Cruz Vermelha denuncia piora da situação humanitária na Colômbia
Citando estatísticas oficiais, o CICV também lamentou o deslocamento em massa de quase 53 mil pessoas no ano passado
Em 2021, a Colômbia registrou o maior número de vítimas por artefatos explosivos, deslocamentos, confinamentos e desaparecimentos desde que assinou a paz em 2016 com os guerrilheiros das FARC, denunciou nesta quarta-feira (23) o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
"Estamos preocupados com a tendência de aumento que observamos no número de vítimas e o aprofundamento de diferentes fenômenos, principalmente porque nos primeiros meses deste ano a situação humanitária na Colômbia continuou piorando", disse Lorenzo Caraffi, chefe da agência na Colômbia, citado no relatório anual do organismo.
O CICV registrou 486 vítimas de artefatos explosivos, 53% civis, incluindo 40 menores de idade. Do total de afetados, 50 morreram.
O número global supera os 392 casos registrados em 2020, até então o pior número registrado, em 14 dos departamentos mais atingidos pelo conflito interno que persiste após o desarmamento dos rebeldes marxistas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
Outras organizações - que se sustentam principalmente com o narcotráfico - ocuparam os espaços deixados pela guerrilha, devido à chegada tardia do Estado, segundo investigações independentes.
Minas antipessoal e outros artefatos explosivos são usados por forças ilegais para proteger plantações de drogas e armas.
Citando estatísticas oficiais, o CICV também lamentou o deslocamento em massa de quase 53 mil pessoas no ano passado, "representando um aumento de 148% em relação a 2020".
Em cidades afastadas que foram palcos do fogo cruzado, cerca de 45.000 camponeses foram forçados a se confinar, 60% a mais do que no período anterior.
Além disso, no desenvolvimento de seu trabalho humanitário, a organização "documentou a cada dois dias, em média, um novo caso de desaparecimento relacionado a conflitos armados e violência", o número mais alto em cinco anos.
Meio século de conflito armado deixou cerca de 120 mil desaparecidos na Colômbia, quase quatro vezes mais do que as ditaduras da Argentina, Brasil e Chile juntas no século XX.
"Esses números são dolorosos e mesmo assim não refletem o medo, a incerteza e a desesperança que milhares de pessoas experimentaram devido aos conflitos armados na Colômbia", lamentou Caraffi.
Durante a apresentação do relatório aos jornalistas, Caraffi alertou que "em 2022 o panorama pode ser ainda mais complexo do que no ano passado".
Segundo o chefe da agência humanitária, nos primeiros dois meses de 2022 foram registrados 25% do total de vítimas por artefatos explosivos documentados em 2021.
“Vemos uma continuação dessas tendências e notamos uma aceleração nos primeiros meses de 2022”, afirmou.