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Irã e AIEA querem resolver questões pendentes para retomar acordo nuclear

O acordo nuclear foi assinado em 2015 entre Teerã e as grandes potências

O chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) Rafael Grossi (E) e o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, Mohammad Eslami (D), participam de uma coletiva de imprensa na capital Teerã em 5 de março de 2022 - AMID FARAHI / ISNA / AFP

O Irã e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmaram neste sábado (5) que desejam resolver as questões pendentes de forma "pragmática", com o objetivo de retomar o acordo nuclear assinado em 2015 entre Teerã e as grandes potências.

O anúncio aconteceu pouco antes de a Rússia afirmar que deseja "garantias escritas" dos Estados Unidos de que as sanções devido ao conflito na Ucrânia não afetarão a cooperação de Moscou e Teerã, uma exigência que pode frear o acordo.

Em uma viagem a Teerã, o diretor geral da AIEA, o argentino Rafael Grossi, se reuniu neste sábado com o ministro iraniano das Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, pouco depois de um encontro com o presidente da Organização Iraniana de Energia Atômica, Mohammad Eslami.

"Decidimos examinar as questões de forma pragmática (...) de maneira profunda, mas também com a intenção clara de chegar a um resultado", declarou Grossi.

"Chegamos à conclusão de que Irã e AIEA devem trocar documentos no mais tardar no 'khordad' (mês iraniano que começa em 22 de maio), para resolver as questões (...) como está previsto nas negociações em Viena", disse Eslami.

A visita do diretor da agência da ONU que supervisiona a energia atômica é considerada crucial para tentar ressuscitar o pacto de 2015.

O acordo assinado há sete anos por Irã, Alemanha, China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia estabelecia limites rígidos ao programa nuclear de Teerã, para que não desenvolvesse armamento atômico, em troca da suspensão das sanções econômicas.

Mas o pacto veio abaixo quando o governo dos Estados Unidos abandonou o acordo em 2018, durante a presidência de Donald Trump, que restabeleceu as sanções. Como resposta, o Irã parou de cumprir grande parte das restrições que havia aceitado.

"Linhas vermelhas" -
Os signatários do acordo original retomaram as negociações em novembro em Viena, mas desta vez o governo dos Estados Unidos participou de forma indireta. 

O objetivo das conversações é que Washington retorne ao acordo e Teerã volte a respeitar os limites impostos.

Grossi afirmou durante a semana que a AIEA nunca abandonará as tentativas de que o Irã explique a presença de material nuclear em vários locais não declarados em seu território.

Teerã, por sua vez, exige o fim da investigação da AIEA para alcançar um compromisso em Viena que salve o pacto de 2015.

"Agora que as negociações de Viena estão na fase final, uma das linhas vermelhas do Irã é fechar definitivamente o caso das alegações para não provocar mais problemas ao nosso país", insistiu Eslami neste sábado.

Para Grossi, os dois temas estão "estreitamente relacionados". "Embora os processos sejam de alguma forma paralelos... um não pode ignorar o outro", explicou.

O chefe da diplomacia iraniana, Hossein Amir Abdollahian, afirmou na sexta-feira que está preparado para viajar à capital austríaca se um acordo for alcançado.

"Estou pronto para viajar a Viena quando as partes ocidentais aceitarem nossas condições", disse.

O ministro iraniano não definiu as condições, mas seu país insiste no direito de verificar a suspensão das sanções e garantias de que Washington não sairá novamente do acordo.

Além disso, neste sábado a Rússia pediu ao governo dos Estados Unidos a garantia de que as sanções contra o país devido ao conflito na Ucrânia não afetarão a cooperação com o Irã.

"Há problemas do lado russo", declarou o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov. 

"Pedimos aos nossos colegas americanos garantias escritas (...) que as sanções não afetarão nosso direito a uma livre e total cooperação comercial, econômica, de investimentos e técnico-militar com o Irã".   

As potências ocidentais esperam obter avanços nas negociações com Teerã, depois de constatar que o regime iraniano acelerou o programa nuclear.

As reservas de urânio enriquecido são atualmente 15 vezes superiores ao limite estabelecido pelo acordo de 2015, afirmou a AIEA esta semana.