André Zahar e Bárbara Melo lançam livros no recital 'Quintal das Palavras', no Poço das Artes
Com a melhora do cenário da pandemia, a literatura de Pernambuco começa a retomar seus eventos e produções literárias. No próxima semana, no sábado (26), os autores André Zahar e Bárbara Melo lançam presencialmente seus livros inéditos. O recital “Quintal de Palavras” será realizado no Poço das Artes (R. Álvaro Macedo, 54 - Poço da Panela, Recife), a partir de 16h.
Os elementos naturalistas que aproximam os livros de Zahar (“Todas Palavras Feitas da Terra”, ed. Chiado Books) e Bárbara (“Cada Palavra que solto”, ed. Urutau) unem os autores neste recital, que terá formato acústico, com microfone aberto à participação de outros poetas e músicos que desejem divulgar seus trabalhos.
“Quintal de palavras me parece o convite a um encontro em que mãos recebem e ofertam sementes para, juntas, plantarem e colherem poesias. E também para pensar a palavra como geradora de estórias, sonhos e afetos. Esses gestos, vindos das presenças, são a própria ação de ver brotar, nascer a escuta, a alegria, a esperança. Gosto de sentir meu coração animado por querer encontrar as pessoas e, em roda, celebrar modos de escrever e falar de poesia no quintal”, explica Bárbara Melo.
“Quando chegamos ao nome do evento, entendi que a palavra é nosso território sagrado. Através delas, podemos traçar linhas de fuga, fincar espaços para contemplação e conexões vitais no meio do caos ao redor... Como num quintal”, brinca Zahar.
Exposição
Durante o evento, Bárbara e André também apresentarão suas obras visuais produzidas como desdobramento das publicações livros e a partir dos processos criativos de onde se originaram. O público também será convidado a participar de atividades lúdicas em torno do tema “Palavra”.
Poço das Artes
O Poço das Artes é um espaço cultural criado em 2009 e renascido em 2016, com exposição permanente de pintura, desenho, fotografia e escultura de Clarissa Garcia e outros artistas. Ali também são realizados shows intimistas (principalmente de música instrumental e choro), brechós, mostras, lançamentos de livros, entre outros eventos.
O ateliê/residência artística fica no Poço da Panela, bairro de importância histórica para o Recife como centro da luta abolicionista e onde, recentemente, casarões coloniais passaram a abrigar ateliês, casas de escritores, pontos de encontro para boemia e efervescência cultural.
Sobre as obras
Cuidadora do ateliê Barbarizá, artista visual, educadora e designer gráfica, Bárbara Melo chega ao “Quintal de Palavras” com o livro “Cada palavra que solto”. Trata-se de uma obra brincante que mergulha na intimidade dos quintais da infância e cartografias afetivas. E que, depois do difícil período de distanciamento social forçado, nos convida a uma reconexão mais profunda e afetiva com os espaços e o outro.
A prosa poética de Bárbara também nos incita, neste seu primeiro livro, a experimentarmos o que pode ser o exercício de se desapegar, soltar, deixar ir, traçar novos encontros, tecer outras linhas de partida e renovar a caminhada. A andar com qualidade de um errante.
"Cada palavra que solto é um álbum de fotografias, um inventário de viagens, uma coleção de personagens, um diário, um arquivo ambulante de desenhos, um mapa, um manifesto de desapego e coragem. Nasci de novo e precisei escrever para começar a andar na vida. Este livro conversa com isso. Convida para nascer, andar, viver." enfatiza Bárbara.
Já o poeta e jornalista André Zahar buscou inspiração em sítios arqueológicos presentes no Nordeste do Brasil — Serra da Capivara (PI), Vale do Catimbau (PE), Carnaúba dos Dantas (RN), Pedra do Ingá (PB), Lajedo do Pai Mateus (PB) — ao buscar na vivência pessoal do tempo o que há de mais remotamente humano.
Para alcançar essa poética, optou por escrever “Todas palavras feitas da terra” a mão, usando carvão. Mas em 2020, quando ele se preparava para lançar seu livro inédito, após oito anos de "Mafuá - Autoajuda para Mamutes" (Baluarte Editora-RJ/2012), todas atividades culturais presenciais foram suspensas pela pandemia. E, desde então, Zahar passou a buscar divulgar o trabalho no suporte digital, por meio de videopoemas, lives e outras ações.
“Fizemos uma pré-venda, em 2020, e uma campanha em 2021 de financiamento coletivo para ajudar no lançamento presencial. O momento agora é de devolver para os apoiadores a força recebida e buscar chegar a um público fora das ‘bolhas’ virtuais”, avalia.
TRECHOS DAS OBRAS:
Introdução (“Todas palavras feitas da terra” / André Zahar)
No fundo,
todas palavras são feitas da terra.
As trilhas guardam pegadas,
talvez a história esqueça
os melhores nomes.
Nós sabemos de onde viemos
e o que dividimos sob as estrelas.
Semear é trabalho para todas as vidas.
Cuidemos das trilhas da terra das palavras
para os que vão nos colher.
no quintal de casa (“Cada palavra que solto” / Bárbara Melo)
ontem ganhei uma goiaba. a goiaba me faz pensar enquanto como: por fora verdinha, cor toda luminosa, quando lá dentro, o rosa. tem textura que faz barulhos com as sementes. a goiaba é toda musical. doce, bem docinha. enquanto eu comia a goiaba e andava pelo jardim com os croque-croques na boca, escutei um passarinho que saltou da mangueira. goiaba e passarinho estão me deixando apaixonada. quando paixão invade meu coração que é todo trabalhado a essas paisagens, vibro como criança correndo solta entre árvores. já não me vejo lamentando o tempo que perdi, distraída com preocupações desnecessárias. respirar com calma e seguir cuidando dessa natureza. farei poemas.