Três dos cinco estados com mais eleitores devem reproduzir polarização entre Lula e Bolsonaro
Em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, candidatos apoiados por líder petista e nomes ligados ao presidente da República aparecem com mais chances nas pesquisas e devem repetir embate nacional
Três dos cinco estados brasileiros com mais eleitores caminham para ver a polarização do plano nacional se repetir em suas disputas ao governo na eleição, com um candidato ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outro ao presidente Jair Bolsonaro (PL) disputando a preferência do eleitorado.
Tanto petistas como bolsonaristas consideram provável a repetição do duelo nacional em São Paulo, Rio e no Rio Grande do Sul.
A eventual ocorrência do embate em mais locais não é descartada, mas só ficará clara ao fim do período de inscrição das chapas. É esperado que no Nordeste, onde Bolsonaro tem baixos índices de popularidade, os candidatos não se vinculem ao presidente, e as eleições para governador sejam influenciadas mais pelas conjunturas locais.
"É uma eleição nacional talvez com mais importância e, portanto, influência, que as demais. Pode ser que o espírito da eleição nacional seja tão forte e tão irresistível que se reproduza nos estados", analisa o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.
As pesquisas têm apontado uma consolidação inédita do voto nos dois primeiros colocados da disputa presidencial. Pela primeira vez em oito eleições, o líder e o segundo colocado iniciaram o ano da disputa escolhidos por metade da população no chamado voto espontâneo, aquele em que o entrevistado diz quem prefere sem ser apresentado à lista de nomes.
Em dezembro, o Datafolha constatou que Lula tem 32% das intenções de voto espontâneo, contra 18% de Bolsonaro. Já o Ipec do mesmo mês dá 40% para o petista e 20% ao presidente.
Estados com número expressivo de eleitores caminham para reproduzir cenário.
Entre os bolsonaristas, a avaliação é que os candidatos da terceira via, assim como tem acontecido na disputa presidencial, também terão dificuldade nas corridas para governador.
"A gente tem uma percepção de que essa vai ser uma campanha ideológica da esquerda contra a direita. Os que não se posicionarem de forma bem definida vão ficar pelo caminho. Acabará refletindo nos estados o que está acontecendo no cenário federal", afirma o deputado Capitão Augusto (SP), vice-presidente do PL.
Caso se consolide em São Paulo, o estado com mais eleitores do país (31,9 milhões), a polarização entre um representante do lulismo e outro do bolsonarismo derrubaria uma supremacia de 28 anos do PSDB.
As pesquisas mais recentes colocam o petista Fernando Haddad na liderança. O ex-governador Márcio França (PSB) ocupa numericamente o segundo lugar, mas há a possibilidade de ele deixar a disputa por causa do acordo nacional entre PT e PSB. O candidato de Bolsonaro será o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que planeja se filiar ao PL, sigla do presidente.
"Bolsonaro tem em São Paulo uma perspectiva de uns 25% de eleitores mais fiéis, e tudo indica que o Tarcísio tem capacidade de ser o beneficiário da transferência desses votos. Acho que a maior possibilidade é de um afunilamento do Haddad com ele. A tendência é que a campanha nacional seja muito polarizada, e isso vai se refletir na maioria dos estados", diz o secretário-geral do PT de São Paulo, Chico Macena.
Ele ressalta que o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB) não pode ser descartado, mas terá que encontrar uma forma de se descolar da alta rejeição do tucano João Doria.
No Rio, terceiro estado com mais eleitores (12,5 milhões), pesquisa internas em poder dos partidos retratam um cenário em que Marcelo Freixo (PSB), aliado de Lula, e o governador Cláudio Castro (PL), que tem o apoio de Bolsonaro, aparecem na frente.
O professor Carlos Melo ressalta, porém, que há a possibilidade de o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), influenciar na eleição e impedir a consolidação da polarização. Paes quer lançar o ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz (PSD) e vem conversando com o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT).
No Rio Grande do Sul, quinto estado com mais eleitores (8,4 milhões), o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, que vai trocar o União Brasil pelo PL, é apontado como um dos mais fortes da disputa pelos adversários.
Caso o governador Eduardo Leite (PSDB) não dispute mesmo a reeleição, a previsão é que o bolsonarista tenha como principal adversário um candidato de esquerda — o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) também almeja o posto de candidato de Bolsonaro.
O deputado Paulo Pimenta, presidente do PT gaúcho, usa o argumento da polarização para defender a manutenção da pré-candidatura do petista Edegar Pretto em vez do apoio ao ex-deputado Belo Albuquerque, como tem cobrado o PSB. Albuquerque, segundo ele, “não consegue ir no vácuo do Lula”.
"Quando há candidatos fortes à Presidência, os palanques podem reverberar, compondo quadros que convirjam, já que a competição gira em grande parte pelo controle do Executivo nacional", diz a cientista política Carolina Botelho, pesquisadora do Laboratório de Neurociências Cognitiva e Social do Mackenzie e associada do Doxa/Iesp.