ELEIÇÕES 2022

ACM Neto vai de líder da oposição ao PT a candidato 'isentão' na Bahia

Representantes do ex-presidente Lula e do presidente Jair Bolsonaro procuraram ACM em busca de aliança para o pleito deste ano

ACM Neto - divulgação

A desistência do senador Jaques Wagner (PT) de participar da disputa à sucessão estadual na Bahia fez crescer entre aliados do ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil) a pressão para que ele se mantenha distante dos principais candidatos na corrida presidencial.

Representantes do ex-presidente Lula e do presidente Jair Bolsonaro procuraram ACM em busca de aliança para o pleito deste ano, mas a posição do herdeiro político do ex-governador Antônio Carlos Magalhães deve ser a neutralidade.

Antes ferrenho opositor de Lula e dos governos do PT, a principal estratégia do grupo de ACM Neto, no entanto, é apostar, veladamente, no voto “LulaNeto”, em uma tentativa de vencer a disputa pelo Palácio de Ondina ainda no primeiro turno. Dirigentes do PT nacional chegaram a sondar o ex-prefeito de Salvador em busca de um entendimento após a desistência de Wagner, mas as conversas não avançaram.

De acordo com o deputado federal Elmar Nascimento, líder do União Brasil na Câmara, o voto “LulaNeto” é algo que será encarado sem surpresa na Bahia. Nas eleições passadas, o atual governador Rui Costa (PT) foi eleito com alto índice de votação, assim como o prefeito de Salvador Bruno Reis (União Brasil).

O aliado de ACM Neto diz ainda que o grupo político do qual faz parte foi procurado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL) em busca de uma aliança formal, porém, afirma Nascimento, o grupo bolsonarista teria que “arrumar a própria casa”.
 

— Na Bahia, ou você é com Lula ou contra Lula. Como não estamos com Lula, temos o palanque aberto para receber o apoio de inúmeros partidos. PSDB do Doria, PDT do Ciro, Podemos do Moro... Não podemos abraçar uma candidatura com o risco de perder o apoio de um desses partidos. Em relação ao presidente (Bolsonaro), o principal ministro do governo (Ciro Nogueira) é de um partido que, na Bahia, é aliado ao PT. É Bolsonaro, em Brasília, e Lula, na Bahia. Eles primeiro precisam resolver a sua casa para depois buscar o nosso apoio — diz o deputado.

Sem Wagner da disputa, o PT se divide entre a insistência numa candidatura própria e na possibilidade de apoio a Otto Alencar (PSD), caso o senador aceite participar da disputa, o que, nesse momento, é considerada improvável.

Do outro lado do espectro político, o ministro da Cidadania, João Roma (Republicanos), mantém o discurso de que deve concorrer ao governo baiano para dar palanque ao presidente Jair Bolsonaro (PL) no estado. Mas os baixos índices de intenção de voto do ministro, verificado em sondagens internas, preocupam os aliados do presidente, que apoiariam um candidato em clara oposição ao ex-prefeito. João Roma é considerado um afilhado político de ACM Neto.

Em uma entrevista recente, Roma afirmou que ACM Neto quer “o presidente Bolsonaro como amante”: “Ele quer os votos de Bolsonaro, mas não quer passear de mãos dadas no shopping com Bolsonaro. Isso é uma posição muito confortável”, declarou o ministro a rádio Piatã FM.

ACM Neto rebateu o ministro em uma solenidade pública em Salvador e afirmou que não precisa do apoio nacional para se eleger governador.

O deputado federal Marcelo Nilo (sem partido), ex-presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) e aliado do PT por 32 anos, se desfiliou do PSB nesta quinta-feira em prol de uma aliança com ACM Neto. Ele defende a neutralidade em relação à disputa presidencial para evitar o risco de segundo turno.

— Eu sinto que ele deve fazer uma campanha desnacionalizada. Vamos debater a Bahia. O ministro João Roma atualmente chega a cerca de 1% das intenções. Com o apoio de Bolsonaro, ele teria no máximo 4%. Não há porque ACM se comprometer com um nome de presidenciável com o atual cenário — afirma.

Representantes do União Brasil afirmam que a eleição pode ser resolvida sem que ACM também se comprometa, eventualmente, com qualquer outro nome que venha despontar como um candidato viável da chamada terceira via, cenário que, por ora, está fora do radar.