaro, por sua vez, argumentou diversas vezes favor do armamento da população no Brasil, citando a Venezuela como exemplo negativo.
A relação entre presidente e vice também teve momentos de calmaria. Mourão afirmou seguidas vezes que tinha “fidelidade”, e Bolsonaro sugeriu, em dezembro, que poderia escolher “até o próprio Mourão” como vice de novo. Na última semana, porém, o presidente voltou a expor o desgaste do relacionamento ao desautorizar o vice publicamente, desta vez após Mourão dizer que o governo não concorda com a invasão da Ucrânia pela Rússia.