Olhar feminino nos quadrinhos
Mercado abre espaço para criações assinadas por mulheres. Em Pernambuco, Roberta Cirne insere estilo gótico e fantástico
No universo de quadrinhos, séries e filmes, os personagens principais sempre foram protagonizados por homens. Entretanto, cada vez mais, as mulheres estão ganhando espaço nesse ramo.
Para ter uma ideia de alguns nomes feminino, as histórias da "Viúva Negra" e "Capitã Marvel" são roteirizadas por Kelly Thompsson, enquanto "Os Jovens Titãs" , da DC, foi criado por Kami Garcia.
Nos mangás (quadrinhos japoneses que se leem de trás para frente), "Kimetsu no Yaiba" foi escrito por Koyoharu Gotouge. E, com tanto talento espalhado pelo mundo, Pernambuco não poderia ficar de fora. Roberta Cirne é uma das recifenses que produz quadrinhos há anos, com alguns deles premiados.
Obras e prêmios
Com uma bagagem extensa, Roberta sempre foi leitora de quadrinhos e começou a desenhar aos oito anos, ao ver "Peter Pan". Com o passar do tempo, juntou-se com uma amiga para produzir sua primeira obra. "‘Guardiães’ era uma fábula futurista, uma espécie de versão dos mosqueteiros em um cenário fantástico. Nos permitimos muitas experimentações, e vejo hoje reflexos na minha arte que remetem àquela época, como as texturas e páginas sangradas’’, conta ela.
Mais tarde, a arte educadora se aprofundou e criou mais histórias, como o álbum dos Judeus, “Passos perdidos, história desenhada”, que foi premiado com o HQmix, em São Paulo, em 2007. "Fizemos mais uns álbuns sobre a invasão holandesa, falando sobre a vida de quatro heróis da revolução, que foram responsáveis pela expulsão dos holandeses de Pernambuco, baseada na obra de Antônio Gonçalves de Melo. E, por último, quadrinizamos a história do povo africano contada desde a gênese, passando pela escravidão, do ponto de vista de cada um dos orixás’’, diz.
Além disso, a pernambucana tem no currículo o terror adulto "Gibi de Menininha" e "Dossiê Bizarro", que envolve histórias de possessões e crimes, sem falar no "Café espacial" e a temática dos extraterrestres.
Nova visão de mercado
Com um estilo gótico e fantástico, Cirne realiza seus trabalhos com produção própria, desde o começo até o fim da obra. ‘’Se você não tem dinheiro para contratar, você tem que fazer. Eu faço desde o rascunho do lápis até a arte final, produzo, pinto, edito, faço a revisão ortográfica e diagramação. Só a gráfica que terceirizo para imprimir para não perder a qualidade’’, conta.
E por falar em produção, Roberta comenta sobre as realizações femininas no ramo cinematográfico. “Filmes como ‘Aves de Rapina’ não caíram no gosto do público predominantemente masculino, mas ao contrário, despertaram interesse no público feminino, aumentando o range de novas leitoras, cinéfilas de filmes de super-heroínas. A direção por parte de mulheres também auxilia neste quesito, trazendo uma abordagem menos explorativa do corpo da personagem para uma visão mais sensível da psiquê e comportamento da própria’’, comenta.
Projetos Futuros
Sobre uma nova produção, ela adianta que o quadrinho vai se passar no ano de 1975, abordando a história do Estado onde nasceu. "Em 1975 aconteceu a maior cheia que se tem notícia, e dois dias depois do rio Capibaribe baixar, chegou até a cidade a notícia de que a barragem de Tapacurá tinha estourado, e que Recife iria desaparecer sob as águas. Apesar de este não ser o foco da HQ, estará também presente, integrado à trama fantástica de terror que pretendo trazer em quadrinhos’’.
Roberta também fala sobre os personagens. "O detetive Walter, a hippie Suzy e o guru Bento de Deus estarão na trama, que roteirizei junto com meu esposo Pedro Ponzo. Será baseado em fatos reais, misturados com o fantástico de terror, e falará sobre uma assombração de Pernambuco’’, finaliza. Além desse projeto, ela também vai lançar o terceiro volume do "Gibi de Menininha".
Serviço:
Roberta Cirne
Instagram: @sombrasdorecife