Novelas

Na pele do protagonista Davi, Rafael Vitti valoriza seu papel trágico na trama de "Além da Ilusão"

O ator teve a chance de contracenar ao lado do pai nos primeiros capítulos da trama das seis

Rafael Vitti e Larissa Manoela na trama 'Além da Ilusão' - João Cotta/Globo

A trama de “Além da Ilusão” ainda não fechou seu primeiro mês. Rafael Vitti, porém, já crava a importância desse projeto em sua trajetória.

Após quase dois anos de espera por conta dos atrasos em virtude da pandemia de Covid-19, o ator finalmente começa a ver no ar seu trabalho como o protagonista Davi Jardim. Quase 10 anos após sua estreia na tevê em “Malhação”, ele encara um personagem distante do universo infantojuvenil, abrindo espaço para tramas mais dramáticas e profundas em sua trajetória no vídeo.

“Assim como foi o Pedro, de ‘Malhação’, o Davi vai ser uma virada de chave para mim. O público vai poder me ver em trabalho diferente. Acho muito simbólico reencontrar o Luiz Henrique Rios (diretor) em um projeto mais maduro. Ele me dirigiu na minha estreia e, agora, está ao meu lado nesse trabalho chave novamente. Com o Davi, quero que as pessoas se envolvam com a trama, torçam pelo personagem. Isso faz um movimento muito bom para a novela”, analisa.

Na história das seis de Alessandra Poggi, Davi é jovem honesto, justo e batalhador, que decide sobreviver realizando truques de mágica, que aprendeu com o avô, na esperança de fazer uma carreira como ilusionista. Porém, ao se apaixonar por Elisa, papel de Larissa Manoela, ele sela o seu destino de forma trágica. Após ser acusado injustamente pela morte da amada, Davi passa 10 anos na prisão.

Ao fugir de lá, sofre um acidente de trem e assume uma nova identidade, indo parar em Campos dos Goytacazes para assumir o posto de administrador da fábrica de tecidos pertencente à família de Elisa. Ao rever a irmã mais nova da finada amada, Isadora, que cresceu e está idêntica à Elisa, se apaixona por ela.

“O Davi tem esse sonho de ser um grande mágico. É muito talentoso e generoso, uma pessoa bondosa, de bom coração, que sofre uma grande injustiça, mas não perde as esperanças, sabe? Ele é uma pessoa que acredita e é um personagem muito forte. Apesar de ter um diploma, ele sonha com as coisas simples da vida. Quer levar alegria para as pessoas. Sou muito empolgado com essa história”, vibra.

P – Após dois anos de espera, a trama de “Além da Ilusão” finalmente estreou na grade da Globo. O que mais chamou a sua atenção nesse trabalho?

R – É muito bom ver esse projeto finalmente ganhando forma. Estamos há dois anos envolvidos e esperando essa novela acontecer. Acho que essa trama é uma história basicamente sobre o amor. O amor engloba encantamento, paixão, sonhos, planos, vontades e desejos. Mas a estrutura fundamental do enredo é o amor. Tudo acontece porque o Davi e a Elisa decidiram viver esse amor genuíno. Mesmo com todos os pesares para enfrentar.

P – Depois de 10 anos preso por um crime que não cometeu, o Davi foge da cadeia e vai em busca de restabelecer sua vida. Porém, acaba se apaixonando pela irmã do seu grande amor do passado. Como irá se desenvolver essa delicada relação entre o Davi e a Isadora?

R – Acho que a situação do Davi é bem difícil. O único objetivo dele é provar a inocência dele e ter a vida de volta. Mas, por uma ironia do destino, ele acaba parando onde tudo começou. Ele se depara com essa menina que é a cara da Elisa. Isso gera uma confusão mental nele. Primeiro é um choque e tenta resistir aos sentimentos. Mas ninguém manda no coração. Eles se apaixonam e se aproximam porque têm valores muito parecidos, nutrem uma admiração um pelo outro. Então, o Davi se permite viver esse amor sem julgar ou se sentir culpado.

P – Como tem sido mergulhar em uma produção de época?

R – Eu sempre quis fazer novela de época. Cheguei a integrar o elenco de “Verão 90”, que era uma novela de época, mas falávamos de um período mais próximo (década de 1990). Não é tão distante de como vivemos hoje. 1940 é outro momento da humanidade, né? As pessoas viviam de forma diferente. Tem uma postura e uma forma de falar completamente novas. A gente fala muito acelerado. Porém, naquele tempo, as pessoas tinham outra métrica para falar, passar informação. Meu vocabulário está sendo ampliado. Vou descobrindo várias palavras novas no texto. O bom do nosso trabalho é poder se debruçar sobre os assuntos e estudar. Estamos sempre aprendendo algo novo. Estou realmente me descolando do tempo atual. Acho que a época é a cereja do bolo desse trabalho.

P – Como assim?

R – Acho que estamos contando uma história que poderia ser reproduzida em qualquer momento. A história é sobre motivações humanas, que sempre existiram e sempre vão existir. Os jovens vão encontrar questões que todo mundo passa. Temos uma diversidade enorme de temas sendo tratados.

P – O trabalho de pré-produção começou de forma remota por conta dos protocolos de segurança no combate à Covid-19. Como foi esse processo de transição do “online” para o presencial?

