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Inflação alta é o primeiro efeito da guerra entre Rússia e Ucrânia, diz CNI

Estudo da entidade constata aumentos nas cotações de commodities como trigo, milho, petróleo e alumínio

Combustíveis - Fernando Frazão/Agência Brasil

Mais pressão sobre a inflação e escassez de itens como fertilizantes e componentes para a fabricação de chips e semicondutores. Este é o quadro desenhado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre impacto da guerra entre Rússia e Ucrânia na economia brasileira.

Para a entidade, a alta dos preços internacionais das commodities agrícolas, minerais e energéticas, devido ao conflito, produz pressão adicional sobre a inflação mundial e a brasileira, ambas já afetadas pela pandemia. Isso poderá acarretar elevação das taxas de juros internacionais e no Brasil, com efeitos negativos para a economia brasileira. 

Os preços no mercado futuro, em dólares, entre 23 de fevereiro e 8 de março, aumentaram de forma generalizada, de acordo com levantamento feito pela CNI. São exemplos trigo (45,3%),  petróleo (34,3%), paládio (21,7%), milho (10,3%), açúcar (4,9%); e alumínio (4,2%).  

"Uma duração mais longa poderá ampliar não só os efeitos sobre commodities, mas também os impactos negativos sobre o crescimento da economia mundial, influenciando as exportações brasileiras como um todo", afirmou o gerente executivo de Economia da CNI, Mário Sérgio Telles.

Segundo ele, no caso do Brasil, a elevação dos preços das commodities minerais (excluindo petróleo) e agrícolas devem ter efeitos mais imediatos sobre a inflação. A alta do petróleo impacta não apenas nos preços de combustíveis (gasolina e diesel), mas, também, em produtos petroquímicos, como plásticos e embalagens. 

 De forma geral, os empresários costumam transferir o aumento dos custos oos consumidores. No entanto, devido à situação econômica do Brasil, a indústria não deve conseguir repassar integralmente essa alta de em um primeiro momento, o que pode afetar a saúde financeira das empresas. 

"Há um desemprego elevado no mercado interno que dificulta o repasse de preços na mesma proporção do aumento de custo. Com isso, pode haver uma redução da margem de lucro das empresas ainda afetadas pela crise, o que aumenta o risco de falências e de dificuldades em negociar dívidas", disse Telles.

Sobre a possibilidade de escassez de componentes para a fabricação de chips e semicondutores, Rússia e Ucrânia são grandes produtores globais de metais usados na confecção desses produtos. Esse cenário se soma à esperada alta do frete internacional, o que poderá agravar o descompasso das cadeias globais.  

"Quando você reabre os fluxos de suprimentos, a reorganização da logística de transportes ocorre aos poucos. Vai haver um impacto de mais longo prazo nesse sentido, até os mercados se regularizarem e essa desorganização é transmitida via preço. A redução desses preços vai acontecer à medida que os fornecedores consigam entrar novamente no ritmo de produção e distribuição para os compradores", afirmou o superintendente de desenvolvimento industrial da CNI, Renato da Fonseca.

Os economistas da entidade não preveem impacto significativo do comércio do Brasil com a Ucrânia, que é relativamente pequeno. As maiores consequências serão maiores no intercâmbio com a Rússia.  

Em 2021, a Rússia ocupou a 6ª posição dentre os principais fornecedores para o Brasil, com um total de US$5,70 bilhões (2,6% das importações brasileiras). Com relação às exportações, a Rússia foi o 36º maior parceiro comercial do Brasil, contabilizando um total de US$1,59 bilhões (0,6% das exportações brasileiras).

Dentre os principais produtos que o Brasil importa da Rússia, destacam-se produtos químicos (principalmente fertilizantes), óleos leves de petróleo; carvão mineral e metalúrgicos.  

"Como o Brasil importa principalmente fertilizantes agrícolas, o acesso mais restrito a esses insumos poderá impactar as próximas safras", disse Fonseca.