Rússia restringe o acesso ao Instagram por pedir 'assassinato de russos'
Segundo a Rússia, o Facebook estava fazendo exceções à sua política de incitação à violência e ao ódio ao não eliminar publicações hostis ao exército e aos líderes russos
A Rússia anunciou nesta sexta-feira (11) que restringiu o acesso à rede social Instagram, a qual acusa de espalhar apelos à violência contra os russos, devido ao conflito na Ucrânia.
O poderoso Comitê de Investigação da Rússia já havia anunciado ações legais contra a Meta, empresa matriz do Facebook e Instagram, por terem flexibilizado suas regras sobre mensagens violentas destinadas ao exército e a autoridades russas.
O comitê afirmou que iniciou suas investigações "devido a pedidos ilegais de assassinato de russos por colaboradores da sociedade americana Meta".
A Procuradoria-Geral russa pediu que a gigante da internet seja classificada como uma organização "extremista" e que o acesso ao Instagram seja bloqueado no país. O Facebook não pode mais ser acessado desde 4 de março.
Segundo o gabinete do procurador-geral, "o conteúdo distribuído no Instagram contém apelos para cometer atos violentos contra cidadãos da Rússia, inclusive a equipe militar".
A gigante das redes sociais anunciou na quinta-feira que estava fazendo exceções à sua política de incitação à violência e ao ódio ao não eliminar publicações hostis ao exército e aos líderes russos.
"Devido à invasão russa da Ucrânia, somos tolerantes com formas de expressão política que normalmente violariam nossas regras sobre discurso violento, como 'morte aos invasores russos'", disse à AFP Andy Stone, gerente de comunicações da Meta.
"Continuamos não permitindo apelos credíveis à violência contra civis russos", destacou.
A Reuters divulgou na quinta-feira e-mails trocados por moderadores de conteúdo da Meta alegando que a exceção temporária à regra se aplica à Armênia, Azerbaijão, Estônia, Geórgia, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia, Rússia, Eslováquia e Ucrânia.
"Regras de guerra em tempo real"
O escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos nas Nações Unidas expressou sua preocupação com a decisão da Meta nesta sexta-feira.
"Este é claramente um assunto muito, muito complexo, mas que gera preocupações em termos de direitos humanos e direito internacional humanitário", disse Elizabeth Throssel, porta-voz do organismo, durante coletiva de imprensa em Genebra.
A imprecisão em torno deste anúncio "certamente poderia contribuir para o discurso de ódio direcionado contra os russos em geral", observou.
A Meta não reagiu a um pedido de comentários da AFP nesta sexta-feira.
Para Emerson Brooking, acadêmico residente do Atlantic Council, think tank americano, as exceções autorizadas pela Meta representam uma tentativa de adaptação a uma situação extremamente fluida e tensa.
"O Facebook está tentando escrever regras de guerra em tempo real", considerou este especialista em desinformação online à AFP.
Ele reconhece, no entanto, que existe o risco de repercussões para a população russa.
"Ao longo da história, ações violentas de um país contra outro deram origem a apelos à violência, intolerância ou ódio contra estrangeiros associados ao país agressor", explicou.
No entanto, a mudança proposta pelo Facebook "rejeita claramente os apelos à desumanização de todos os russos", disse.
Facebook bloqueado na Rússia
Não é a primeira vez que o grupo de Mark Zuckerberg tolera esse tipo de publicação, embora os exemplos sejam raros: em junho de 2021, a rede autorizou por duas semanas mensagens de opositores iranianos pedindo a morte do aiatolá Ali Khamenei.
O Twitter, por sua vez, não excluiu um tuíte do senador republicano dos EUA Lindsey Graham na semana passada pedindo o assassinato do presidente russo Vladimir Putin para acabar com a guerra.
A plataforma confirmou mais tarde ao The Daily Beast que este post não violava suas regras.
A Rússia bloqueou o Facebook em seu território na semana passada em retaliação à decisão do grupo californiano de proibir veículos de comunicação próximos ao governo russo, como o canal RT e o site Sputnik na Europa.
Aderiu assim ao grupo muito fechado dos países que proíbem a maior rede social do mundo, que inclui China e Coreia do Norte.
O acesso ao Twitter também está fortemente restrito na Rússia por motivos semelhantes ao bloqueio do Facebook.
Na semana passada, foi aprovada na Rússia uma lei que pune com até 15 anos de prisão quem divulgar informações destinadas a "desacreditar" as forças militares russas ou solicitar sanções contra Moscou.