Agência da ONU alerta para negligência com países mais pobres devido ao conflito na Ucrânia
A PMA alertou que isso não apenas pioraria a fome em todo o mundo, mas "poderia haver imigração em massa ou desestabilização" globalmente
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) pediu nesta sexta-feira (18) aos países desenvolvidos que ajudem outras nações, além da Ucrânia, e "não as negligenciem" porque também estão em situação de extrema necessidade.
"Tento fazer com que europeus e Estados Unidos acordem", disse David Beasley em conversa com Kristalina Georgieva, diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), na qual abordaram os países afetados por conflitos.
"Enquanto você se concentra na Ucrânia, por favor, não negligencie o Sahel, não negligencie a Síria, a Jordânia, o Líbano. Se você fizer isso, as consequências serão mais do que catastróficas", alertou Beasley.
O diretor da PMA, uma agência da ONU com sede em Roma, alertou que isso não apenas pioraria a fome em todo o mundo, mas "poderia haver imigração em massa ou desestabilização" globalmente.
Ele enfatizou que, sem segurança alimentar, a paz é uma ilusão e que sua organização enfrentaria uma terrível escolha: "A última coisa que quero fazer é pegar sementes que não são cultivadas na Ucrânia e entregá-las à Ucrânia".
"É justo tirar comida de crianças etíopes para dar a crianças ucranianas? Não", disse ele.
"Não podemos nos colocar nessa situação", disse Beasley, acrescentando que o PMA está fazendo o possível para comprar o máximo de trigo da Ucrânia que ainda esteja disponível.
Mas a organização enfrenta problemas específicos, como encontrar caminhoneiros para transportá-las, pois muitos estão na linha de frente desde que a Rússia invadiu o país.
E os camponeses, que também têm que lutar, correm o risco de não conseguir cuidar das plantações durante a primavera do hemisfério norte.
Beasley recomendou que doadores e bancos de desenvolvimento adotem uma abordagem mais flexível, financiando projetos de curto a médio prazo, como a merenda escolar, com impacto direto na população.
Georgieva, por sua vez, ressaltou que o FMI concentra a ajuda em países frágeis e em guerra, e destacou que existe uma correlação direta "entre a estabilidade macroeconômica e a paz".