Exposição 'Marias em Flor', de Delly Figueiredo, ocupa a Livraria Jaqueira
Com quadros e esculturas em cerâmica, mostra pode ser vista até o dia 3 de abril
O feminino e o sagrado são elementos sempre presentes no trabalho da pernambucana Delly Figueiredo. O encontro dessas duas fontes de inspiração ocorre nas diferentes representações de Nossa Senhora, seja em quadros ou em esculturas de cerâmica, produzidas pela artista plástica. Parte dessas criações está exposta na mostra “Marias em Flor”, que fica em cartaz na Livraria Jaqueira do Paço Alfândega, no Bairro do Recife, até o dia 3 de abril.
Para dar título à sua primeira exposição individual, Delly tomou como referência um trecho da música “Calix Bento”, conhecida na voz de Milton Nascimento, que diz: “E da flor nasceu Maria. De Maria, o Salvador”. “Fui convidada pela livraria para expor minhas obras no espaço e, quando soube que seria em março, representando o Dia da Mulher, resolvi trazer Maria como esse símbolo forte do feminino, do divino e do amor”, explica.
Inicialmente, a artista selecionou 40 quadros e cerca de 80 esculturas para a mostra. Esses números, no entanto, são variáveis. Conforme as peças são vendidas aos visitantes interessados, o acervo vai sendo reposto aos poucos. Parte dos recursos obtidos com as vendas será revertido em doação para a AACD.
Além das representações da Virgem Maria, as obras expostas revelam outros rostos femininos e de santos, como São Francisco de Assis. Autodidata, Delly busca não só a beleza, mas também a sustentabilidade em seu jeito de criar. “Pinto mais com tinta acrílica, mas uso também técnica mista. Preparo uma parte das minhas tintas, sem descartar o resíduo. Tudo o que uso no meu ateliê é reaproveitado de alguma forma”, afirma.
É fácil notar as referências que povoam o universo criativo de Delly. A cultura popular e o Movimento Armorial são influências que a artista não nega. “Sempre fui encantada por Ariano Suassuna e, sem querer, inconscientemente, quando vi já estava completamente influenciada pelo trabalho dele”, comenta. Embora a ‘brasilidade’ pulse em cada tela ou escultura assinadas pela artista, as inspirações internacionais também contribuem para o trabalho dela, como as figuras volumosas de Botero, as cores de Frida Kahlo e os rostos alongados de Modigliani.
Dar destaque às personagens femininas em suas criações, segundo Delly, é também uma forma de reparar a pouca visibilidade dada às mulheres no mundo da arte. A própria artista diz já ter experimentado um pouco dessa falta de reconhecimento e, embora desenvolva seus trabalhos na área desde os anos 1970, só conseguiu se ver como artista décadas depois.
“Não acreditava muito em mim. Isso mudou numa das feiras que participei em São Paulo, quando vi um rapaz parado, olhando para um quadro por um bom tempo olhando. Fui me apresentar e perguntar se poderia ajudá-lo em alguma coisa. Quando eu já estava saindo, ele olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas e disse: ‘Falar o quê?’, como se aquele meu trabalho tivesse o emocionado a ponto de deixá-lo sem palavras. Pensei: “Poxa, estou sendo capaz de mexer assim com os sentimentos?”. Isso, para mim, foi um divisor de águas”, relembra.
Em 2000, Delly fundou sua própria marca, a Oficina de Formas, na companhia da filha, a designer de produtos Eduarda Figueiredo. Desde então, as peças assinadas pela pernambucana vêm ultrapassando fronteiras e já estiveram expostas nos Estados Unidos, em Portugal e até mesmo no Carrousel du Louvre, galeria comercial do famoso museu parisiense. As obras também foram parar nas telas de TV, sendo utilizadas em cenários de novelas da Globo, como no remake de “Saramandaia” (2013) e em “Salve Jorge” (2012).
Serviço
Exposição “Marias em Flor”, de Delly Figueiredo
Quando: até 3 de abril
Onde: Livraria Jaqueira do Paço Alfândega (Rua Madre de Deus, 110, Bairro do Recife)
Entrada gratuita