Palanque de Lula reacende disputa entre Arthur Lira e Renan Calheiros em Alagoas
Para lideranças da política alagoana, Lira tem a meta de vencer a queda de braço com Renan
Com a busca pela reeleição à presidência da Câmara no horizonte para 2023, Arthur Lira (PP) avalia três opções para montar uma candidatura de oposição ao grupo do senador Renan Calheiros (MDB) na eleição estadual de Alagoas. Aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado quer se contrapor ao palanque do ex-presidente Lula (PT), que tem o apoio da família Calheiros no estado.
Para lideranças da política alagoana, Lira tem a meta de vencer a queda de braço com Renan — cotado para presidir o Senado num eventual governo Lula — como passo estratégico para se cacifar ao comando da Câmara por mais dois anos.
A implosão de pontes entre os dois lados ficou exposta na última quinta-feira, quando o presidente da Câmara chamou de “faraônicas” e “elefantes brancos” obras inauguradas na gestão de Renan Filho. Em resposta, o senador chamou Lira de “aventureiro enrolado” que “emporcalha a democracia com a excrescência do orçamento secreto”.
Inicialmente, Lira costurou um apoio ao deputado estadual Paulo Dantas (MDB), com o plano de que se filiasse ao União Brasil. A proximidade demonstrada por Dantas com o governador Renan Filho (MDB), no entanto, fez Lira recuar do acordo. Na quinta-feira, no interior de Alagoas, Dantas e Renan Filho caminharam lado a lado usando adesivos com o nome de Lula.
Hoje, a prioridade do presidente da Câmara é apoiar ao governo uma possível candidatura do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC (PSB). Lira já o apoiou no segundo turno em 2020, contra um aliado de Renan Filho. JHC também rivaliza com os Calheiros, mas hesita em renunciar ao cargo em abril, prazo exigido pela legislação para concorrer.
— Não estarei no mesmo palanque em que Renan estiver — disse Lira ao Globo.
Um aliado de JHC avalia que o prefeito ficou “balançado” com a possibilidade de concorrer com apoio de Lira, por considerar que “o cavalo só passa selado uma vez”. No entanto, pesam contra a saída da prefeitura o pouco tempo no cargo e a perspectiva de um acordo bilionário com a Braskem como indenização pelo afundamento do solo em bairros de Maceió, pelo desmoronamento de minas de sal.
Para interlocutores do prefeito, a verba multiplicaria a capacidade de investimento, com ganhos políticos mais duradouros. Ontem, em reunião com aliados, JHC sinalizou que tende a concluir o mandato.
Como alternativas, Lira pode apoiar o senador Rodrigo Cunha (PSDB-AL), aliado de JHC e pré-candidato ao governo, ou o ex-prefeito de Maceió Rui Palmeira (PSD), aliado de longa data da família do presidente da Câmara.
Lira havia anunciado em dezembro um acordo com o presidente da Assembleia Legislativa alagoana, Marcelo Victor, recém-filiado ao DEM, para a sucessão de Renan Filho. Com a iminente renúncia do governador para concorrer ao Senado, Lira apoiaria um nome com o aval de Victor — Dantas foi o escolhido — em uma eleição indireta na assembleia, para assumir o Executivo até o fim do ano.
O processo é uma exigência legal, já que Renan Filho não tem sucessor natural: o vice, Luciano Barbosa (MDB), renunciou em 2020 e se elegeu prefeito de Arapiraca. Os deputados estaduais são considerados majoritariamente alinhados a Victor.
O acordo ganhou contornos de uma aliança indireta entre Lira e Renan, já que Dantas é próximo ao governador e já declarou apoio a Lula contra Bolsonaro este ano.
— Tenho Arthur (Lira) como um homem de palavra. De todo modo, eu vou para o lado em que estiverem Renan e Lula — afirma Dantas.
Diante do incômodo pela proximidade entre Renan e a cúpula da assembleia legislativa, Lira vem atuando para que o comando no União Brasil no estado, inicialmente a cargo de Marcelo Victor, seja entregue a um aliado. Na semana passada, o presidente da Câmara articulou o apoio do PP à pré-candidatura de ACM Neto (União) ao governo da Bahia e, segundo interlocutores, engatilhou um acordo para Neto retirar seu aval à entrega do diretório alagoano para Victor.
— Sigo confiando na palavra empenhada lá atrás. Não posso crer que Alagoas seria negociada por apoio em outro estado. Seria uma intervenção não republicana — disse Victor.