Animação "Tarsilinha" leva a obra de Tarsila do Amaral para as crianças
Filme, que estreia nesta quinta-feira (17), traz aventura pelos quadros da pintora
Das telas de pintura para a tela do cinema: o universo criativo de um dos maiores nomes das artes plásticas no Brasil foi transformado em animação. “Tarsilinha”, filme de Celia Catunda e Kiko Mistrorigo, que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (17), leva para o público infantojuvenil um pouco da inventividade de Tarsila do Amaral (1886-1973).
Responsáveis por desenhos animados como “Peixonauta” e “Show da Luna”, a dupla de diretores se envolveu na produção do longa-metragem a partir de um pedido feito pela família da pintora. “Queriam que a gente criasse um personagem para levar a obra da Tarsila até as crianças. Foi quando propomos a criação de um filme e começamos toda essa jornada”, revela Celia.
Com o aval dos herdeiros da artista, os diretores passaram a trabalhar na história que seria contada no longa. Desde o início, a ideia nunca foi entregar um material biográfico. “A vida da Tarsila foi, com certeza, interessante, mas acho que muito mais rica é a obra que ela criou. A gente queria ter a liberdade de criar uma aventura, sem ter necessariamente um pé na realidade”, explica.
Os diretores criaram uma viagem fantástica pelos quadros da pintora modernista, explorando o rico visual impresso nessas criações. A personagem principal da aventura, uma garota, divide com a artista o nome e algumas semelhanças. “Trouxemos alguns elementos que fazem parte da Tarsila como ser humano. A infância no Interior é um exemplo, assim como a atitude corajosa dela de ir para a Europa, naquela época, e começar a trabalhar em um universo predominantemente masculino”, aponta.
Os ambientes das cenas, assim como a maior parte dos personagens mágicos encontrados por Tarsilinha em sua jornada, foram inspirados diretamente do acervo da artista. "Desconstruimos esses quadros. Se você olhar, vê que não é exatamente a obra, mas alguns elementos dela que estão lá no filme. Cada sequência tem uma paleta de cores e um traçado que são definidos por algum trabalho da Tarsila”, conta.
Do quadro “A Cuca”, por exemplo, a animação pegou seus vilões - a Lagarta, o Tatu Pássaro e a própria Cuca -, além do Sapo, fiel companheiro de Tarsilinha. Já o “Abaporu”, obra mais famosa da brasileira, surge em um dos momentos cruciais para a trama. Na história, a garota tenta reencontrar as recordações da sua mãe, que se perderam durante a ventania e fizeram com que ela perdesse as próprias lembranças.
Lançada no ano em que é comemorado o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, a animação traz outras camadas para além do entretenimento. “Nosso fio condutor era falar sobre a memória, porque a gente queria também que esse filme trouxesse um pouco do pensamento dos modernistas. A ideia era mostrar a importância dos elementos que formam a nossa identidade, tanto individual como do coletivo”, destaca. Entre as vozes que dublam os personagens, estão o apresentador Marcelo Tas e a atriz Marisa Orth.