Ventos solares

Morre aos 94 anos visionário astrofísico americano Eugene Parker

O astrofísico norte-americano foi o primeiro a identificar o fluxo de partículas carregadas do Sol, conhecido como vento solar

Astrofísico da Universidade de Chicago, Dr. Eugene Parker, ouve em um evento onde funcionários da NASA, em 2017, anunciaram planos para implantar uma sonda solar na atmosfera do sol pela primeira vez em Chicago, Illinois - Scott Olson / Getty Images North America / AFP

Eugene Parker, um astrofísico norte-americano pioneiro que desenvolveu um modelo matemático que identificou o fluxo de partículas carregadas do Sol conhecido como vento solar, morreu aos 94 anos, informou a Nasa nesta quarta-feira(16). 

Parker, que em 2018 se tornou a primeira pessoa a presenciar o lançamento de uma espaçonave com seu nome, é considerado um visionário que lançou as bases para o campo da heliofísica, a ciência que aborda as interações do Sol com a Terra e o Sistema Solar, incluindo o clima espacial. 

"Ficamos tristes ao saber que uma das grandes mentes científicas e líderes do nosso tempo faleceu", disse o administrador da Nasa, Bill Nelson, em comunicado. 

Parker morreu na terça-feira, segundo a Universidade de Chicago, onde trabalhava havia muito tempo.

"Gene Parker foi uma figura lendária em nosso campo: sua visão do Sol e do Sistema Solar se antecipou ao seu tempo", acrescentou Angela Olinto, decana da Divisão de Ciências Físicas da Universidade de Chicago.

O astrofísico nasceu em 10 de junho de 1927 no Michigan, é bacharel em física pela Michigan State University e Ph.D. pelo California Institute of Technology. 

Posteriormente, lecionou na Universidade de Utah antes de se estabelecer em 1955 na Universidade de Chicago, sua casa por muito tempo. 

Ele começou a estudar a temperatura da coroa do Sol e seus cálculos mostraram que as condições deveriam liberar um fluxo supersônico de partículas para fora da superfície. 

Inicialmente, a ideia foi recebida com ceticismo, inclusive com piadas.

"Um disparate absoluto"

"O primeiro revisor do artigo disse: 'Bom, sugeriria que Parker vá à biblioteca e leia sobre o tema antes de tentar escrever um artigo a respeito porque isto é um disparate absoluto", relatou o próprio Parker ao jornal UChicago News em 2018.

Sua ideia só foi publicada pelo Astrophysical Journal quando seu então editor e futuro ganhador do Prêmio Nobel, Subrahmanyan Chandrasekhar, percebeu que não conseguia encontrar nenhum erro na matemática de Parker e anulou as objeções de dois revisores científicos. 

A teoria foi provada correta em 1962, quando a nave espacial Mariner II da Nasa encontrou tal fluxo de partículas ou vento solar. 

Os cientistas agora sabem que o vento solar cobre todos os planetas, protegendo-os da radiação nociva, mas também às vezes interrompendo as comunicações aqui na Terra quando ocorrem explosões solares. 

"Qualquer um que conheceu o Dr. Parker sabia que ele era um visionário", disse Nicola Fox, diretor da divisão de heliofísica da Nasa. 

Também propôs a ideia das "nanolabaredas", pequenas explosões que ocorrem no Sol e são responsáveis de que a coroa seja mais quente do que a superfície, algo que não podia ser explicado pela física conhecida naquele momento.

Parker passou a estudar os raios cósmicos, os campos magnéticos das galáxias e um leque de outros temas, e obteve vários reconhecimentos, entre eles a Medalha Nacional de Ciência dos Estados Unidos, o Prêmio Kioto, o Prêmio Crafoord e a Medalha da Sociedade Americana de Física por Feitos Excepcionais na Pesquisa.

"Qualquer um que conhecesse o dr. Parker sabia que era um visionário", disse Nicola Fox, diretora da divisão de heliofísica da Nasa.

A sonda solar Parker da Nasa, assim nomeada por causa de Eugene Parker, foi lançada em 2018 e orbitou o Sol a uma distância mais próxima do que nenhuma nave espacial que se aventurou anteriormente.

A sonda já enviou à Terra grande quantidade de dados valiosos que levam a novas descobertas sobre a meteorologia do espaço e a detecção de uma zona sobre a qual teorizou-se durante muito tempo, onde a radiação do Sol vaporiza toda a poeira cósmica.