Olinda

Após chuvas fortes, moradores do entorno do canal do Fragoso reclamam da sujeira

Entre os moradores da região, o sentimento de abandono é coletivo

Canal do Fragoso, em Olinda - Melissa Fernandes/Folha de Pernambuco

Localizado no bairro de Jardim Fragoso, em Olinda, o canal do Fragoso amanheceu, nesta quarta-feira (23), repleto pela cobertura verde de baronesas, um sinal claro da poluição de suas águas. Apesar de passar por obras desde 2013, o canal é foco de críticas dos moradores da região, que expressam um sentimento coletivo de abandono.

Morando próxima ao canal há 50 anos, a dona de casa Marileide de Farias, 57,  reclama da costumeira sujeira do local: “É sempre assim, sempre sujo. Tem tudo que não presta, lixo, móveis, animais mortos, tudo. Sempre na época de chuva, as pessoas vem limpar, mas no verão que é bom, nada”.

Dona Marileide explicou que por causa da quantidade de sujeira no canal, quando a chuva chega, a população já sabe que deve se preparar para as inundações. “Eu tive que fazer um puxadinho lá em cima da minha casa pra quando eu ver a chuva, subir logo. É muita tristeza, quando você vê as casas, todas tem um puxadinho em cima. O canal transborda todas as vezes”, disse ela.

Apesar das grandes chuvas da madrugada de segunda-feira (20) para terça-feira (21), o canal do Fragoso não transbordou desta vez, mas criou um grande alerta na população.

“Quando chove e o canal transborda, ninguém passa, tem que vir bombeiro para socorrer. O pessoal ontem já começou a tirar os carros das garagens e colocar em cima das pontes, que é mais alto, todo mundo com medo. Essa chuva de ontem não encheu, mas a gente está na espera porque sabemos que vai encher”, contou Maria Francisca, outra moradora da região. 

Maria disse ainda que já começou a se preparar para a possível inundação do canal, que acontece parte por causa das fortes chuvas, parte pela quantidade de lixo dentro do canal. “A gente sobe tudo em casa, quem tem carro coloca na ponte ou bem no alto de uma rua porque quando enche, cobre até carro”, relatou. 


 

Segundo os moradores, a limpeza do canal é realizada esporadicamente, "cerca de três vezes ao ano", e que essa quantidade não supre a necessidade de retirada de resíduos do local. 

A Prefeitura de Olinda, no entanto, afima: "O trabalho de limpeza e desassoreamento do local é realizado pelo município sistematicamente". 

“Eles vem uma vez e acabam ficando uns quatro, cinco meses sem vir, então o canal fica sujo e acaba criando essas plantas, uma pasta. Eu gostaria que o canal fosse limpo e que a obra tivesse sido feita”, afirmou Walter Santos, músico que habita nos entornos do canal por 29 anos. Mesmo com a limpeza, ele diz “Está sempre igual, sempre sujo”. 

O canal passa por obras há nove anos, e as responsabilidades são diferentes. Cabe à Prefeitura de Olinda, informou o município, o trabalho no trecho entre a avenida Chico Science, nos Bultrins, até a Marcolino Botelho, em Casa Caiada, o que compreende o perímetro do Canal Bultrins-Fragoso.
 

 

A conclusão da obra, prevista para dezembro deste ano, visa a resolver o problema de escoamento de água da chuva, que afeta os moradores dos bairros dos Bultrins, Jardim Fragoso, Bairro Novo e Casa Caiada.

A gestão da cidade afirmou ainda que, quando concluída a obra, orçada em R$ 7 milhões, fruto de convênio com o Ministério do Desenvolvimento Regional, o trecho Bultrins-Fragoso, que tem aproximadamente 1 km de extensão, terá 1 km de via pavimentada e 1,2 km de ciclovia.

O restante da obra está sob responsabilidade da Companhia Pernambucana de Habitação e Obras (Cehab), do Governo de Pernambuco. A Cehab afirmou em nota à Folha de Pernambuco que o atraso na obra se dá principalmente pela grande quantidade de imóveis que precisam ser desapropriados e a demora para o processo na justiça e demora de liberação de recursos por parte do Governo Federal. 

Ainda em nota, a Companhia relatou a não liberação de verbas para a realização da terceira fase da obra por parte do Governo Federal, o que ocasionou na utilização de recursos próprios do Governo Estadual. 

Foi dito que a ordem de serviço para a realização da fase três foi dada neste mês de março e os trabalhos já foram iniciados. Sobre prazos para a finalização total da obra, a Cehab informou que não pode determinar um prazo por falta da liberação de recursos do Governo Federal.

Com a obra sendo concluída, o canal do fragoso passará por um aumento em sua capacidade e uma lagoa de retenção também será construída, medida que significará um aumento de 30% da capacidade total de retenção de água no canal.