Vacinação

Quarta dose deverá ter intervalo de quatro meses para idosos a partir de 80 anos

Segunda dose de reforço contra a Covid-19 deverá ser aplicada preferencialmente com Pfizer

Vacinação contra a Covid-19 - Andrej Ivanov/AFP

O Ministério da Saúde deve adotar a quarta dose de vacina contra a Covid-19 em idosos a partir de 80 anos, com intervalo de pelo menos quatro meses contados a partir do último reforço. A indicação da pasta é dar preferência à vacina da Pfizer, devido à maior produção de anticorpos, mas a da AstraZeneca e a da Janssen também poderão ser aplicadas. As informações foram antecipadas ao Globo por integrantes do alto escalão e por técnicos ligados ao órgão.

O plano é anunciar a revacinação ainda nesta semana, mas ainda é preciso definir detalhes. Falta decidir por exemplo, se essa etapa da imunização será chamada de “quarta dose” ou de “segunda dose de reforço”. O ministério finaliza nota técnica para orientar a conduta de estados e de municípios na administração da quarta dose. Assim que o documento for publicado, idosos já poderão recebê-la. 

"A gente fazendo a publicação (da nota técnica), já começa a valer. Nós temos vacinas (para a quarta dose), não faltam no nosso país", afirmou a secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 (Secovid), Rosana Leite de Melo.

A pasta pode enviar remessas adicionais de vacinas para a quarta dose se não houver estoque suficiente nos estados. Ao todo, o ministério dispõe de 364 milhões de doses de vacina contra a Covid-19, entre contratadas e já recebidas, para 2022.

Ao GLOBO, interlocutores citaram estudos internacionais que apontam que a quarta dose aumenta de cinco a 20 vezes o número de anticorpos contra o coronavírus. A análise feita pelo ministério também considerou o atual cenário epidemiológico, que inclui a alta taxa de transmissibilidade da variante Ômicron.

A decisão se baseia em dados apresentados pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI-Covid) na última sexta-feira. Técnicos consultados pela reportagem apontaram tendência de queda na proteção de idosos dessa faixa etária, com “discreto” aumento no risco de internação por Covid-19 para o grupo. Além disso, também há estudos de Israel e do Reino Unido.

Assim como para a dose de reforço, a pasta não deverá indicar a CoronaVac para a quarta dose diante da menor produção de anticorpos contra o coronavírus. Países com Israel, Chile e França já adotaram a quarta dose.

Como O GLOBO revelou, a quantidade de mortes de idosos a partir de 60 anos por Covid-19 disparou mais de seis vezes de dezembro — com 1.946 óbitos, menor nível desde março de 2020 — a fevereiro. Considerado o pico da Ômicron, o mês viu a doença ceifar 12.640 vidas dentro dessa faixa etária. O montante remonta ao patamar de julho do ano passado.

O levantamento publicado no último domingo reuniu números de casos graves e de óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) — na qual a Covid-19 se inclui — dentro do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), gerenciado pelo ministério. A partir disso, registros confirmados para a doença provocada pelo coronavírus foram filtrados.

Integrantes do ministério se reuniram nesta terça-feira para analisar os últimos dados sobre a quarta dose, conforme antecipado pelo GLOBO. O tema voltará à discussão da CTAI-Covid na próxima sexta-feira e uma possível ampliação da quarta dose para menores de 80 anos não está descartada.

Após Botucatu, São Paulo anunciou a medida na última semana para o público a partir de 80 anos enquanto o Ministério da Saúde ainda avaliava a possibilidade. Na capital, a idade mínima cairá para 70 anos a partir do próximo dia 29. Já Mato Grosso do Sul estendeu a segunda dose de reforço para idosos que têm pelo menos 60 anos, além de ter incluído os profissionais de saúde, considerados de grupo de risco por estarem mais expostos ao vírus.

A quarta dose está no centro de uma disputa política ao ser anunciada previamente por locais como o estado paulista, que costuma rivalizar com o governo federal no tocante à vacinação. Queiroga afirmou ao GLOBO na semana passada que “decisões (como essa) deveriam ser tomadas de maneira homogênea”, isto é, com base em recomendações da pasta.

Até o momento, a pasta liberou a quarta dose para imunossuprimidos — pessoas com câncer, HIV/Aids ou transplantadas, por exemplo — a partir de 12 anos. O ministério chegou a não recomendar a aplicação na população geral em nota publicada em fevereiro. À época, a justificativa era que faltavam evidências mais sólidas acerca da efetividade.