Sessão da Câmara Federal cobra esclarecimentos sobre assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes
Com placas e faixas de protesto no plenário, parlamentares da oposição e familiares das vítimas pediram respostas sobre o crime político ocorrido há quatro anos no Rio de Janeiro
Com placas e faixas de protesto e discursos de parlamentares do PSOL, PT e PCdoB, o plenário da Câmara dos Deputados fez, nesta terça-feira (15), uma sessão solene em homenagem à vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, que foram assassinados há quatro anos no Rio de Janeiro.
Deputados e familiares das duas vítimas pediram esclarecimentos sobre o crime político, cuja investigação ainda não apontou quem foi o mandante das execuções e não foi levada a julgamento.
— É inacreditável que, quatro anos depois, nós não tenhamos nenhuma pista sobre por que o assassinato foi cometido — afirmou a líder da bancada do PSOL, deputada Sâmia Bonfim (SP), que presidiu a sessão.
No início da cerimônia, ela leu um discurso assinado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que classificou o crime como um ataque à democracia e ao povo brasileiro.
— Qualquer afronta à representantividade política no Brasil é também um ataque direto a essa Casa e a todo o povo dessa nação — escreveu Lira em fala pronunciada pela deputada do PSOL.
Em seguida, o presidente do PSOL, Juliano Medeiros, classificou o discurso de Lira de "palavras vazias" e disse que "não dá para falar em democracia se hoje ainda existem parlamentes do PSOL que precisam de escolta e carro blindado", citando ameaças sofridas pela deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) e da vereadora Benny Briolly (PSOL-RJ). — Não dá para falar que democracia é só votar a cada quatro anos.
Democracia é muito mais do que isso. É o direito à saude, habitação, educação, emprego, recursos naturais, mas também o direito à vida. É o direito que as nossas mulheres parlamentares têm para exercer o seu mandato — afirmou Medeiros.
O pai de Marielle, Antônio Francisco da Silva Neto, reforçou o pedido por esclarecimento do crime, que já foi investigado por cinco delegados diferentes, mas não apontou quem mandou matar a vereadora e o seu motoris - foram presos, por enquanto, os suspeitos de disparar os tiros e de dirigir o carro que interceptou o veículo de Marielle e Anderson.
— Essa pergunta (quem mandou matar Marielle e Anderson?) precisa continuar sendo exibida, falada e cobrada. Um crime como esse não pode e não deve ficar impune. Se nós não conseguirmos dar essa resposta, não teremos uma democracia sadia no Brasil — afirmou ele.
— Quanta dor acumulada porque não há resposta. Aparece ali o que atiou, o que dirigiu o carro, mas não diz quem mandou. (...) Podemos ter as nossas certezas, mas é preciso que se esclareça. Não há resposta maior para a violência política de gênero do que o esclarecimento e a punição — reformou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Além das cobranças por Justiça, a emoção tomou conta da sessão quando a mulher de Anderson, Agatha Arnaus, tomou a palavra.
— O meu filho agora passou mais tempo sem o pai do que com ele ao seu lado -- disse ela, recordando que, quando Anderson foi morto, o filho tinha apenas 1 ano e 10 meses. — O Anderson representa cada brasileiro que também é assassinado e não tem respostas. Cada trabalhador que sai de casa e fica a mercê da violência, principalmente do Rio de Janeiro — disse ela.