Câmara Federal

Conheça a trajetória do ex-petista que virou líder do partido de Bolsonaro na Câmara

Como boa parte de seus colegas de Centrão, Altineu Côrtes já esteve entre os adversários do governo e nem sempre vota como quer o Planalto

Altineu Côrtez - Câmara dos Deputados

A trajetória política do novo líder do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, o deputado Altineu Côrtes (RJ), sintetiza bem a caminhada de grande parte dos seus colegas do Centrão. Embora hoje se declarem alinhados com o titular do Palácio do Planalto, muitos deles engrossavam as fileiras de alguns dos adversários do atual governo. No caso de Côrtes, o parlamentar não só esteve ao lado dos que agora são considerados inimigos, como já foi um deles. E, num passado nada distante, abriu fogo contra um aliado de primeira hora do presidente da República, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub.

Desde que Bolsonaro assumiu, Côrtes nem sempre seguiu a cartilha do chefe do Executivo. Num dos episódios mais emblemáticos de descompasso, ele se posicionou de forma contrária a projetos caros ao presidente, como o que propunha a instituição do voto impresso no país, que acabou sendo derrubado pela Câmara. Ele também é a favor da legalização dos jogos no Brasil, como bingos, cassinos e jogo do bicho. O tema foi aprovado pela Casa, e Bolsonaro já adiantou que vetará a proposta, caso ela seja chancelada pelo Senado.

Quando questionado em plenário sobre seu grau de fidelidade, Altineu Côrtes afirma que segue a orientação do partido.

— (Bolsonaro) não estava errado (no caso do voto impresso). Minha posição seguiu a orientação do partido. Eu sigo a orientação do PL. Quase 100% dos deputados foram juntos. Só achamos que não tínhamos como implantar o sistema para essa eleição, que isso poderia não dar certo — argumentou.

Nos bastidores, recentemente, ele também evitou abraçar um projeto de Bolsonaro para o Rio, domicílio eleitoral de ambos. No mês passado, o presidente havia deixado claro a aliados que gostaria de levar para o PL o deputado Daniel Silveira — que chegou a ser preso após ameaçar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) — para concorrer ao Senado. A ideia não foi bem recebida pela sigla, e Silveira optou por filiar-se ao PTB.

Nesse caso, entretanto, Côrtes admite que seu plano era diferente do apresentado pelo correligionário

— O Romário (senador) é o candidato do PL. E nós não tivemos nenhuma conversa com ele (Silveira) aqui no estado — alega o líder do PL.

Hoje, o líder do PL e o presidente da República dividem o mesmo quadrado partidário. Nem sempre foi assim. Em outros tempos, o deputado fluminense já foi filiado ao PT e brigou para ter sua imagem vinculada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o principal adversário de Bolsonaro na briga pela reeleição.

Em 2008, aos 39 anos, Côrtes disputou a prefeitura de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, pelo partido de Lula. Era uma missão difícil, pois enfrentava a máquina do município, comandada por Aparecida Panisset (PDT). Favorita, ela irritou o adversário ao usar a imagem do então presidente na propaganda eleitoral.

Para conquistar a reeleição, Panisset tentava surfar na aprovação popular de quase 80% de Lula àquela altura. O ato gerou uma reação contundente. A campanha dele foi à Justiça Eleitoral e conseguiu barrar o uso da imagem. O argumento era o de que Lula integrava o partido da coligação adversária. Côrtes venceu na Justiça e perdeu nas urnas, vendo Panisset ser reeleita. 

Sobre o passado petista, o deputado argumenta que “nunca foi ligado ao PT”, embora tenha sido candidato pelo partido. Afirma que, à época, a legenda de esquerda foi a única solução encontrada para disputar a prefeitura. Côrtes diz que tomou tal caminho, segundo ele, após ter sido traído pelo então governador do estado, Sérgio Cabral, que lhe negou a candidatura pelo MDB.

— Na realidade, eu não tive o apoio (do Lula). Foi a Aparecida, que tinha apoio do (ex-senador petista) Lindbergh. Já sou deputado pelo PL há três mandatos. Disputei eleição pelo PT, mas não tive apoio do Lula — diz o novo aliado de Bolsonaro.

Em 2019, quando o PL ainda não integrava a base do governo na Câmara, Côrtes entrou em confronto direto com o então ministro da Educação, Abraham Weintraub. O titular da pasta gravou um vídeo em que responsabilizava os parlamentares da bancada do Rio pelo corte de verbas da reconstrução do Museu Nacional, destruído por um incêndio meses antes.

A resposta de Côrtes veio em plenário.

— Bolsonaro foi deputado nesta Casa por muitos anos. O mínimo que os deputados têm que ser aqui, e eu não cito sigla partidária, é respeitados pelos ministros — cobrou, antes de partir para o ataque: — O ministro gravou um novo vídeo, achincalhando a bancada do Rio de Janeiro(...) O ministro faz um vídeo, uma tremenda palhaçada. Ele tem mais o que fazer, porque a educação está com muito problema.

Deixando o passado para trás, na opinião dos bolsonaristas, o que importará é atuação do novo líder no ano eleitoral. Recém-filiado ao PL, o deputado Bibo Nunes (RS), por exemplo, diz que a legenda terá como norte o apoio a Bolsonaro.

— O passado, eu não sei. Muitos já tiveram relação com o PT. Mas o importante é que o PL está comprometido com o presidente Bolsonaro — argumentou.

Longe de Brasília, como presidente do diretório do Rio, Altineu Côrtes tenta organizar as alianças e locais. Com o enfraquecimento do MDB no estado, PL e PSD têm aproveitado para ocupar espaços relevantes nas máquinas dos municípios.

— Temos 31 prefeitos, praticamente um terço do Estado do Rio. E isso antes de o presidente Bolsonaro chegar ao PL — comemora.