R – Uns dois meses antes da preparação presencial, a gente começou com o trabalho remoto de casa. Quando chegamos para nos encontrar, foi um choque. Foi como se ninguém soubesse como se comportar. Pode encostar? Pode tocar? Tudo isso deu uma sensibilidade enorme para trabalharmos e construirmos as relações. Para mim, pelo menos, essas relações de casais são construídas na base da confiança. Quero sempre que minha parceira saiba que pode confiar em mim. Eu e a Larissa ainda tínhamos de construir dois casais, né? O Davi e a Elisa e, depois, o Davi com a Isadora.

P – Na novela, o Davi é um ilusionista. Apesar de todos os recursos de efeitos especiais, como foi sua preparação para viver um mágico em cena?

R – A mágica sempre foi uma arte que eu tive muito interesse. Eu já tinha tido algum contato com a mágica quando participei do “Truque Vip”, do “Domingão do Faustão”. Então, quando soube que o Davi seria um ilusionista, fui atrás de aprender mais. Conheci um mágico incrível que, além de me passar os truques, também me mostrou o que é ser mágico. Isso foi importante para me sentir seguro em cena. É uma arte muito complexa. Mesmo com toda ajuda de ângulo de câmera e edição, tem de praticar muito para ficar minimamente crível. Eu sentia que tinha de aprender mesmo para me sentir seguro em cena. Fiquei três meses praticando, diariamente, com anel, baralho e moeda.

P – Recentemente, você revisitou sua estreia na tevê com a reprise de “Malhação – Sonhos”. Qual a importância desse trabalho na sua trajetória?

R – Foi um grande acontecimento na minha vida. Foi a virada de chave de tudo, onde conheci o Luiz Henrique Rios (diretor). É simbólico voltar a trabalhar com o Luiz em um momento em que estou fazendo um personagem que exige uma maturidade maior. Não é um garoto, mas um homem que carrega responsabilidades. “Malhação” foi um projeto muito especial na minha carreira, mas confesso que até pouco tempo eu não gostava de rever muito.

P – Por quê?

R – Hoje eu adoro rever, sempre que podia eu via um pouco. Mas, por um tempo, eu olhava e falava: “Nossa, estava viajando nessa ‘Malhação’”. Hoje, porém, eu percebo como eu era corajoso, fazia propostas, me jogava sem ter medo ou vergonha. Isso fui perdendo um pouco, mas a gente vai ganhando em experiência. Muito feliz de estar com o Luiz novamente oito anos após “Malhação” e com um personagem que acredito que vá ser uma virada de chave também. O público vai ver um trabalho diferente meu.

"Além da Ilusão" – Globo – Segunda a sábado às 18h30.

Longe de casa

Para Rafael Vitti, o trabalho em “Além da Ilusão” começou com uma energia completamente nova. Após quase dois anos longe dos estúdios, o ator iniciou seu processo de gravações em Poços de Caldas, Minas Gerais. O período na cidade mineira foi de suma importância para aproximar equipe e elenco.

“Por mim, toda novela deveria começar com uma viagem. É importante trabalhar fora do seu local usual de trabalho. Pudemos conhecer e conviver com todos além do horário de trabalho. Traz uma troca e afinidade incríveis. Acho que isso se perpetua ao longo de toda a novela”, valoriza.

Durante o período em Poços de Caldas, Rafael gravou em pontos turísticos importantes da cidade e também contou com a presença do público, que acompanhou boa parte dos trabalhos nas locações.

“As pessoas eram muito respeitosas. Tinha uma multidão acompanhando as gravações, mas todos sempre ficaram em silencio nas vezes necessárias. Foi um ótimo início de trabalho”, relembra.

De pai para filho

O ofício artístico é uma arte antiga na casa de Rafael Vitti. Filho dos atores João Vitti e Valéria Alencar, o ator teve ainda dentro de casa suas principais referências profissionais. Porém, ainda assim, ele confessa que, após alguns anos na televisão, não adquiriu o hábito de recorrer aos pais sobre seus questionamentos e dúvidas.

“Não é muito como as pessoas imaginam. Talvez, se meu pai não fosse ator, eu buscasse mais isso. Mas já cheguei com algumas dúvidas, a gente lê texto juntos. Mas não é algo para ele me falar como faria, mas sim uma troca de ideias. Acho que poderia usar mais essa experiência do meu pai”, pondera.

Em “Além da Ilusão”, Rafael teve a chance de contracenar ao lado do pai nos primeiros capítulos da trama das seis. O veterano ator fez uma participação especial na novela como o pai do protagonista Davi.

“Foi engraçado. Eu já estava super por dentro e à vontade com a equipe quando meu pai chegou. Até brinquei com ele para fazer menos, que estava muito exagerado (risos). Fiquei botando uma pilha. Temos uma relação maravilhosa, meus pais sempre foram cabeça aberta. Somos francos um com o outro”, ressalta.

 

Instantâneas

# No ar em “Além da Ilusão”, Rafael Vitti também pode ser visto na HBO Max. Ele integra o elenco do filme nacional “Júpiter – O Filme”, que está disponível na plataforma de “streaming”.

# Rafael é casado com a atriz e humorista Tatá Werneck. Os dois são pais da pequena Clara Maria, de 2 anos.

# Além dos pais artistas, Rafael também é irmão do ator Francisco Vitti.

# Depois de quase dois anos longe dos estúdios, o ator celebrou a retomada dos trabalhos no segundo semestre de 2021. “Fiquei muito emocionado. Estava precisando voltar para o ‘set’. Foi muito bom”, afirma.