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Ribeiro diz que denunciou pastores à CGU, mas se contradiz sobre pedido de Bolsonaro e igrejas

Ministro afirmou que recebeu religiosos a pedido do presidente; em outra entrevista, disse que presidente nunca pediu nada

Ministro da Educação, Milton Ribeiro - Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, afirmou nesta quarta-feira (23) que recebeu os lobistas Gilmar Santos e Arilton Moura a pedido do presidente Jair Bolsonaro. De acordo com o ministro, a Controladoria Geral da União investiga uma possível “prática de pedidos e intermediações”.

Milton Ribeiro também afirmou que o chefe do Executivo o ligou pouco depois da divulgação do áudio pela “Folha de S.Paulo” e o garantiu que ainda tem confiança na sua atuação.

— Eu recebi dois pastores a pedido do presidente. Isso está bem claro. E aí que eu os conheci. Ele pediu para receber uma vez, e eu o fiz, para apresentar a mim, eu recebi normalmente, como eu recebo outros. Mas não é só o presidente que indica pessoas para eu receber. Eu recebo pedidos de parlamentares, governadores, que pedem para eu receber determinadas pessoas que têm algum pleito com a educação - afirmou em entrevista à CNN.

Pouco depois, dessa vez em entrevista à “Jovem Pan”, o ministro se contradisse ao que afirmou mais cedo e destacou que o presidente Jair Bolsonaro nunca teria lhe pedido nada. 

— Na verdade, o que uma mídia mais torta procura fazer é a conexão com o senhor presidente da República. O presidente nunca me pediu nada, absolutamente nada. Nunca pediu “receba aí fornecedor tal”, “receba aí o empresário tal”. Isso eu falo publicamente, porque minha natureza não é de mentira — afirmou.
 

De acordo com o ministro, a Controladoria Geral da União investiga a seu pedido uma possível “prática de pedidos e intermediações” envolvendo, pelo menos, Arilton Moura. Milton Ribeiro diz que soube de uma conversa, e depois por uma denúncia anônima, da possível atuação dos pastores e pediu ao ministro da CGU, Wagner do Rosário, que tomasse providência.

— Eu nunca soube disso (negociações). Jamais concordaria com isso. Tanto é verdade que eu, quando lá em agosto de 2020, eu fui numa determinada cidade e ouvi algum comentário dessa natureza, e eventualmente depois eu recebi uma denuncia anônima sobre uma possível prática desse tipo de pedido e intermediação, eu reuni o meu gabinete e conversei com meu secretário executivo, e pedi que ele reduzisse a termo oficial um documento, está claro que foi a meu pedido. Em agosto do ano passado, marquei uma reunião com o ministro da CGU. O que ele fez? Eu fui lá, entreguei esse documento, e pedi que ele tomasse as providências. Ele me disse que ia instaurar investigação sigilosa. [...] ele chegou a respeito do nome de alguns, entre eles o nome do Arilton — disse à CNN.

Mesmo com o inquérito aberto, Ribeiro continuou se encontrando com os pastores. Segundo ele, os encontros não poderiam ser interrompidos para não causar nenhum tipo de alerta.

— Um dos pedidos que me fizeram lá na CGU, foi que eu não falasse que eles estavam sendo investigados. Uma das coisas que eu não podia impedir era exatamente poder recebê-los. Eu simplesmente fiz isso, recebi, mas obedecendo orientação para não alterá- los. Imagina se eu simplesmente parasse de atender.

Ribeiro também deu duas explicações diferentes, nas duas entrevistas, em relação ao suposto pedido de contrapartida feito a prefeitos no áudio. Na ocasião, o ministro disse que os mandatários poderiam retribuir com a “construção de igrejas”. À CNN, o ministro afirmou que estava falando “em termos de presença das pessoas no culto” e que em momento nenhum pediu apoio financeiro.

—  Em nenhum momento eu peço que haja um apoio financeiro. Quando eu falo da construção da igreja não estou pedindo apoio financeiro. Estou falando em termos de presença das pessoas no culto, coisas do tipo, em nenhum momento fiz esse tipo de afirmação.

Já à “Jovem Pan”, Ribeiro admitiu que a construção de igrejas depende da atuação de prefeitos, sobretudo em relação a questões burocráticas, como a emissão de alvarás.

— Pode olhar que não há nada que eu fale que eu estou pedindo dinheiro. Na verdade, todos os pastores que me ouvem sabem que a construção de um templo depende de prefeito, depende de autorização, alvará, e eu falo exatamente isso e eu tenho certeza que os prefeitos entenderam muito bem. Jamais iria reunir um grupo de prefeito e pedir para que eles ajudassem na construção. Comprar tijolo, cimento. Posso ser inexperiente, mas isso eu jamais faria — disse o ministro.

Milton Ribeiro disse que o presidente Jair Bolsonaro o ligou pouco depois da divulgação do áudio pela  “Folha de S.Paulo”. De acordo com ele, Bolsonaro disse que não era “nada demais” o conteúdo da gravação e que, até o momento, estava “gozando da confiança dele”.

— O presidente me ligou em uma das viagens e  falou “Milton, eu não vejo nada demais no que você falou no áudio", e que eu estava até o momento gozando da confiança dele — disse.